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O efeito Scherzinger III


   Todo mundo quer um amor pra vida toda. Quer dizer, aqui e agora falo apenas por mim e absolutamente todas as pessoas que já conheci até hoje. Ainda não conheci muita gente para garantir os direitos autorais de uma nova regra vigente social. Enquanto isso, continuo com minha mera e infame afirmação que eu, você e todos ao nosso redor estão cansados de saber e sonhar um pouco a cada dia nem que seja nos últimos instantes da sua rotina corrida e intransigente, quando você finalmente deita a cabeça no travesseiro e pensa: “Finalmente consegui voltar pra minha cama... Mas seria bom ter mais alguém aqui. Quem sabe a fulana...” Todo homem sonha com uma Fulana. Talvez não com a mesma fulana duas noites seguidas, mas definitivamente com uma Fulana pra vida toda. Quer dizer, depois de provar uma Ciclana e uma Beltrana, nem que seja só para ter certeza de que a Fulana é mesmo a mulher certa.
   Com mulheres não é muito diferente. Sonham com o príncipe Fulano, da província de Fulânia, com as rédeas do seu cavalo branco Spartacus em uma mão e sua espada afiada e justiceira na outra. E querem que ele venha logo... Isto é, não precisa aparecer agora, entende? Com tantos Beltranos mandando mensagens de madrugada e Ciclanos convidando para dar uma volta por aí numa sexta-feira fria e preguiçosa. Quem sabe só ver um filminho, uma pipoquinha, um vinhosinho. Ninguém precisa ficar sabendo. Não tem nenhum compromisso sério com o Fulano, tem? Nenhuma aliança no dedo, nenhuma satisfação para dar, nem mesmo hora pra acordar no dia seguinte. Esta talvez seja a única maneira em que todos nós somos iguais: homens e mulheres, altos e baixos, gordos e magros, feios e bonitos, solteiros e comprometidos. Todos nós queremos um amor pra vida toda. Mas honestamente falando, a gente ainda tem a vida inteira pela frente.
   Quanto a mim, confesso que, entre uma confissão de amor eterno e outro, tenho minha lista de Ciclanas e Beltranas guardada no bolso com muito carinho. Não desista dos seus sonhos, não é o que dizem? E além das Ciclanas e Beltranas, tem a Nicole Scherzinger que não me deixa realmente me comprometer com mais ninguém, mesmo que ainda não tenha cruzado nem no mesmo CEP que ela. Mas a esperança é a última que morre, e a Nicole pode estar por aí procurando por mim neste exato momento, sonhando comigo cada vez mais a cada decepção que a multidão de Ciclanos e Beltranos vem causando a ela. Pobre Nicole. Eu posso ser o seu Fulano, meu amor. Não, eu não tenho um cavalo. Não, eu não sei dirigir ainda. Mas eu sou engraçado... Isso conta? Tá, depois a gente resolve isso.
   Eu não tenho idade para encontrar o meu amor pra vida inteira. E nem ganho o suficiente pra isso também. Quem sabe daqui uns dois ou três anos. Ou sabe se lá quando, realmente. Como se eu pudesse me dar ao luxo de escolher. Até porque, se pudesse, renovaria meus votos à Nicole todas as vezes. Claro que não estou falando aqui da Scherzinger de verdade. Estou falando da Ciclana... Aquela que não só convive no mesmo CEP que eu às vezes, como até desfila por mim com seu perfume apaixonante e olhar enigmático. Tão enigmático que de vez em quando eu gosto de alucinar que estão me chamando. Só que não. Mas é bom sonhar, e é bom curtir a vida. Pessimismo à parte, o seu amor pra vida inteira pode muito bem aparecer amanhã. Ou pode não aparecer nunca, vai saber. O que eu quero dizer é que eu não me prendo mais a isso. É isso mesmo que você leu. Eu. Não me prendo mais a um amor pra vida inteira. E pra falar bem a verdade, não me prendo mais a nada ultimamente. Só a coisas que me fazem feliz, e as obrigações que preciso honrar se eu quiser me formar, ou continuar recebendo meu salário, ou ter a chance de me divertir um pouco com alguma Beltrana que me aparecer daqui pra frente. Por que não?
   Quem vive para um amor pra vida inteira sozinho, na verdade não vive nada. Não que a minha vida seja um exímio exemplo de motivação, mas ultimamente tem sido melhor do que qualquer publicação lamentosa de quem passou o Dia dos Namorados solteiro(a), ou quem ainda cria expectativas com as pessoas erradas – quando já sabem de frente que são as pessoas erradas. Eu ando muito bem, mesmo sem um amor pra vida inteira, ou um amor pra hoje a noite mesmo. Talvez eu tenha mais sorte amanhã. Quanto ao futuro não há argumentos; ainda sou um otimista. E nem desejo mais mal pra ninguém. Ok, quase ninguém. É um processo. Ainda estou aprendendo. Felicidade não vem assim da noite pro dia, né. Mas convenhamos que é um bom começo.
   Sonhe comigo, Nicole.


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