Se eu
precisasse definir a mim mesmo em uma palavra, esta palavra
provavelmente seria “bagunça”. Não
estou me referindo a questões de auto-estima ou auto-imagem propriamente ditas,
mas sempre considerei os caminhos que tomei na vida, as decisões que fiz, o
modo como interajo com as pessoas e os vários desdobramentos que meus
pensamentos costumam gerar sempre foram um pouco, bem, tortos. Por isso sempre
me surpreendo quando alguém faz questão de comentar sobre o modo como consigo
organizar a casa depois de uma festa, ou a habilidade momentânea que toma conta
de mim quando preciso entregar algum trabalho em cima da hora – e nem vamos
comentar sobre meus grupos de estudo de última hora baseados em nada mais nem
menos do que sorte, instinto, coragem e sem-vergonhice. Minha casa pode até
estar em ordem, mas minha cabeça é definitivamente regida pela teoria do caos.
Tenho momentos de tédio profundo e crises
existenciais que me fazem questionar toda a razão do universo, e em questão de
segundos posso me tornar ridiculamente criativo a ponto de acreditar que as
soluções para todos os meus problemas estão ao meu alcance – mas aí eu me
distraio com alguma outra coisa, o barulho dos carros lá fora ou algum estralo
estranho dentro de casa, e esqueço de anotar qualquer coisa que poderia me
ajudar a salvar o mundo. Bom, acontece.
Mas apesar de tudo, minha bagunça é
funcional. A desordem dos meus devaneios ainda é capaz de servir como ombro
amigo, ou de tocar alguns corações partidos com uma quantidade surpreendente de
compreensão que vai além do humor inconstante e os disparos de ironia e
sarcasmo que às vezes antecedem a minha verdadeira irracionalidade. E talvez
seja por isto, também, que eu tenho o dom de não encontrar as coisas que
procuro quando quero. Pensando bem, tudo que eu sempre quis na vida encontrou
seu caminho até mim quando eu estava distraído com alguma outra coisa
provavelmente bem menos importante, enquanto quanto mais eu pareço me focar em
algo que acredito que preciso, a linha de chegada parece mudar de lugar cada
vez mais. Tudo tem a sua hora; seja para a felicidade, seja para a lógica da
minha ineficaz linha de raciocínio. Estou sendo protegido pela minha inconstância,
e nem tenho noção disto.
Foi através da minha bagunça, e os problemas
que arrumei por causa dela, que algumas das melhores coisas do mundo agora
fazem parte do meu cotidiano. Desde os amigos que fiz enquanto bêbado, os
lugares que visitei quando nem prestei atenção no caminho, as conversas
definitivas que se iniciaram depois de um “oi” mal dado, até os sonhos que
conquistei quando nem considerava mais as chances de que eu poderia
alcançá-los. Tudo isso e muito mais sem um pingo de bom senso ou alguma razão
sensata que explique. Sem planos ou até mesmo noção de conseguir explicar ao
certo como cheguei até aqui. Honestamente, confesso que sobrevivi grande parte
da minha vida com base em “Sei lá...”,
“Vai que, né...” e “Por que não?”. E fui em frente, sem
saber aonde iria chegar. Fui torto, mas deu certo.
E acho que ainda funciona – senão, porque
você ainda estaria aí, tentando acompanhar toda a minha anarquia?
*------------* é torto mais funciona, acho que ser uma bagunça é bom, ruim deve ser, ser organizado :)
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