Você não
pode prevenir o que não pode prever. Porque não importam os seus
planos, se o dia está corrido, se está faltando tempo na sua rotina, se existem
mais problemas do que esperança, se você precisa passar no mercado depois do
trabalho antes de ir para casa ou se você perder aquele ônibus vai ter que
esperar quarenta minutos por outro; o acaso vai te encontrar, e vai te fazer
perceber que nós não temos controle algum sobre esta vida. Nós tentamos, e nos
esgotamos muito por isto, mas é o que acontece. Se você precisar dar um jeito
de passar no mercado, você o fará mesmo que apavorado e sem fôlego. Se perder
aquele ônibus, você vai ter que esperar pelo próximo por mais que o tempo
perdido te machuque. E se você se apaixonar, vai ter que admitir isto mais cedo
ou mais tarde porque não há mais jeito; o sorriso dela é o motivo do seu, e é
por ele que você espera quando chega em casa e todos os dias agora são motivo
de comemoração.
Quanto a mim, 4 de Abril era só 4 de Abril, e
a rotina diária se repetiria sem grandes eventos ou menções memoráveis para as
próximas épocas. E como eu estava estressado naquele dia; com o trabalho, com
os deveres da faculdade, com a rispidez das pessoas e a frustração crescente
que eu continuava a carregar a cada dia – exatamente pelo fato que parecia
estar fadado àquela rotina sem grandes eventos ou menções memoráveis para o
futuro. E foi exatamente com este estado precário de espírito, olhos cansados,
corpo doído e coração partido que eu a encontrei. E do momento que eu a conheci
em diante, a vida ganhou cor. A rotina saiu dos trilhos, os pensamentos
passaram a ter rosto e nome próprios, e o coração... O coração parecia
aliviado, na falta de um sentimento mais apropriado para sentir. Não que ainda
fosse muito bom em reconhecer sentimentos; estava cansado e ferido, mas seguia
em frente porque não havia outro caminho, porém sempre lançando alguns
rascunhos de esperança no olhar ao horizonte, acreditando por cinco segundos
que a vida poderia mudar. E mudou.
Passados alguns dias, minha surpresa com ela
ainda não havia esfriado, mas não haviam dúvidas; 10 de Abril seria apenas 10
de Abril e nada mais. O corpo continuava cansado, a esperança cada vez mais
arrastada, e o coração daquele jeito; cambaleando a ponto de parecer que não
iria resistir por muito tempo ainda. Mas no fim daquele dia, quando eu percebi
que não havia mais nada a perder a não ser meu nome e a parte da alma que me
sobrou (a parte que não distribuí em vão para tantos outros corações, que se
apoderaram do que lhes era útil e partiram sem aviso ou a cortesia de uma
explicação plausível), eu decidi que algo precisava mudar. Algo dentro de mim
quebrou, algo além do meu coração, e como o despertar de uma ressurreição eu
corri atrás exatamente do que eu suspeitava que poderia trazer o meu fôlego de
volta. Eu a procurei novamente, mas com total intuito de que ela voltasse para
mim para ficar. E então o extraordinário aconteceu: ela voltou, e ela quis
ficar.
Algumas pessoas se descuidam a ponto de
perderem a si mesmas, e deixam coisas que consideram superfulas (como
esperanças, sonhos e aquela velha teoria cansada e desgastada sobre amor) para
trás, acreditando que assim serão capazes de seguir adiante mais rápido para
encontrar o que tanto procuram, mesmo sem saber o que é que lhe fará sentir
realmente pleno ou até mesmo feliz. E então o acaso chega para provar que de
nada adianta desistir ou reclamar, ou tentar voltar para trás – para o familiar
– porque está cansado de falsas surpresas ou pior, de nenhuma surpresa. Quem
manda nesta vida não somos nós nem nossos patrões ou compromissos; é o acaso
que vai nos proteger e fazer acontecer o que tiver que acontecer quando o
momento for certo, e quando você estiver pronto. E quando é o momento certo?
Esta é a beleza do acaso: ele não avisa com antecedência quando você estará
pronto, ele simplesmente aparece na sua frente e te faz perceber que a hora é
agora, que não há mais espaço para medo neste coração, e que quando eu parecia
exausto, confuso e perdido, era você quem eu procurava. E quando o 15 de Abril
veio, eu descobri que estava certo.
Você não pode prevenir o que não pode prever.
Ainda bem. Pior do que sentir-se desamparado pelo destino, seria perdê-lo por optar
pelo caminho que achamos que é o certo. E falando por experiência própria; eu
estive perdido a maior parte do tempo e não faço ideia de como cheguei até
aqui, ou de como encontrei você. Eu só agradeço e sorrio, e às vezes até dou
risada.
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