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O que te faz feliz...


            Eu não tenho escrito tanto quanto costumava e o motivo disso me assusta. Quando me perguntaram porque reduzi meus devaneios rotineiros sobre a vida, sonhos, esperanças, o TCC que não termina e a louça suja na pia que parece criar vida própria quanto mais eu a ignoro, eu disse que estava distraidamente economizando minhas palavras porque estava ocupado demais sendo feliz.
            A felicidade não me deixava escrever. Agora pare e pense sobre isso, Igor. O que isso diz sobre você? Convenhamos que vez por outras você senta e escreve para se sentir melhor, para dar vazão aos sentimentos que te assombram. Para tentar emoldurar em parágrafos e períodos tudo aquilo que parece vagar aleatoriamente dentro de você, mas que não possui forma concreta nem profundidade medida para que se possa compreender o que está acontecendo. Mas é o que te faz sentar e confrontar o vazio de uma página do Word com a imensidão da sua incoerência emocional. E vez por outras, você consegue.
            Joga fora as dúvidas, os questionamentos, as mágoas, os arrependimentos, as decepções, as tentativas frustradas, as fraturas novas que seu coração sofreu quando se sentiu um pouco melhor para sair por aí e arriscar trazer um novo alguém para morar nele, e tudo mais que te estraçalha de dentro pra fora. Mas o que te faz feliz não merece o mesmo reconhecimento, a mesma dedicação e as mesmas reflexões? O que te faz feliz, Igor? O que me faz feliz...
            O que me faz feliz são meus amigos. Se 2013 serviu para alguma coisa – e sim, eu o condenei a tornar-se o melhor ano das nossas vidas e, com apenas dois meses restantes para pendurar a faixa de “missão cumprida” lá fora na sacada para fazer a inveja dos vizinhos – foi para separar os coleguismos de consideração, os semi-conhecidos que pairam à minha volta e os rostos familiares que agora são tudo menos isso, dos portos seguros que eu realmente sinto que posso me apoiar quando a vida me tira o chão e me derruba sem dó, talvez só pra ver se eu consigo me levantar de novo. E é, aprendi que tenho as melhores pessoas do mundo hoje comigo, e que não há nada de errado em pedir a ajuda delas para levantar.
            O que me faz feliz é meu trabalho. Sim, meu trabalho. E meus deveres acadêmicos. É, isso mesmo. Até mesmo as coisas que me cansam, que me desanimam, que parecem nunca serem boas o bastante, e que parecem nunca ter fim, também me deixam feliz. Porque me levam a ir além da onde eu acho que está bom. Além da onde eu acho que devo ir. Às vezes até além da onde eu acredito que consigo ir. Quando se descobre aonde é o seu limite e mesmo assim você o ultrapassa, é indescritível a sensação de perceber que um outro mundo se revela diante dos seus olhos. Um mundo além do seu, dos seus amigos, dos seus lugares favoritos e das coisas que te fazem feliz. E então você percebe que, ei, aqui não é nada mal. Me sinto confortável aqui. Acho que também posso ser feliz assim.
            O que me faz feliz é poder sentir pela primeira vez em (quase) 22 anos que finalmente estou aonde deveria estar, com as pessoas que deveria estar, exatamente do jeito que as coisas deveriam ser. Meu aniversário me assombra. É como o balancete anual do meu revés existencial. O extrato das minhas vitórias diminuído pela cobrança do meu ego inchado e fantasioso. Não desta vez. Em vês de me desanimar por pensar que não consegui tudo que pensava que conseguiria da vida aos 22 anos, agora eu vou sossegar e simplesmente agradecer. Pela vida, por tudo e, principalmente, por vocês. O que me faz feliz é escrever, mesmo quando não sei se o que meu coração irá digitar valerá a pena ser lido. O que me faz feliz é pensar que alguém, em algum lugar, de algum jeito, lerá isto e se sentirá bem ou ao menos entendido. O que me faz feliz, honestamente, é fazer a diferença na vida de outra pessoa, nem que seja como forma de agradecimento àqueles que fazem tanto por mim hoje.
            O que me faz feliz é caminhar, correr, assistir séries, comer, beber, comer de novo, desenhar, pintar, conversar, sentar por horas na sacada, rir até perder o fôlego, comer mais uma vez apesar da culpa que isso vai me causar, e depois relembrar tudo isto e colocar em um só devaneio que, aqui e agora, ofereço a você que ainda está disposto a ler aonde quero chegar com tudo isto. O que me faz feliz, por incrível que pareça e apesar dos apesares, é fazer outra pessoa feliz. Senão A pessoa com a qual eu sonhos, então a pessoa que acompanha minhas palavras e também fica feliz por mim. E caso queira me dizer o que te faz feliz, estou à sua disposição. Se você leu até aqui, é o mínimo que eu lhe devo.

            Eu estou feliz. E é o que eu desejo a você também.

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