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O grupo de apoio


   A maioria das pessoas tem amigos, festas e confraternizações normais, e eu admiro muito isso. Mas o que eu admiro muito mais mesmo é o que eu e meus amigos temos. Temos festas sim, regadas a muita cerveja e com direito à degustação de vodkas diferentes, e até nos arriscamos em letais partidas de jogos de tabuleiro apostando doses de tequila e o que restou da nossa reputação. E quase sempre sobrevivemos, salvo alguns danos aos nossos egos e piadas recorrentes que nascem depois que a ressaca do dia seguinte passa, mas logo estamos prontos para o próximo fim de semana. E temos confraternizações como qualquer outro bando de amigos próximos. Nossos aniversários não passam em branco – quer dizer, quase todos; não é minha culpa se o Luis nasceu em Janeiro ou se o Chuck só se lembrou do dele na véspera quando já tínhamos outros planos. E quanto às datas comemorativas, como a vez em que eu consegui sair e ficar bêbado sem voltar a pé pra casa da balada, ou mais recentemente o churrasco da minha despedida de álcool – já que vou passar os próximos seis meses na base de água, antibióticos e amarga sobriedade – também fazemos questão de nos reunir e fazer o que fazemos de melhor: dar risada uns dos outros livremente, custe a piada que custar.
   Renan é o estrategista. Ele é o encarregado de planejar as festas, correr atrás dos convites, organizar os convidados e fazer o fervo acontecer. Ele também é o encarregado quando eu estou ocupado e não posso liderar o bando. Não? Ok, eu tentei. Por causa da sua carreira como poker player, possui uma tendência de analisar cada aspecto dos jogadores ao seu redor – seus pontos fracos, suas aspirações, seus medos. Quando não me irrita ter cada atitude minha à mercê de uma autópsia funcional, eu gosto dos seus insights. São eles que na maioria das vezes me fazem parar e repensar algumas coisas, especialmente depois que eu faço algo errado e preciso de ajuda para rever meus passos e descobrir exatamente em qual rodada da vida eu me excedi e dei tilt.
   Luis é o cauteloso. O que pensa bem antes de tomar alguma atitude e nos inspira a fazer o mesmo, apesar de nunca conseguirmos. Nós somos impulsivos e pagamos caro por isso às vezes, mas é para isso que o Dr. Luis está conosco. Ele é o que nos socorre quando precisamos de ajuda, uma consulta ou até mesmo uma anestesia geral para esquecer as idiotices que fizemos. Ele é o que nos faz perceber o quanto nossas atitudes tem consequências, e nos obriga a parar para pensar em cada resultado possível quando estamos com algum novo alvo em mente mas sem nenhum plano plausível de como chegar nela. Sempre posso contar com o doutor para me certificar de que não estou me envolvendo com alguma doença em potencial na forma de uma mulher assustadoramente atraente. E convenhamos que ele foi o primeiro a me dizer que eu precisava tirar aquele negócio no meu pescoço. Confie no seu médico e nunca falte a uma consulta. Confesso que sou relapso com a minha saúde – especialmente a mental – por isso é bom ter um médico por perto em caso de emergências.
   Chuck, também conhecido como Mudão ou Lucas para os menos próximos, é o reflexivo. Ou talvez “reflexivo” seja só um adjetivo mais cativante do que, “aquele que sabe tudo que está acontecendo ao redor mas não diz nada, só espera para ver no que vai dar”. Chuck é o engenheiro e o amigo pau-pra-toda-obra que você precisa ter quando sai por aí. Ele é a rocha do grupo, aquele que está sempre ali pro que der e vier, mas não contribui muito em termos de palavras e... Bom, ele não fala muito mesmo. E nem precisa, pra ser sincero. Porque quando ele realmente pede a vez para falar, todos nós ficamos quietos e só tentamos escutar e aprender, porque a lição é certa. Ele é o que nos faz realmente rever os nossos planos e procurar possíveis falhas na planta que não conseguimos ver quando estamos prestes a colocar o projeto em ação. Ele é o que nos salva de nos afundarmos em vazamentos ou soterrarmos em algum deslizamento que não previmos porque estávamos mais preocupados em terminar a obra do que escolher um bom terreno. É por isso que você sempre pode confiar em um engenheiro.
   Eu sou o psicólogo e, ironicamente, o que mais corre para pedir ajuda. É por isso que eu disse que a maioria das pessoas tem amigos e festas e confraternizações normais, e eu acho tudo isso ótimo. Mas o que eu tenho é melhor ainda. O que nós temos é um grupo de apoio, com toda a sinceridade e firmeza de uma terapia, mas com direito à álcool e confusão. Nossas reuniões ocorrem todo fim de semana ou em ocasionais encontros de última hora durante a semana mesmo quando algum evento importante precisa ser debatido ou analisado com clareza pelo bem de um dos integrantes. Clinicamente falando, ter amigos é ótimo e eu não seria nada sem eles, mas eu não trocaria o meu grupo de apoio por nada mais convencional. Qual é o nosso lema? Quando tudo mais falhar, apenas “segue o jogo”. E é a minha opinião como pseudo-profissional da saúde mental e encarregado de manter a ordem e o progresso do grupo que eu digo que nós vamos ficar bem, e o melhor ano das nossas vidas está correndo conforme o planejado.
   #partiuvida

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