(Texto originalmente escrito durante um
“projeto Verão”... Que não deu certo.)
Comer
é uma dádiva. Sou um defensor até o fim dos tempos de que, caso todo o
resto falhe, um pote de sorvete jamais me deixará na mão. Assim como um
medalhão de filé mignon ao molho
madeira acompanhado de purê de batatas pode ser muito mais confiável do que
algumas pessoas. Felizmente ou infelizmente, digo isso por experiência e
calorias próprias. Mas não é bem isso que eu quero dizer.
Alguns posts
atrás, eu fugi da linha de raciocínio de um dos meus devaneios existenciais
infames sobre algo que eu não lembro - talvez algo a ver com vida, expectativas
ou amor; essas coisas bobas das quais eu sempre falo - e fiz a brilhante
associação entre coração e estômago que todos nós temos, mas juramos
publicamente que não tem nada a ver. Como se sofrer por Fulana tivesse algo a
ver com os dezesseis chopps que eu já
tomei, ou o estresse no trabalho afetasse de alguma maneira meu metabolismo
sobre cinco fatias de bolo de chocolate com raspas de coco, ou se meu estado
civil de "forever alone"
pudesse estar relacionado com meu novo e inspirador relacionamento com bacon.
Eu não deveria estar me aventurando tanto
pelo fantástico mundo dos brigadeiros e cupcakes,
porque realmente não há nenhum motivo inconsciente que esteja tentando
compensar alguma falta no meu coração através de supérfluos perecíveis. Quer
dizer, quase nenhuma. Ultimamente eu percebi o quanto tem sido mais divertido
passar horas chafurdando em uma refeição do que ter algum tipo de interação com
outro ser humano - ou então, ter algum tipo de interação com outro ser humano
sem uma porção de batatas fritas e uma torre de chopp como catalisadores de conversa.
Comer tem sido mais divertido do que normal.
Mais do que uma necessidade fisiológica. Mais do que uma demonstração
instintiva de sobrevivência. Mais do que uma desculpa para puxar assunto com
você. Comer tem sido feliz. Singelamente (ou duplamente, dependendo do “combo” do seu cheeseburger) feliz. Como se felicidade finalmente tivesse nome e
formas definidas, e estivesse disponível em porções pequenas, médias ou
grandes, acompanhadas ou não por alguma bebida e/ou sobremesa. Se até agora
você se considerava gordo de alguma maneira – fisicamente ou emocionalmente –
sinta-se orgulhoso. Meu nome é Igor e eu sou um gordo romântico, acomodado em
um relacionamento sério com pizzas de pepperoni,
lasanhas de microondas, strogonoffs de frango e doses
irremediáveis de vodka com, bom, qualquer coisa igualmente anestesiador.
Porque comida, quando não atrasa ou esfria,
não desaponta. Não mente, trapaceia, engana, ilude ou dá moral e depois nega,
dizendo que é só legal e que é melhor você não criar expectativas sobre ela. Ou
então, talvez meu ceticismo em se tratando de relacionamentos tenha se
alastrado tanto pelas artérias do meu coração (e, convenhamos, parte da culpa
disso é do bacon), que tem sido difícil acreditar em coisas tão abstratas como
amor, enquanto a ciência exponencialmente mais mensurável e deliciosa da
gastronomia consegue me convencer imediatamente da sua existência e eficácia a
cada bife à parmegiana que eu peço.
Já pessoas, por outro lado, também correm o risco de esfriar ou atrasar, mas
com aquela pequena diferença primordial que divide o homem do resto da natureza:
o maldito livre arbítrio.
Porque as pessoas podem escolher esfriar ou
atrasar, dentre tantas outras possibilidades de enganar o nosso coração e –
tragicamente – o nosso estômago. E o que a pessoa faz quando está prestes a
ficar faminta de amor? Ataca a geladeira de madrugada, usa toda a sua
criatividade e condimentos para criar um X-Depressão,
e depois jura que logo logo vai voltar à academia. O que é irônico, já que 83%
da população se mata de correr e suar em uma esteira para ter um banquete de
janelas de conversação no Facebook, depois de postar aquela tradicional foto no
espelho quando os pesos e as aeróbicas finalmente fazem efeito. Não precisa
confirmar estes dados. Sério, não precisa. Por que eu mentira? Nada contra, é
claro. Recentemente voltei a fazer parte do culto à forma e músculos, e atendo
aos cultos diariamente como um bom discípulo, só esperando para que o suor e as
lágrimas que aquele supino reto me causa logo se transformem em orgulho e ego
inflados. Super normal. E o IBGE já tem as estatísticas das minhas “selfies”.
Mas enquanto isso não acontece, e as pessoas
continuam sendo livremente sádicas, e o calor lá fora não parece querer dar
folga tão cedo, eu vou continuar buscando refúgio no happy hour mais próximo, com direito a uma porção de costelinhas de
porco, uma cerveja gelada e uma consciência levíssima.
Melhor fazer gordices sadias do que passar fome por alguém.
(Nota pessoal do autor: Nunca escrever
nada quando estiver com fome. Sofrendo por amor, tudo bem. Com fome, nunca.)
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