Intimidade
é preço que você paga
por deixar alguém entrar na sua casa e se envolver na sua vida, e ao mesmo
tempo é o prêmio que você ganha por isso. Às vezes eu preciso parar para
reencontrar o sentido da minha vida – não de maneira tão grandiosamente
filosófica, porque eu ando meio sem tempo – quando me vejo atuando como
relações-públicas entre as pessoas ao meu redor, enquanto de certo modo ainda
me sinto resistente quanto a realmente ser capaz de deixar alguém entrar dentro
da minha casa, da minha vida e do meu coração e dizer ,”Fique a vontade, faça o que tiver vontade e fique o tempo que quiser.
Não se preocupe comigo, eu vou ficar bem.”
Confesso que outrora já fui autor
dessas palavras e realmente não me queixo por tê-las dito na maioria das vezes,
enquanto outras aventuras poderiam ter sido melhor deixadas na teoria ou só na
imaginação. Porque dar intimidade a alguém é simples, mas é bem perigoso se
cair nas mãos erradas. Não nas mãos de alguém que possa te fazer mal, porque
contra males existem defesas, contra-ataques e conselhos de pessoas que te
querem bem para te ajudar a superar.
Estou falando mesmo de dar
intimidade para quem realmente não fazia questão dela. E que não vai retribuir
o favor só porque você se sentiu a vontade de deixar ela entrar. Aprende, Igor,
que só porque você destrancou a porta e colou os avisos de “Entre, temos ar condicionado” no hall de
entrada, não quer dizer que quem você convidou para entrar não tem nada melhor
para fazer do que se sentir em casa no seu aconchego e ainda agradecer por você
tê-la deixado chegar até ali. Ou talvez o problema seja eu mesmo, que achava
que havia destrancado a porta enquanto na verdade estava alucinando com a
claustrofobia que estava aqui o tempo todo.
Deixar as pessoas entrarem na minha
vida nunca foi tão difícil assim; o problema mesmo era mantê-las. Me irrito com
facilidade, brigo por pouca coisa, sou pentacampeão estadual em guardar rancor,
gosto de cada coisa em seu lugar e não suporto situações mal-resolvidas por
mais que meu orgulho tenha quase a mesma altura e peso que eu. Me afastar “do
nada” é que sempre foi muito fácil. Achar que não era o bastante para outra
pessoa quase sempre foi meu lema, minha reza antes de dormir. Nada sadio, pouco
funcional e sem nenhum sentido: esse sou eu.
O que eu poderia fazer diante disso?
Criar vergonha na cara e destrancar a porta de uma vez por todas, e que viesse
o que viesse. Que não viesse ninguém ou o universo inteiro de uma vez, não
interessa. Eu deveria dar intimidade assim para quem tomasse interesse por mim,
porque no final das contas provavelmente é o que eu poderia oferecer de melhor
para alguém. Entre, fique à vontade e pode reparar na bagunça sim, porque eu
preciso de ajuda para arrumar essa vida.
Por mais que eu imagine que preciso
ter intimidade antes de realmente ser íntimo
com alguém, nada de bom vai acontecer nessa vida se eu continuar dentro de casa
apenas rezando pelo melhor. De vez em quando é bom deixar o familiar para trás,
para conhecer um mundo novo. E talvez nem tudo sejam rosas, e você pode acabar
se afogando em arrependimento e amaldiçoando a existência de tudo e de todos,
mas quem sabe você não se apaixona pelo que pode encontrar? Dar intimidade à
alguém é como abrir a porta da sua casa para o universo: você não sabe o que
vai encontrar, mas independente se será bom ou ruim, será definitivamente maior
e mais profundo do que a fração da realidade na qual você dorme depois de um
longo dia.
Eu preciso de intimidade para
sobreviver, por mais que minhas relações públicas às vezes percam o controle. Desespero,
frustração e arrependimento são complicados, mas ao menos são sinais vitais de
vida. E independente do que vier pela frente, essa casa precisa de novos ares.
E esse coração precisa aprender a acreditar que algo bom pode acontecer de
novo... De novo.
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