Acordei às 6h30 da manhã hoje. Talvez eu não devesse mais ir dormir pensando em você, se ao menos você não fosse a última coisa na qual penso em meu dia – para não dizer também, a primeira da qual me lembro quando acordo. Mesmo que eu quisesse tê-la de volta, faria diferença agora? Na verdade, acho que estou ficando bom em perder mulheres que nunca tive, ou então somos nós quem nos tornamos bons em fingir que nada aconteceu quando nos cruzamos no corredor. E talvez o motivo pelo qual eu fui embora e te deixei sem entender, seja o mesmo pelo qual você mesma nunca me explicou porque o único jeito de continuar do seu lado seria à distância. Mas quantas vezes eu te disse que não seria apenas mais um na sua vida?
Eu sinto saudade. Muita saudade, na verdade. Tanta saudade, que me mantém acordado enquanto eu deveria estar ocupado dormindo ou ao menos sonhando com qualquer outra pessoa, não importa se fosse possível ou impossível de tê-la. Mas continuar acordado por sua causa simplesmente não faz sentido, e isto está vindo de alguém que geralmente não gosta de ver sentido nas coisas que sente ou faz. E está chovendo lá fora, mas a tempestade que vive em mim parece mais agitada do que a água caindo na cabeça das pessoas na rua. Eu nem sei o que te diria se tivesse a chance, assim como não imagino o que você ainda deve estar pensando disso tudo.
Meus amigos dizem que você nem pensa mais em mim, porque se pensasse teria corrido atrás de mim. Mas você correu; depois de algum tempo já separados, e só não foi o bastante para me satisfazer. O que me faria feliz mesmo ainda é aquilo que eu já te disse várias vezes: ter você inteira. E para alguém cuja vontade de te ter inteira é tão grande, eu deveria ao menos passar mais tempo sonhando com isto. Em vês de estar aqui acordado, vendo o sol nascer e repensando minha decisão de ter expulsado você da minha vida sem a decência de uma explicação ou a honra de um adeus. Mas isso é só porque quando me lembro de você hoje, só os bons momentos me vem a mente.
A verdade, e algo que me frustra mais do que a vontade de te querer tanto, é que você também cometeu erros. Você só não os assumiu e o pior; antes de começarmos a fingir que não nos conhecemos, você fingiu que não entendeu nada e eu me tornei o culpado por ter ido embora sem motivo. Você sabe o motivo, e eu te odeio por ter feito o que fez. Infelizmente, você só me usou daquele jeito porque eu mesmo estava desesperado para ser importante para você. Desesperado para tê-la debaixo do meu teto, sob o meu cuidado, e que não importasse as circunstâncias, desesperado para que eu fosse o primeiro que você visse quando o dia nascesse. E que você gostasse de mim por isso.
Eu não deveria estar pensando nisso ainda. Pelo contrário, eu deveria estar dormindo. E eu gostaria muito de poder dizer que você roubou minha capacidade de sonhar com outras mulheres mais capazes de me fazer feliz, ou de se entregarem a mim por inteiras. Mas pensar em você é só o que me restou, e eu nunca imaginei que ver você todos os dias e fingir que nada aconteceu seriam tão... Bom, seja lá qual for a palavra, é o que está me mantendo acordado por todos esses meses. Tudo bem, não me preocupo. Quando for a hora certa, sei que meu sono chegará e logo estarei sonhando com outra pessoa. E enquanto esta hora não chega, acho que vou me esforçar mais para pensar menos em você. Porque se você diz que não sabe o motivo pelo qual eu fui embora até agora, e nem eu sei a razão de não ter sido mais próximo de você, então já não faz mais diferença. Agora são 7h45 da manhã. Boa noite.
Ao som de: Don't Think Twice, It's Alright – Bob Dylan.
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