Se
o amor é como um tango argentino, um “ex”
é como um parceiro de dança – alguém com quem você possuía ritmo, paixão,
sincronia e habilidade de repassar coreografias num piscar de olhos – que te
derrubou, quebrou seu tornozelo, e tornou impossível que você confiasse o
bastante para segurar sua mão e voltasse a dançar. Quanto a mim, meu tango
encontrou sua trágica e decisiva última nota em 16 de Fevereiro de 2013. E como
todo tango argentino costuma ter, a última nota também foi a mais provocante e avassaladora,
mesmo que tenha sido seguida por uma marcha fúnebre, suor e lágrimas por uma
dança que possuía potencial para durar todo o espetáculo de uma vida inteira.
Mas ela escorregou, e não haviam violinos o suficiente para contemplar toda a angústia
da minha queda.
Eu ainda me lembro bem dos nossos primeiros
passos na direção um do outro, como um ensaio geral de um amor que buscava o
ritmo certo a seguir por anos, mas nunca realmente encontrou música suficiente
para ganhar vida. Aqueles olhares repletos de desejo proibido e tentação que
fazia o sangue borbulhar foram o que finalmente causaram o inevitável convite
para dançar, dando à melancolia que pairava no ar um novo significado. Talvez
se não tivéssemos pisado tanto nos pés um do outro, nosso tango poderia ter
dado luz a uma valsa sob o luar, mas não... Em vês disso, demos as mãos e
rodopiamos escandalosamente em direção ao inferno, da onde eu quase não escapei
inteiro, e ainda conheço a coreografia para provar.
Quando o amor te desampara e te derruba,
voltar a dançar pode ser assustador. Você pode se sentir inseguro quanto a
conseguir encontrar ritmo com outra pessoa, ou até mesmo a música e a confiança
dentro de si para dar um passo a frente novamente e reencontrar seu lugar na
pista. Somente quando você se sentir capaz o bastante para enfrentar o tango de
novo e mostrar que sua paixão é maior do que qualquer choro de violinos, é que
o ritmo irá render-se a você e um novo convite para segurar a mão de alguém
aparecerá para que você siga adiante.
Então eu deixei meu tango não correspondido
para trás e, enquanto não encontrava uma nova parceira, aprendi a dançar
sozinho e a contemplar minhas quedas como uma oportunidade para aprender o que
realmente significa conduzir alguém neste ritmo provocante, desafiador e
emocionante do amor, que pode ser coreografado de várias maneiras. Depende do
ritmo de cada casal, e a confiança que possuem um no outro para enfrentarem
passos incertos, mudanças inesperadas de músicas, e melodias que não podemos
prever, enquanto insistimos em dançar conforme o modo aleatório que a vida
costuma tocar.
Não importa o que aconteça, nem quem te
derrubou ou quanto tempo você precisa para levantar, nem a música que estava
tocando. Não pare de dançar, mesmo que esteja sozinho. De um jeito ou de outro,
a vida sempre fica melhor com uma orquestra.
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