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De volta pro amanhã


Eu me lembro da última vez em que realizei o tal ritual de sentar, pensar, sentir e deixar as palavras que viessem em mente serem derramadas em uma folha virtual, sempre com esperança de que elas fizessem algum sentido e, quem sabe, até ficassem bonitas o bastante para poderem ser compartilhadas com outras pessoas que poderiam sentir o mesmo. Porque era bom conseguir transformar uma agonia em compreensão, ou um olho encharcado de lágrimas em um ombro amigo, mesmo que abstrato e à distância. Mas eu parei.
Há dois anos eu decidi que falava muito, escrevia muito, até sentia muito, mas vivia pouco. Escrevia intensamente como quem já havia tido todas as experiências possíveis e sentiu todas as emoções que alguém poderia imaginar, quando na verdade arrastava uma vida escancaradamente vazia. Como um pequeno príncipe um dia disse, era tudo muito bonito, mas sem muita utilidade. E como viver leva tempo, esforço, paciência e companhia, eu decidi que não poderia dar conta de sair por aí mundo afora viver o máximo que podia, e ainda voltar e descrever tudo com o mesmo tom filosófico ou as mesmas metáforas avoadas que eu costumava usar para sobreviver. Eu estava perdido e as palavras não pareciam mais capazes de me mostrar o caminho a seguir. Eu precisei sair e parar de pensar tanto em como descreveria algo, para realmente viver algo.
Só que, dois anos depois, eu achei que não me sentiria mais tão perdido a ponto de precisar procurar uma base para recuperar o fôlego e descansar um pouco antes de continuar seguindo em frente. Mas deu no que deu, não é mesmo, Igor? E aqui está você de novo, exatamente aonde tudo começou. Admito que tenho algumas experiências a mais para compartilhar desta vez, sem contar algumas dores no coração que foram mais profundas do que eu jamais havia imaginado que poderiam acontecer. Dói, faz chorar, às vezes faz até repensar seu dia e até a sua vida, mas a literatura que vem disso... Ah, faz quase valer a pena. Isto é, aquela ideia de um livro surgir ainda não se perdeu; só ficou jogada pelos cantos, resistindo ao tempo, aos desapegos e a correria do dia a dia com base em promessas de que um dia...
Bom, eu voltei. Quer dizer, eu acho. Mas enquanto não tiver certeza, talvez seja melhor continuar por aqui. Talvez as palavras, ou alguém que invista seu tempo para revisá-las, possa me apontar o caminho a seguir. Enquanto isso, lá vamos nós de novo. Eu não disse que iria adorar o amanhã a toa.

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