Certifique-se
de que seu amor pode sobreviver
fora da bolha que ele mesmo cria. Para alguém como eu, que ultimamente tem se
preocupado muito mais com o trabalho, a faculdade ou a louça suja pra lavar que
nunca acaba, falar de amor parece tão... Vazio. Não é mais a falta agonizante e
desesperadora de alguém para amar que me aflige. Longe disso. Também não é a
aparente incapacidade de adotar as neuroses de outra pessoa para juntá-las com
as minhas e, a partir disso, preencher o tédio existencial e o lado vazio da
cama em um Sábado à noite com algo acolhedor, inspirador, afrodisíaco e
igualmente desafiador como um relacionamento. E poderíamos criar felicidade
disso.
Confesso que já vi casais por aí que
parecem dar conta do recado. Que enfrentam as tempestades dos mal-entendidos,
os devaneios dos silêncios agravantes e os telefonemas que acabam abruptamente
porque um não gostou do que ouviu e decidiu desligar o outro. Nada disso me
incomoda agora, porque meses depois de ter enterrado o que parecia ser um
relacionamento feliz e promissor, não só percebo o quanto meu luto foi bem
feito, quanto sinto que talvez a vida esteja exatamente do jeito que deveria
estar. Pelo menos, por enquanto.
Confesso também que ainda levo um
pouco de esperança guardada no bolso comigo quando saio de casa para viver
todos os dias. Só dá problema quando eu encho demais os bolsos e, por incrível
que pareça, me surpreendo quando descubro que tudo ficou pesado demais e eu não
consigo andar. Sonhar é bom, mas esperança demais faz mal. Expectativas
deveriam ser criadas somente a partir de atestados médicos, completos com bula,
dosagem e alertas sobre os efeitos colaterais caso você se anime demais e
decida entregar seu amor, sua identidade, seus desejos e uma cópia da chave do
seu apartamento para aquela pessoa que sequer pediu alguma dessas coisas.
Parece tão contraditório ter que me
conformar com a ideia de que por mais que eu ainda pense que amo o amor, eu
talvez não seja bom nisso. Logo eu, que sou feito de contradições e tenho
alergia à conformidades, ultimamente senti que está na hora de começar a
aceitar algumas limitações na vida. Mesmo com só 22 anos e toda uma vida pela
frente, acho que posso me dar ao direito de dizer que eu já andei demais e que
não é fácil. Que é cansativo e solitário às vezes, e que talvez as coisas fiquem
mais fáceis se eu esvaziar um pouco mais os meus bolsos antes de continuar
caminhando. Deixe os problemas em casa, as preocupações que não tem convite
para ir aonde você está indo, e quem sabe abandone um pouco de esperança
também. Não toda, só o bastante para não te deixar dar de cara no chão sem
querer.
Estar apaixonado me assusta. Sim, me
assusta. Porque o que a paixão por alguém faz comigo, olhando em retrospectiva,
simplesmente não é natural. E nem um pouco saudável também, diga-se de
passagem. Talvez eu esteja dizendo isso com base em uma série de desencontros
amorosos que só serviram para demonstrar em prática o quanto o amor é
disfuncional. Ou talvez seja só o meu amor. Ou talvez eu esteja levantando
hipóteses demais. Talvez seja isso que acontece mesmo quando se fica em casa à
noite escrevendo e ensaiando uma saída da minha descrença, enquanto continuo
encarando o lado vazio da minha cama.
Falando como alguém com certa
experiência em se tratando de amar a pessoa errada, às vezes eu preciso dar risada
de toda a ironia que o universo joga em minha direção por ter sido protagonista
do que eu acredito que foram as piores histórias de amor que já existiram. E as
mais clichês também. O cara que ama a garota que ama outro cara. O cara que ama
a garota que nem sabe que ele existe. O cara que ama a garota que não é quem
ele pensa que ela é. O cara que ama a garota que só o quer como amigo. E,
finalmente, o cara que ama a garota que também o ama, mas que faz ele perceber
que depois de tantas decepções, desenganos e desesperos, ele não estava
preparado pra isso.
Eu vejo casais de mãos dadas na rua
e fico feliz por eles. Quer dizer, hoje eu fico feliz. Antigamente tudo o que
eu queria era acelerar o passo e ultrapassá-los só para não ter que ficar
encarando aquilo enquanto me arrastava pela vida de volta para casa – e para o
lado vazio da cama. Mas o que eu também vejo hoje são casais que parecem ficar
tão entusiasmados com a ideia de que, agora que se encontraram, não precisam
mais de nada nem ninguém, acabam se fechando em si mesmos. Fujam da bolha,
minha gente. Talvez não me levem tão a sério, falando como alguém que
atualmente está fora da bolha e faz o máximo para ajudar os amigos a perceberem
que o que eles tem com outra pessoa não só não é o bastante, como está
quebrado. E, particularmente falando, algo quebrado e flutuando dentro de uma
bolha que não se permite estourar parece ainda mais enfermo do que querer me
apaixonar de novo. Não sei o que é pior; ter sido tão apaixonado aos 14 anos,
ou ser tão cínico aos 22. O universo nem sempre faz sentido, mas é ainda mais
irônico do que eu.
Certifique-se de que seu amor pode
sobreviver fora da bolha que ele mesmo cria. Certifique-se também, Igor, de que
não são só casais que se sentem completos um com o outro e se isolam do mundo.
Solteiros cínicos e superficialmente satisfeitos com tempo de sobra também precisam
de outra pessoa para amar além das suas próprias neuroses.
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