Eu
saí de casa há quatro anos, com uma mochila nas costas e uma mala
em cada mão, e uma vaga noção de recomeço pairando sobre os meus pensamentos.
Era hora de seguir em frente, de crescer, de me colocar à prova do mundo real e
vencer, porque eu definitivamente fui criado para vencer e ser feliz. E antes
de colocar o pé para fora do apartamento que eu chamei de casa pela última vez,
eu te abracei e disse, “Não se preocupe, você fez um bom trabalho...”. Claro
que eu tive minhas dificuldades, mas não é porque você não estava presente do
meu lado, que não se fez presente através de, bom, presentes e mais presentes
para que eu transformasse minha nova cidade e o novo apartamento aonde eu
estava dormindo agora em um lar digno o bastante para que eu pudesse recebê-la
quando viesse me visitar para as festas de fim de ano; sabe, aquela época do ano
em que ficar com a família não é só um costume, mas sim tradição.
Quatro anos depois, eu ainda estou aqui. Nós
não nos vemos todos os dias, mas tentamos ao máximo nos manter atentos à vida
um do outro das maneiras que podemos: brigando pelo telefone, fuçando no
Facebook, repassando SMS de correntes nem que seja só para mostrar que estamos
pensando um no outro, e que independente do tempo que já faz, a saudade é a
mesma e o medo de pisar fora da sua casa e viver longe da sua proteção logo
volta para me lembrar de que eu estou mesmo aqui, no mundo real, e que talvez
ter que ouvir todas as noites para sair da frente do computador para jantar com
a família, levar o casaco e um guarda-chuva quando saísses porque o tempo
estava fechando, e admitir que você estava certa quando a tragédia inevitável
das minhas escolhas impensadas me alcançava, nada disso era tão ruim assim.
Nós não moramos mais juntos, mas você está
aqui em toda parte; nos porta-retratos na estante, nas mensagens no celular, no
espaço extra no guarda-roupa que você criou ao jogar fora tanta tralha que eu
guardava pra que mesmo?, nos cinquenta tons de panos de prato que você insistiu
que eu tivesse porque era importante ter aquilo em uma casa, nos móveis que
você comprou porque eu precisava de novos, nas roupas que você me deu por que um dos seus principais medos era que eu
me vestisse mal e nenhuma mulher me quisesse porque eu estava mal-acabado... E
eu também estou aí, na forma das taças de cristal que eu não podia mexer mas
que faziam eu me sentir melhor ao beber Coca-Cola nelas em dias cinzentos, nos
DVDs que eu ainda não levei embora porque você insiste que vai assistir (mas
nunca vai), na rede que fica guardada no guarda-roupa mas sempre reaparece
quando eu visito meu quarto antigo e a penduro na parede e crio o barulho mais
insuportável de todos quando resolvo ficar lá deitado por tardes inteiras, e,
claro, nos porta-retratos na sua estante também...
Eu não pude estar presente no seu dia, mas o
maior presente de todos eu gosto de acreditar que eu já te dei: a ridícula
alegria de estar certa, quando eu disse há quatro anos antes de sair de casa,
que você fez um bom trabalho. Feliz dia das mães... Sirva Coca-Cola Zero na sua
taça de cristal mais bonita e comemore comigo, mesmo que distante.
Eu te amo, mãe. E não podemos nos esquecer da
vovó, é claro.
Ao som de: Slipping Through My Fingers – Mamma Mia!
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