Foi você mesma quem me disse que eu tenho essa mania de não olhar dentro dos olhos das pessoas quando falo com elas, e eu só fui me dar conta mesmo quando me peguei fugindo dos seus enquanto dizia exatamente isto. E quanto mais eu pensava nisto, mais eu reparava o quanto era verdade, conforme eu me esquivava dos olhares dos outros cada vez que falava com alguém a ponto de até mesmo olhar para qualquer outra direção que não fosse o rosto da pessoa na minha frente. O mais engraçado mesmo é que a primeira coisa que percebi em você, antes que sequer existisse em meu mundo, foi o seu olhar. Havia alguma coisa no seu olhar que me atraia e ao mesmo tempo me fazia virar o rosto, como se não conseguisse contemplar e absorver tamanha beleza de uma vez só. E quando sentisse saudade daquele olhar, tinha que avistá-la sem alarme para que não virasse em minha direção e me assustasse novamente. Pelo visto eu já a amava de longe, mas ainda não sabia como encarar isto. Não que agora seja melhor; eu ainda não sei lidar com a realidade de que não consigo parar de pensar em você e o seu olhar, e tremo só de imaginar você olhando para mim hoje e no que você poderia estar pensando sobre mim.
E então eu me lembrei de algo ainda mais marcante do que o seu olhar; o olhar da última mulher que me fez sentir tudo isso e muito mais, e de como eu covardemente não consegui encará-la de volta enquanto nos despedíamos. Ela me encarava fixamente com olhos ríspidos e grosseiros enquanto eu fazia de tudo para tentar me assegurar em qualquer outra direção, mas eu sabia que ela continuava me observando, apenas esperando que em um momento de fraqueza eu me virasse e ela pudesse finalmente me destruir por completo em, literalmente, um piscar de olhos. Ironicamente, foi a última vez que a vi. Ela continuou em minha vida mas de maneiras mais distantes e confortáveis, porém não menos dolorosas quanto eu esperava. Sua voz ainda causava com que minha ansiedade tomasse controle do meu corpo e fizesse com que o nervosismo reinasse sobre mim. Até que enfim nos despedimos uma vez mais, mas ainda não conseguia enfrentar a lembrança do seu olhar. Foi aí que eu percebi que dela em diante, eu parei de me concentrar nos olhares das pessoas. E quando alguma mulher me chamava a atenção, só olhar para ela era como olhar para o sol; caso eu continuasse a tentar enxergá-la diretamente, poderia acabar cego.
Do tempo que passamos juntos lembro-me de como costumava tentar impedir que você derramasse lágrimas quando algo ruim lhe acontecia, ou apenas quando tinha um de seus próprios momentos de fraqueza que a fazia pensar que você não era boa o bastante para alguém ou para si mesma. Eu me lembro de sempre dizer que seus olhos eram belos demais para serem ofuscados por lágrimas que sequer valiam a pena ser derramadas, e por uma fração de segundos acho que você me adorou por isto. Mas o que eu queria – o que eu ainda espero – do seu olhar não era adoração ou gratificação pelas minhas palavras; era amor. Eu queria enfrentar meu medo e olhar fundo em seus olhos, as janelas da sua alma, e de algum modo conseguir me enxergar lá como alguém realmente importante para você. Alguém cujo qual você não poderia mais viver sem. Alguém com a mesma importância que você mesma passou a ter para mim, até mesmo quando eu nem te conhecia e a única lembrança que eu possuía era a do seu olhar penetrante, cativante, reluzente e sedutor. Tudo isso e muito mais, mas sempre com um pouco de medo em seus cantos, como se você mesma não se permitisse enxergar tudo aquilo que você é ou o quanto é importante para os outros ao seu redor. E quem sabe as mentiras e as falsas promessas não tenham sido os verdadeiros motivos para me afastarem de você, mas sim o seu olhar que não me deixava acreditar que eu poderia fazer mesmo parte da sua vida. A última vez que nos falamos e eu mergulhei em seu olhar, eu já sabia que seria a última. Porque naquele momento onde não havia mais ninguém a não ser eu e você, quando eu vi seus olhos na minha frente tudo o que eu podia pensar era o quanto eu realmente não acreditava mais em você ou nas coisas que dizia; apenas que seu olhar continuava dissimuladamente lindo, mas não o bastante para me manter acorrentado a ele.
E assim, eu desapareci da sua vista sem deixar rastros ou explicações. Mas ao me lembrar de você a imagem dos seus olhos continua a me cativar e me deixar assustado por tamanha beleza, mas que agora vem acompanhada pela minha frustração. Como alguém com olhos tão belos pôde me deixar tão cego? Ou era eu mesmo quem não queria enxergar que a possibilidade de que eu e você pudéssemos ser mais do que amigos e cúmplices de olhares era apenas uma visão? Eu ainda acho seus olhos lindos, mas agora fujo deles com a mesma determinação que costumava ter quando corria para vê-los. E pretendo deixar que minhas lembranças lentamente deixem meus olhos e meu coração porque já não tenho mais dúvidas; eu não quero mais vê-la. E acho que você não teria agüentado ouvir isto de mim olhando em seus olhos.
Ao som de: Open Your Eyes – Snow Patrol.
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