Todo desastre iminente na minha vida sempre começa comigo procurando um amigo para
confessar secretamente a seguinte declaração infame, porém fatal: “Então, eu conheci alguém...”. Daí em
diante é uma lenta, porém derradeira ladeira abaixo rumo à tragédia, vergonha
alheia e mil e um argumentos para tentar defender o raciocínio pobre que me
levou a percorrer este caminho mesmo sabendo que iria chegar ao mesmo lugar:
sentado em um bar com um ar de sabedoria melancólica – só que sem a sabedoria,
claro – cercado pelos meus amigos, alguns melhores do que eu e outros nem
tanto, que tentam colocar seu repúdio de lado para pelo menos tentar entender o
que me fez apertar meu botão de autodestruição mais uma vez. E pedimos uma
segunda rodada que sempre serve como anestesia para me preparar para a chuva de
“Até quando você vai continuar com isso?”
e “Você precisa mudar” que cai sobre
mim sem dó. Enfim, chegamos à terceira rodada, onde todos recompõe sua postura
e voltam aos seus lugares para comemorar em silêncio que, apesar de mais tarde,
pelo menos eu voltei a raciocinar direito e podemos beber tranquilamente de
novo. Até eu conhecer alguém de novo, claro.
Foi aí que eu percebi que o melhor jeito de
me importar menos com conhecer alguém seria não me importar com mais nada. E
então eu comecei a aprender a lição mais valiosa que um homo sapiens
razoavelmente sadio e equilibrado aprenderá em toda sua existência cro-magnon e
complicada: dane-se tudo! Quando não se tem nada a perder, tudo é lucro. Por
que não simplesmente fazer o que quer, em vês do que acha que deve fazer ou o
que isso pode significar para quem estiver vendo? A não ser que a plateia que
se reúna ao meu redor subitamente cuide das minhas contas e dos meus
compromissos, eu vou cuidar de mim e fazer o que eu quiser enquanto isto me
fizer bem. Quando não fizer mais, mudo de opinião. Troco de canal, compro uma
roupa nova, atravesso a rua, viro a página, mudo de assunto, ou simplesmente
fico quieto que é o melhor mesmo a se fazer quando não puder criar algo mais
produtivo.
Redução de danos não é só uma técnica de
tratamento para dependências químicas; é uma reflexão pela qual eu tenho
sentido muita falta, enquanto procurava pelas pessoas erradas e praticava
maratonas pelos caminhos que eu pensava que deveria seguir – às vezes, porque
todos correram pelo mesmo caminho, e às vezes porque continuar seguindo reto
parecia o mais coerente a fazer. Talvez não seja tão ruim dar um passo ou dois
para trás, ou ficar em casa por uma noite ou duas – ou um Inverno inteiro – se
é o que eu sinto que preciso fazer para não ficar tão desorientado entre
compromissos, obrigações, horários e deveres que eu preciso cumprir. Isso para
não falar de todos os sentimentos alheios que se metem no meio disso tudo, e as
críticas que brotam a cada movimento em falso meu. Até os acertos acarretam
observações em caneta vermelha, para continuar assim ou quem sabe rever uma
vírgula ou duas.
Então, eu conheci alguém mesmo. E até eu
decidir o que vou fazer com isto, vou fazer qualquer outra coisa que me der
vontade. Vou encher a cara, ou passar fins de semana em casa cercado de DVDs e
embalagens de pizza, mas quem quiser se juntar a mim é muito bem vindo. Só não
me peça explicações ou análises profundas acerca da situação atual da minha
psique, senão pode parar por aí mesmo. O que eu preciso agora é relaxar antes
de qualquer coisa. E todo e qualquer dano colateral que possa nascer do que eu
vier a criar de agora em diante, não responderei por nada. Não é comigo, você
deve ter me confundido com outra pessoa. O Igor foi por ali, talvez se correr
você o alcance.
Só para constar – e esta será minha última
explicação por um tempo – o que vocês podem talvez perceber disto tudo como
estresse, eu prefiro chamar de Existencialismo. E não estou achando nada mal.
Pumped
Up Kicks – Foster the People
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