O que
dizer quando as coisas
não ocorrem conforme o planejado? Eu entendo que não posso controlar a vida, ou
o tempo, ou o clima lá fora ou o horário de funcionamento daquele bar perto da
faculdade que parece que só abre depois das 23h, sob ameaça de tempestade ou
nevasca, para afastar clientes que não são potencialmente “cool” o bastante para frequentá-lo. Eu entendo o conceito de “fazer planos” e o desastre iminente para
o qual você está fadado a encontrar no fim do dia quando – “inesperadamente” – as coisas não
acontecem do jeito que você queria. É um conceito falho, desgastado e
ultrapassado. E falar que ele é tudo isso é muito fácil; difícil mesmo é mudar.
Senão, por que eu estaria aqui mais uma vez, me afundando nas lamúrias da minha
desesperança? Bom, por isso, e por aquele outro fator que invariavelmente me
deixa propenso a navegar pelos mares desconhecidos da minha psique fragilizada:
o maldito tempo livre. Deve até haver uma fórmula para isso: felicidade é igual
a atitudes, dividido por tempo livre menos planos ao quadrado.
Eu ainda gosto de pensar que todo esse medo,
essa ansiedade, e esse desespero que já nem é mais tão silencioso assim, são
justificáveis. Quando o fim do ano chegar, todos nós que estudamos juntos por
cinco anos na mesma sala, no mesmo corredor, na mesma faculdade, iremos nos
deparar com o fim da linha: o mundo real. Fora das salas de aula, de
orientadores e horários de prova: até aonde eu percebo, o mundo lá fora é feito
de uma imensidão de desorientação e caos. Com exceção de alguns lugares, aqui e
ali, que servem para planos bonitos de fundo para “selfies” e, por que não?, para nos escondermos da calamidade que só
não nos engole por completo, porque não ganhamos o suficiente para fazer isso
valer a pena. Às vezes eu me surpreendo com o verdadeiro tamanho do meu
pessimismo interior, mas ao mesmo tempo me sinto melhor com pelo menos ter um
espaço para derramar toda a minha tragédia com um toque de prosa e uma moldura
de poesia.
Mas apesar de todo esse esboço de divina comédia
que eu chamo carinhosamente de vida, talvez eu devesse mesmo sossegar. Aquietar
as preocupações, aliviar as tensões, e investir mais em campanhas que realmente
importam: como voltar a dormir pelo menos oito horas de sono por dia para
acabar com as olheiras, parar de me alimentar como um carnívoro alucinado em fast-food e de me esconder em paraísos
alcoólicos temporários, e simplesmente deixar a vida acontecer. Por que a mesma
vida que trucida, que aniquila, que parece impiedosa, pesada e insensível,
também não pode ser o contrário? Ou, quem sabe, ela nem seja nada disso afinal.
Não é você, Igor, que também gosta tanto de pensar que tudo acontece por um
motivo, por mais que você ainda não entenda exatamente o por quê?
Pensando bem, talvez o problema esteja mesmo
nos conceitos. Porque “deixar a vida
acontecer” para mim parece tão preguiçoso e aleatório, por mais que isto
não tenha sido definido em nenhum dicionário. Bem como, não existe nenhum
gabarito da vida, onde eu possa conferir se as respostas que confiei como
certas realmente batem. A vida não se baseia em conceitos, nem em certo ou
errado, nem nos últimos cinco anos ou nos próximos cinco. A vida é só... A
vida. Uma coleção imensurável de felicidade, caos, conquistas, derrotas,
estágios remunerados, empregos perdidos, diplomas, notas baixas, almoços de
Domingo, provas de baliza, relacionamentos reais e imaginários, mãos dadas no
shopping, corações partidos, risadas de tirar o fôlego, entre outros momentos
que só se tornam inesquecíveis porque nós mesmos decidimos que foram. O que me
leva de volta aos meus conceitos, e uma necessidade alarmante de revê-los.
Então chega de planos, de uma vez por todas.
Mas também não jogue toda a sua cautela ao vento. Deixe a vida te levar, mas
não perca toda a noção da direção. Dê risada, chore, coma, beba, ame, dance,
passe ridículo, convide ela para sair, roube um beijo no fim da noite, e
adicione todo o bom e ruim que tirar disso à sua coleção. Nem só de bom é feita
a vida, mas é incondicionalmente repleta de experiências. Experiências que,
caso não sirvam para qualquer outra coisa, podem causar risadas em uma roda de
amigos em um bar – contanto que ele esteja aberto. Faça chuva ou faça sol, frio
ou tempestade, na riqueza ou na pobreza, até que o meu otimismo – que eu pensei
que jamais iria encontrar de novo – me separe disso tudo. Talvez a imagem
abstrata dos próximos cinco anos continue assombrando os cantos obscuros dos
meus pensamentos mais insanos, mas por enquanto talvez seja melhor deixá-los
mesmo de lado e tirar uma soneca. Só não digo que este é meu novo plano, porque
pode dar errado.
Deixa quieto, sabe. Pelo bem da humanidade.
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