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10 coisas que eu aprendi ouvindo sertanejo universitário

Por mais incrível que pareça, existe uma filosofia por trás de cada canção sertaneja que eu aprendi a ouvir pelos bares e carros com som alto pelos quais eu passei por Cascavel afora esse ano, e o mais surpreendente mesmo foi descobrir que eram filosofias que eu já conhecia, mas que eu só consegui realmente entender depois que eu parei para ouvi-las. E é por isso que agora eu preciso aproveitar que o ano está quase acabando para organizar tudo que aprendi para ter um pouco mais de noção em 2012, nem que seja pelo menos para conseguir acompanhar esse ritmo.

Lê Lê Lê: parece uma indecência irritante que contagia, mas o que realmente está se passando aqui é uma valiosa lição que muitas vezes nós, homens desprovidos de quatro rodas e um IDH forte o bastante para sobreviver à todas as baladas possíveis ao longo dos finais de semana e feriados, é que não importa se você tem um carrão, ou uma conta extravagante no banco, ou até mesmo uma certa boniteza de leve. Basta ter pegada, meu amigo, e mostrar mesmo que é no banco de trás de um carro – e abrir a porta de um carro com o bom manuseamento de um clips não é não difícil assim – é o que realmente importa para conquistar o coração de uma mulher. A gente só não percebe isso porque colocar isso em forma de "Eu sei fazer um lê lê lê" ficou idiota.

Abelha: aqui existe uma mensagem subliminar importantíssima que traduz com clareza sublime a base para um relacionamento feliz e duradouro. Quando ele, o sertanejo, diz que "Você só pensa em vingança e a sua segurança é dominar", fica evidente o quanto "joguinhos" para tentar manter o controle ou se vingar do parceiro quando as coisas não correm do jeito que você esperava são letais para uma relação. Mas claro, ninguém pensa nisso porque a metáfora utilizada aqui não traduz o real transtorno envolvido; quem iria pensar que ser picado por uma abelha poderia ser tão sério?

Efeitos: aqui está claro como o fim de um relacionamento pode ser difícil, especialmente quando a gente insiste em ficar relembrando os bons tempos. E por que a gente faz isso? Porque os efeitos daquela pessoa continuam nos afetando, ora. Só que não existe nenhum remédio que cure essa saudade – eeer, sertanejo, viu.

Pra ser perfeito: tai uma lição fundamental; quando é amor, a gente não inventa e o que é verdadeiro não acaba, só aumenta. Mas pra isso tem que ser só você e eu. E qual é o erro aqui? É seu mesmo, que não percebeu isso até mesmo quando copia e cola as frases da música pra publicar no Facebook.

Tá combinado: enquanto tem gente que não consegue esquecer, tem gente que não se apega e segue em frente com a mesma facilidade com a qual enche um copo de cerveja. E aí sai pras baladas e cria um "movimento" pra comemorar sua solteirice e o fato de que ainda não existe ninguém capaz de domar toda a sua irreverência. Só não percebemos isso antes porque, bom, estávamos muito bêbados na hora.

Seu astral: aí a gente inventa de ficar alucinando com a pessoa que a gente tanto curte e de repente ouve vozes como se fosse a própria pessoa mesmo, dizendo que a gente é tudo pra ela quando na verdade é o contrário. Tudo bem, todos nós já passamos por isso e continuamos ouvindo a música porque ela combina muito bem com a cerveja gelada do bar e a animação da galera que senta com a gente pra tentar nos animar.

Então valeu: agora, a gente devia mesmo prestar atenção quando a música não é agitada e dá pra ouvir a letra da música sendo lentamente gravada na nossa cabeça. Quando é música tema pra quem está tentando superar alguém então, é tiro e queda. Mas a gente não ouve porque nessa hora estamos ocupados afundando na fossa que ela e o fundo do nosso décimo primeiro copo de cerveja nos deixaram.

Não precisa: a Paula Fernandes tentou, e a música ficou repetindo nas estações de rádio por muito, mas muito tempo, mas ninguém captou bem a mensagem. E eu disse; se a música é lenta, é melhor prestar atenção porque a lição é "braba". O que a Paula tentou dizer é que a gente afasta as pessoas que a gente mais quer perto por medo ou insegurança, quando na verdade tudo que a gente tinha que fazer era admitir que sim, eu preciso de você. Mas sabe por que a gente não ouviu? Porque a Paula Fernandes, além de gostosa, canta bem demais, e a gente se distraiu com o conjunto da obra em ação.

Balada boa (Tchê Tchererê Tche Tchê): quem nunca dançou ou se remexeu loucamente ouvindo essa música, definitivamente não foi feliz esse ano. Quem ainda não repetiu o "Gusttavo Lima e você!" que ele manda no fim do refrão então, mais sorte em 2012. A lição a ser aprendida aqui é que a vida não tem sentido (vide o "tchê tchererê tche tchê), mas que a gente precisa aproveitar o máximo que pode. Eu aposto que cada um tem suas razões para não ter percebido isso antes, mas a minha em particular é bem simples: que mãe é essa que batizou esse Gusttavo com dois "t" no nome?!

Amanhã sei lá: a lição mais importante eu precisava guardar pro final, porque foi só depois que eu aprendi tudo que podia com essa música é que eu passei a ver não só a nação sertaneja-univerisária como a minha própria vida com outros olhos. E no fundo, se baseia na mesma filosofia sobre a qual eu tento viver e escrever há 3 anos, desde que cheguei a essa terra perdida do Oeste do Paraná: viva o hoje. Não dá pra se preocupar com o que o amanhã vai trazer, porque nós não chegamos lá ainda. A sabedoria só não se espalhou mais porque o Sr. Teló, o filósofo em questão, também foi o infeliz autor de "Ai Se Eu Te Pego", e acabou perdendo o respeito de muitos seguidores com isso.

Depois de toda a sabedoria dançante que eu aprendi esse ano, eu só espero que os nossos novos filósofos consigam ser mais objetivos em 2012. Mas acho que ainda não temos motivo para nos preocupar; em caso de emergência, procure a discografia de Mr. Catra – esse cara sabe, hein.

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