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Só se vive uma vez


            Só se vive uma vez. Dito isso, seria bom aproveitar o tempo que tenho aqui para fazer coisas mais úteis do que eu tenho feito. Ou ao menos, coisas novas, em vês de me afundar em reprises de seriados ou repetir ideias sobre aonde sair com os amigos. Eu deveria fazer o que eu gosto, não o que eu também gosto de fazer só para não ficar em casa em um Sábado à noite. E eu deveria me preocupar mais comigo, porque é o meu dinheiro que está pagando a entrada para esses lugares, e é a minha energia que está sendo consumida para me manter ali em pé e tentando ao máximo encontrar razões para acreditar que esta noite poderá ser memorável. Só que o que tem acontecido geralmente é que eu acabo me preocupando mais com o sono que eu deixei de ter, e com as olheiras injustas que me cobrem no dia seguinte.
            Só se vive uma vez, então seria bom aproveitar meu tempo com quem realmente importa. Com alguns rostos conhecidos entre milhões que existem no planeta e que sempre aparecem na minha frente em filas de banco ou que mudam de lado repentinamente enquanto andam na calçada e quase trombam em mim. Estou falando das minhas pessoas favoritas; das que não tem nenhuma obrigação comigo, e com as quais eu também realmente não devo satisfação, mas que apesar de todos os apesares – dos nossos defeitos, impaciência e diversos compromissos que a vida adulta impôs sobre nossa agenda e nossos corações – nós ainda sim gostamos de saber como vai a vida, e tentamos ao máximo estar juntos porque é bom não se sentir sozinho.
            É bom sentir-se parte de algo, de um grupo de amigos ou de uma família adotiva caso você seja de outra cidade e precisou, assim como eu, procurar uma rede de proteção para te ajudar a sobreviver em Cascavel. E com estas pessoas eu me importo, porque absolutamente nada me apavora mais do que a sensação de ser apenas mais um na vida de alguém. Só se vive uma vez, e eu não tenho tempo a perder para ser só seu figurante se é o que você deseja. E de agora em diante, ou você vive comigo, ou a gente se contenta em acenar um pro outro quando nos encontrarmos por aí.
            Só se vive uma vez, e ultimamente eu ando muito cansado. Cansado até de me importar com pequenos problemas como convites que não chegaram, planos que não deram certo, amores que parecem distantes... E então eu aprendi a não criar mais expectativas quanto a nada nem ninguém que sinceramente não me deve nada. Não por descrença ou frustração; apenas cansaço. Porque só se vive uma vez, e de tanto olhar para trás enquanto tento seguir em frente, já dei de cara em muitos postes no meio da rua. Só se vive uma vez, e seria melhor não ter um hematoma no nariz durante o tempo que eu ainda tenho.
            Mas eu me sinto bem. Quer dizer, só um pouco preocupado com a farmácia que criei em cima da geladeira depois que minha gripe se casou com minha rinite e juntas tiveram filhotes de dores de cabeça. E o trabalho anda meio complicado. A faculdade então, nem se fala. TCC, relatórios de estágio, atividades que valem a nota do bimestre... Nem preciso dizer que a roupa pra passar e a barba pra fazer deixaram de ser prioridade. Nem penso muito nisso, na verdade. Ando preocupado demais em deixar de ter preocupações e fazer o que eu puder hoje, aqui e agora.
            E o que eu concluí é que aqui e agora, eu não tenho tempo para ir à lugares onde eu não quero ir, e seria bom arrumar companhia para ir aonde eu gosto. Eu não tenho tempo para você hoje, porque você não teve tempo para mim ontem, anteontem, três meses atrás e por aí vai... Mas para você que sempre esteve aqui por mim, pode me ligar às duas da madrugada sem medo de que eu te xingue (no máximo será recebido com um comentário sarcástico antes que eu te pergunte o que aconteceu).
            Eu tenho bastante tempo na verdade e deveria usá-lo com mais consciência. Para colocar todos os meus trabalhos em dia, enfrentar a cara selvagem no espelho do banheiro e repassar o figurino que empilhou-se em cima da cômoda se eu quiser sair de casa com essas roupas de novo. E vai ficar tudo bem, porque a primeira parte de 2013 foi além do esperado. O melhor ano das nossas vidas tem feito jus ao título, e acho que o segundo semestre não vai me decepcionar. Ainda mais agora que eu resolvi colocar a casa em ordem, e a usar meu tempo com prudência. Eu vou sentir falta das pessoas que não perceberam que eu sumi, dos lugares que fui sem terem sido minha primeira opção, e as coisas inúteis que fiz enquanto aproveitava meu vício infinito de procrastinação.
            Mas só se vive uma vez e, aqui e agora, é tempo de mudança.

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