Eu
preciso de um ano novo. Não
me leve a mal; 2013 conseguiu ser ainda mais do que eu esperava quando desejei
esperançosamente durante o réveillon
passado que este fosse o melhor ano das nossas vidas, e de certo modo foi.
Claro, erros foram cometidos, calamidades aconteceram, pessoas se afastaram e,
por mais que pareça que nada mudou, tudo está diferente. Eu estou diferente. Eu
cresci, amadureci, sorri (inclusive em fotos), chorei, ri, gritei, andei,
corri, me acidentei e voltei a andar. E cá estou, tentando ser assíduo com a
minha escrita que, por algum motivo, não parece mais fluir tão naturalmente
quanto antes. Talvez seja por cansaço, talvez seja pela fadiga emocional que eu
ando arrastando dentro de mim. Eu não sei. Ultimamente tem sido difícil
discernir algumas coisas, como quem é amigo e quem não é, aonde eu quero ir e
aonde eu não quero, e quantas pedras de gelo eu quero no meu copo de uísque.
Mencionei que já posso beber de novo? Pois é. Seis meses depois e cá estamos,
já com dor de cabeça por ter tomado cervejas demais no almoço de Domingo. A
vida tem dessas coisas. Este ano teve dessas coisas. Talvez nem todos concordem
que foi bom, mas definitivamente foi diferente à sua maneira. Mas não é disto
que eu quero falar.
Eu quero falar sobre o que eu sempre
falo, porque aparentemente é só disso que eu sei viver. Amor, amigos,
antibióticos... Não me leve a mal, eu ainda quero amor. Espero que chegue logo
o dia em que eu aprenda a amar tão bem quanto acredito que sou capaz de
escrever sobre isto. Não deveria me espantar que a teoria vem muito mais fácil
a mim, e indiscutivelmente de maneira mais poética, do que a tragicomédia da
prática que em um momento nos faz agradecer por aquela pessoa, e vez por outra
nos faz querer fugir dela. Eu ainda quero amigos, mas não quero obrigar mais
ninguém a passar tempo comigo caso não seja do seu interesse. Se quiser
conversar, dar risada, dividir uma cerveja ou simplesmente fazer nada, sabe que
eu estou aqui. Sabe aonde me encontrar, que número de apartamento deve
interfonar e que você pode se sentir em casa aqui. Se não quiser entrar, tudo
bem também. Ultimamente eu ando recebendo desculpas demais. Por promessas demais
que foram feitas em vão ou por impulso, mas que não estavam aptas para serem
cumpridas. O que particularmente me ofende, para ser bem sincero. Em se
tratando compromissos, diga o que quiser de mim, mas promessa feita é desafio
aceito. E um desafio aceito deve ser cumprido.
Foi isso o que me levou adiante
muitas vezes durante este ano, especialmente quando as coisas pareciam ir de
pior a óbito. Quando deixei oportunidades passarem e decidi que precisava
levantar a bunda do sofá e fazer alguma coisa se quisesse que minha vida se
tornasse mais do que um pedido rotineiro na pizzaria e dois litros de Coca-Cola
em um Sábado à noite. Ou quando conheci pessoas que eu jamais pensei que
poderiam fazer parte da minha vida do modo como fazem hoje. Pessoas, inclusive,
que eu já havia conhecido antes e descartei com a mesma facilidade com a qual
me deparo com momentos em que poderia tomar uma decisão que mudaria todo o rumo
da minha vida, e aceno para estes momentos quando deixo passarem batidos por
mim. Mas isso acaba aqui, juntamente com 2013, meu cinismo desenfreado e minha
falta de fé na humanidade. Se é que promessas realmente valem alguma coisa.
O que me deixa feliz é que nem toda
a desesperança que habita o meu ser foi o bastante para impedir que 2013 fosse
o melhor ano da minha vida. Eu tenho sorte. Muita sorte. Não é aquela sorte do
tipo comprei-uma-raspadinha-e-ganhei-um-real-pra-comprar-outra-raspadinha-e-tentar-ganhar-mil-reais-de-novo.
Não. É aquela sorte do tipo caiu-uma-telha-na-minha-cabeça-e-eu-sobrevivi.
Cada ano tem sido melhor do que o que passou, por mais que meus dramas pareçam
aumentar e, curiosamente, diminuam a frequência de lágrimas que se escorrem
pelo meu rosto. Eu não choro mais tanto assim, talvez por algum instinto de
autosobrevivencia que as impede de caírem por medo de que eu enferruje de vez.
Mas como se este ano não tivesse sido intenso o bastante, tudo indica que 2014 será
ainda melhor. Com o estágio novo que consegui, a autoescola que pretendo
terminar, e o pós-tratamento do Roacutan
que já me permite sentar em uma mesa de bar e me deliciar com um copo de
cerveja e a sensação de que as coisas estão voltando ao seu eixo.
Mas eu preciso de um ano novo. Sabe
por que? Porque viver cansa. Tentar correr atrás dos objetivos cansa. Tentar colocar
em prática os planos que você só se lembra que fez quando está prestes a dormir
de noite e acaba deixando pro dia seguinte, cansa. Tentar ser aquela pessoa
melhor, mais decidida, menos carente, dependente e romântica, para atrair
pessoas novas e quem sabe até um novo amor, cansa. Tentar cumprir as mil
promessas que você fez no último ano-novo e ainda não cumpriu, cansa. Não vou
mentir. É bem provável que à meia noite eu esteja na sacada com um copo de
uísque em mãos e vislumbrando os fogos de artifício como uma metáfora de uma
mudança que explodiu dentro de mim e me encheu de determinação para enfrentar
os próximos 365 dias que virão de uma maneira diferente, assim como eu fiz ano
passado. Só que apesar de estar no mesmo lugar, será uma pessoa diferente que
estará prometendo um ano novo para si mesmo. Uma pessoa que passou por muita
coisa em 2013, boas e ruins, altos e baixos, risos e silêncios melancólicos,
brindes e tratamentos médicos, mas que sairá deste ano com a sensação
irrefutável de que, se há um ano eu decidi que este seria o melhor ano da minha
vida, então, senhoras e senhores, eu declaro aqui: desafio completo.
Comentários
Postar um comentário