Este
texto é um erro. Por
inúmeras razões, dentre elas está primeiramente o fato de que eu deveria estar
estudando para provas. Ou escrevendo meu TCC. Ou pesquisando referências para o
meu relatório de estágio. Ou fazendo a barba. Ou passando a roupa. Ou
descongelando a geladeira. Ou fazendo qualquer outra coisa que não fosse sentar
aqui e escrever sobre como estar escrevendo é um erro. Mas apesar de tudo isso,
eu sinto que é um erro porque ultimamente parece que tudo que eu faço é um
erro.
Você já teve a sensação de que tudo que
você fez estava errado? A sensação de que fez as escolhas erradas, os maus
julgamentos, os pensamentos equivocados, as atitudes opostas... Eu já. Eu a
tenho agora mesmo. Aproveite a liquidação e corra logo até mim; estarei
admitindo que errei qualquer coisa com você, já que este parece ser o tema da
minha vida nesses últimos dias. Nada aconteceu, para falar a verdade. Mas é
exatamente isso que me faz sentir que me perdi em minhas andanças: nada
aconteceu porque se eu tivesse pensado um pouco mais antes de agir, talvez as
coisas tivessem dado certo. De que coisas eu estou falando? Do trabalho, da
faculdade, do futuro e sim, da roupa pra passar também. Eu não sei como lidar
com minhas novas responsabilidades, eu não sei como criar vínculos e ter
empatia com pacientes, e eu definitivamente não sei como passar camisas.
Mas de todos os erros que eu carrego
comigo, meu favorito é o de ser incapaz de admitir que eu erro. Sim, é muita
incoerência para uma pessoa só, mas colabore comigo. Admitir que errar é humano
e enfrentar meus temores de que também sou um mero mortal assim como você ainda
é muito novo para mim. Não deveria ser. Se errar é natural e é esperado de
todos nós, por que eu cobro de mim mesmo atitudes sobre-humanas? Por que eu
penso que deveria ser melhor do que os outros? Por que eu não posso me
confortar no fato de que minha vida não é perfeita. Ou então, por que eu não
consigo aceitar o fato de que nada nunca realmente foi...
Olhando em retrospectiva, eu ando
pedindo muito mais desculpas do que explicações dos meus amigos. Ando me
mostrando mais humilde do que arrogante para aqueles rostos familiares que
estão ao meu lado e que, apesar dos apesares, aparentemente ainda gostar de
estar por perto. Eu não entendo vocês, mas acho que faz parte do meu erro atual
de escrever sobre isso. Porque errar é inaceitável, é ridículo, é fraqueza.
Ninguém gosta de fracos, perdedores, de pessoas teimosas, insistentes,
inconsequentes frente ao inconveniente fato de que ninguém está sempre certo,
por mais que a sorte esteja do seu lado ou que a maré esteve ao seu favor até
aqui.
Nós não aprendemos a aceitar que
erramos quando crescemos. Ninguém nos incentiva a aceitar o erro, mas apenas a
dar o nosso melhor da próxima vez. Há quem diga que nossos erros nos tornam
reféns do tempo e dos consequentes castigos que ele traz, tanto físico quanto
emocionalmente. E o que acontece quando ninguém te ensina que errar é normal?
Nada além da vitória se torna aceitável. Nada fora do alvo é favorável. Nada
além da verdade estar em minhas mãos é compreensível.
Somos seres sensíveis,
temperamentais, passionais e nosso passatempo secreto predileto é seguir a vida
através da velha técnica de tentativa-e-erro. Se da primeira vez não conseguir,
tente de novo. Se na milésima vez ainda der errado, talvez – talvez mesmo, uma
mera possibilidade em um oceano de profundo orgulho – seja necessário mudar de
estratégia. Você erra, Igor. Você erra bastante. Você não erra mais do que todo
mundo na face da terra, nem tão menos do que seus amigos de verdade tem coragem
de te dizer. Mas você erra. Você não está sempre certo. Você precisa de ajuda.
Precisa aprender a baixar a cabeça, mas entender que isso não significa
render-se. Estar certo não significa que você venceu alguma coisa.
O que você quer: estar com a razão
ou ser feliz? Ok, eu admito; felicidade é algo abstrato demais para esfregar na
cara das pessoas. Mas às vezes é melhor deixar que o tempo e o castigo cobrem
seus honorários de outra pessoa do que pagar os dividendos de descobrir que
estava certo ao custo de amizades, oportunidades, crescimento pessoal e
amadurecimento. Eu gosto de pensar que amadureci bastante ao longo dos anos,
mas acho que me empolguei demais com a ideia e me deixei acreditar que meu
trabalho aqui estava feito. Errei de novo.
Temos um longo caminho pela frente e
não tem nada de errado em tropeçar e cair sem culpar alguém ou alguma coisa por
ter te passado a perna. Você errou, pisou em falso, se enganou sobre o caminho,
perdeu o equilíbrio e caiu. Agora levante e siga em frente. Eu admito que eu
não sei errar. Finalmente, depois de tanto tempo, algo faz sentido.
Comentários
Postar um comentário