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A guerra fria V


            Eu não me queixo. Eu não gosto de brigar com ninguém, de verdade, mas às vezes minha capacidade de ajudar não é tão grande quanto a minha habilidade de expressar minha opinião sobre qualquer coisa de maneira tão apaixonada que pode fazer você me odiar por algum tempo. E por muito tempo eu me culpei por isso.
            As pessoas deveriam fazer o que acham certo apesar do que qualquer um pode pensar, porque no fim do dia quem deve deitar a cabeça no travesseiro com tranquilidade para dormir é você.  Mas ultimamente eu aprendi algo novo. Algo que eu demorei muito para aperfeiçoar, porque eu costumava confundir o conceito de “ouvir” perigosamente com o de “passividade”, porque eu gosto de ser ouvido mais do que eu gosto de escutar o que alguém tinha para me dizer. Porque de tanto me procurarem para me pedirem ajuda, eu me convenci de que tinha mesmo todas as respostas. E quando por acaso era eu quem estava em apuros, definitivamente não cabia a outra pessoa me dizer o que era o certo a se fazer.
            Mas eu aprendi que tudo isso é estupidez. É importante saber ouvir as pessoas, e não tem nada de errado em pedir ajuda. Claro, eu ainda expresso minha opinião muito ativamente dentro de quaisquer situações em que eu esteja, e muitas vezes ainda pago preços muito altos por isso. Já perdi pessoas por isso. Oportunidades, então, nem se fala. A verdade é que se eu não me empenhasse tanto em defender tudo que acredito com tamanha paixão, eu provavelmente seria outra pessoa. Outra pessoa que talvez tivesse mais amigos, seria mais popular e teria mais convites para sair por aí e aparecer sorrindo em fotos. Outra pessoa que seria mais aceita por outros, porque jamais questionaria o que lhe fosse imposto. Outra pessoa que, definitivamente, não seria eu.
            E é exatamente por isso que eu não me queixo, porque eu aprendi que gosto de quem eu sou, completo com todas as ideias divergentes e sem sentido que vem com o pacote. E digo isso hoje com certeza porque aprendi que a paixão com a qual eu defendo meus ideais, independente da sua veracidade, é a mesma paixão que tem me mantido vivo por todos esses anos, através de dificuldades e momentos de fraqueza. A mesma paixão que, durante esses momentos eu achei que havia perdido. A diferença hoje é que eu aprendi como empregar melhor esta paixão na minha vida, e com quem exatamente eu devo compartilhá-la.
            Quando eu repenso tudo que 2013 me trouxe até agora, a verdade é que eu só tenho a agradecer, apesar dos apesares. Mesmo com tudo de ruim, teve tudo de bom. Mesmo com o frio lá fora, eu não estava sozinho em casa. Ok, talvez às vezes eu estivesse, mas eu não me senti sozinho e em se tratando de mim – esta conjectura de neuroses ambulantes e opiniões fortes com CPF próprio – isso já é uma grande conquista. Eu aprendi que tem pessoas que realmente valorizam a minha opinião, assim como as minhas paixões, e é nelas que eu preciso me focar agora se eu quiser transformar essa vida em algo ainda mais memorável para a posteridade. Quem sabe um dia desses aquele livro que eu sempre quis escrever não ganha vida? Se eu parar para pensar, as primeiras páginas já estão escritas: a capa e a contra-capa, seguidas por um capítulo único com dedicatórias à todos que tornaram esta vitória possível.
            O que eu quero mesmo dizer é que, aqui e agora, eu oficialmente não me importo mais com o que os outros pensam. Tudo que me importa agora são as minhas paixões e as pessoas que acreditam nelas. Se eu gosto de você, eu constantemente criarei uma quantidade infame e infinita de caos em sua cabeça a respeito de qualquer coisa que você pense em fazer, porque me importo o bastante com você para que não se acabe em consequências podem fazer mal a você e a mim também. Este sou eu, e serei inevitavelmente insuportável enquanto eu gostar de você. Quanto ao resto e a todos os outros, eu não me queixo.
            A guerra acabou. Nós vencemos.

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