Às vezes eu estou errado. Eu
tenho algumas habilidades com leitura e escrita, resolução de problemas e
pragmatismo suficiente para julgar certas situações como necessárias ou não,
mas às vezes eu estou errado. O que quero dizer com isso, então? Talvez tenha a
ver com o fato de que cerca de poucos dias atrás, eu finalmente me deparei com
o limite da minha arrogância latente e percebi exatamente o quanto é difícil
para mim pedir ajuda, ou admitir que cheguei ao máximo que podia, ou
simplesmente que – por incrível que pareça – às vezes eu estou errado.
Eu
não acredito em inconsciente, ou qualquer outra forma de justificativa
psicossomática para os meus recentes transtornos de personalidade que me
levaram a dizer coisas sem pensar, a estipular princípios baseados em coisas
que não acredito, e a tomar atitudes que não tem muito a ver com a pessoa que
eu sempre acreditei que fosse. E quando essas crises batem forte demais e meu
reflexo no espelho deixa de parecer comigo e toma a forma de uma neurose falante
gigante que precisa cortar o cabelo, eu procuro conselhos das pessoas que
convivem comigo – como se escrever desta maneira esconderia o fato de que eu
busco resquícios secretos de ajuda dos meus amigos e da família que construí
para mim e na qual confio para me colocar de volta no eixo quando minha
paranoia deixa de ser levemente excêntrica e passa a caracterizar-se como um
sintoma para diagnóstico de depressão ou alguma vertente mais eufórica de uma
comum síndrome do pânico – pelo menos, de acordo com o pessimismo gritante do
novo DSM-V.
Depois
de uma série de mal-entendidos, conflitos desnecessários, trilhas sonoras de
fossa sem fim, cinquenta tons de pedidos de desculpas, cinco quilos a mais,
olhares perdidos em direção a um horizonte cinzento (mesmo enquanto havia sol)
e treino intensivo para aprender a esticar o braço e pedir a ajuda de alguém,
eu admito que tenho um problema. Eu não sei admitir derrota, mesmo sabendo que
isso não se trata de uma guerra. Eu não sei lidar com críticas ou opiniões muito
diferentes da minha, muito menos sei como aceitar as pessoas como elas são sem
antes projetar uma série de expectativas em cima delas, e ter a capacidade de
me surpreender quando elas não seguem o script que escrevi e julguei estar
perfeito em meus pensamentos perturbados. Eu não tenho noção do que eu falo, ou
do jeito que eu falo, ou para quem eu realmente estou falando. E tudo isso por
que? Porque conceber a conjuntura de que às vezes eu poderia estar errado
parecia sempre errado. Ó as ideias...
Eu
ainda sou bom em outras coisas. Posso elaborar uma dissertação de quinze a
trinta linhas sobre qualquer tema humanamente possível entre quinze a trinta
minutos. Sou capaz de aprender com facilidade matérias deveras tediosas se eu
realmente me empenhar e lutar contra minha própria preguiça de manter os olhos
abertos durante uma aula. Consigo me lembrar com clareza de datas ou eventos
importantes como aniversários ou a centésima vigésima terceira vez em que
confundi carência ou fome com amor. E às vezes estou certo, também, sobre
aquele lugar ser muito longe, ou aquele filme ser muito chato, ou aquela pessoa
ser muito desnecessária.
Mas
quando não estou usando meus super-poderes para o mal, consigo me esforçar para
fazer uma boa ação para alguém – posso te emprestar a matéria do meu caderno
com a minha letra semi-decente se precisar, ou procurar o nome daquela música
que você escutou há cinco anos e só lembra duas palavras da letra que nem
passam perto do refrão, ou simplesmente servir de companhia caso você não
queira ficar sozinho. É, eu não erro o tempo todo. Só quando eu realmente
acredito que estou certo. Mas se este for o caso, então significa que estou
errando agora mesmo sem saber. Enfim, eu não acredito em inconsciente, mas
ultimamente meus recalques tem sido maiores do que a minha capacidade de
acreditar em qualquer coisa, inclusive em mim mesmo.
E o
que um ser humano razoavelmente equilibrado e sensato pode fazer numa hora
dessas? Deixar todo mundo falando sozinho, aumentar o som dos fones de ouvido,
arrumar a mala e voltar para casa. Eu admito que às vezes estou errado, e
admito que estou cansado de pensar o contrário. E admito, também, que preciso
de alguns dias para me recompor antes de dar continuidade à esta corrida
alucinada e cheia de tropeços que eu chamo de vida. Volto em breve, quem sabe
um pouco mais sensato e disposto a te dar razão sobre tudo isso, se eu for
capaz de recuperar a minha primeiro. Eu sei, eu sei; não deveria ser tão
pessimista, mas já admiti o problema. Este não é o primeiro passo?
Pare de frescura, ou morra tentando. Saúde
mental, aí vou eu.
Under Pressure - Smash
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