Um
dom e uma maldição. É
isso que nós costumamos dizer. Quer dizer, é isso que nós costumamos gritar.
Nós falamos alto, não necessariamente para chamar a atenção, porque ela vem até
nós de um jeito ou de outro. Na verdade, talvez não haja um motivo certo.
Falamos alto porque falamos alto, e chamamos a atenção porque chamamos a
atenção, ponto. E somos habilidosos, criativos, ridiculamente carismáticos e
intensos ao mesmo tempo. Quem costuma chegar perto de nós, jura que nunca viu
nada igual. Nunca conheceu ninguém igual. Mas as probabilidades de se ferirem
também são grandes. Somos insaciáveis, loucos por conhecer cada vez mais sobre
esse mundo que nos cerca e as pessoas que nos rodeiam. Tudo isso enquanto ainda
tomamos todo o cuidado para não nos perdermos no próprio mundo que criamos, que
existe dentro de nós e que, se não nos apoiarmos em algo ou alguém tão forte o
bastante, pode acabar nos engolindo de dentro pra fora. Mencionei que também
somos estranhos?
Estranhos porque não nos encaixamos
nos moldes infames e convencionais em que as outras pessoas parecem encontrar
conforto tão facilmente. Nós não. Estamos constantemente incomodados por alguma
coisa. Porque a nossa mente, assim como a nossa ambição por dar o melhor de nós
em tudo que fazemos, jamais cessa. Somos extremos. Tudo ou nada. Não somos
criaturas que cabem em meios-termos. Meios-termos são para pessoas que existem
pela metade. Nós, por outro lado, sempre passamos dos limites.
Mas existe um método para a nossa
loucura. O mesmo método que nos foi passado, geração após geração, e
provavelmente ainda perpetuará - e consequentemente, aterrorizará - o mundo por
uma quantidade considerável de neuroses ainda por vir. Não me peça explicações;
nós nascemos assim, crescemos assim e, senão me engano, continuaremos assim
enquanto vocês, meros mortais, estiverem por perto para ver. Só que no meio de
tudo isso, da linhagem que vem desde os primórdios da Itália provinciana e
renascentista, existe algo - quer dizer, alguém - bem mais especial do que eu
poderia imaginar. E é com ela que está guardada a nossa esperança de levar a
tradição adiante.
Porque você é incrível. Ainda mais
do que eu. Com as suas palavras, suas habilidades culinárias, seu raciocínio
insano, sua fé inabalável, sua criatividade inconcebível e seu sorriso
avassalador, você tem essa capacidade conquistar tudo e todos que cruzam seu
caminho com a perseverança de uma guerreira e a inocência de uma criança, o que
me faz sentir muito mais do que felicidade por você, mas orgulho também. Você
me faz querer ser uma pessoa melhor. Me motiva a tentar dar sempre o melhor de
mim em tudo, para que, quem sabe, você também se orgulhe de mim. Você é
inspiradora. Tanto é, que me fez pensar exatamente em tudo isso para dizer a
você no seu dia, e a relembrar que além de tradicionalistas, racionalistas,
passionais e - me atrevo a dizer - gramaticalmente invencíveis (salvo os
enganos do autocorretor), somos família. Somos Morescas. E agora que você está
dotada de toda a responsabilidade do mundo, não tenho dúvidas de que sempre
esteve pronta para isso e tudo mais que a vida possa lançar em seu caminho. Não
só porque eu acredito em você, mas porque você jamais estará sozinha.
Esta é a beleza do método Moresca. É
uma maldição de ter tantos dons que a gente nem sabe direito o que fazer. Por isto
temos aqueles almoços todos os Domingos. Para sentar, conversar, rir,
recarregar as baterias e redescobrir que não só a gente sempre consegue
continuar, como a gente sempre erra em se tratando das nossas inseguranças.
Nós ficaremos bem.
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