De
todas as dificuldades,
talvez o nosso medo de viver seja a mais difícil de superar. Afinal, a vida é o
que acontece enquanto você tenta compor um plano B, e o que poderia ser mais
assustador do que ser arquiteto do seu próprio desastre, e de ser o encarregado
pela obra de reconstruir tudo de novo? Mas é isso que a gente faz, dia após
dia, quando sai de casa para trabalhar, ou para estudar, ou para tentar fazer
qualquer coisa na verdade. E se daqui em diante nada mais do que eu disser
fizer sentido, que sejam lembradas apenas essas duas palavras: “talvez” e “tentar”.
Somos seres humanos complicados,
complexados, neuróticos e atarefados cuja única certeza na vida é de que todos
esses dias curtos, esse frio intenso, e essa procrastinação para lavar a louça
na pia vão acabar mais cedo ou mais tarde. E aí vivemos com um “talvez” na base
de todas as coisas, e um “tentar” que só vai depender da gente para
sustentá-las. Talvez eu seja bem sucedido quando esta faculdade acabar, mas pra
isso eu vou ter que tentar encontrar outro caminho para seguir. Talvez eu
consiga um emprego que eu ame, mas para isso eu preciso tentar bater em todas
as portas que eu puder até que uma se abra e me deixe satisfaça com o que eu
encontrar. Talvez eu descubra o amor em você, mas para isso eu preciso tentar
deixar você fazer parte de mim.
Agora que metade de 2014 já passou, como um
quebra-cabeças cuja imagem finalmente começa a fazer sentido, eu acho que
entendo um pouco do porquê de tantas coisas terem acontecido. E apesar da
sensação de que tem sido um fim do mundo após o outro, é assim que se descobre
o que realmente é ser resiliente e, de quebra, o que você realmente precisa ao
contrário do que você acha que quer. E este tem sido um grande problema para mim:
desde a concepção ilusória que eu tinha da vida que eu achava que deveria ter,
até a realidade aparentemente ingrata em que eu vivo, completa com a sua
coleção de limitações e incoerências. Parece uma bobagem bem fácil de aprender,
caso não fosse tão irônica, mas às vezes por mais que a resposta para o
presente esteja na ponta do seu nariz, você nunca irá enxergá-la se continuar
forçando suas vistas para tentar enxergar o futuro. Felizmente ou infelizmente,
tenho um currículo rico em experiência com ironias.
Você precisa conhecer pessoas ruins, lugares
chatos e coisas infames, para saber reconhecer amigos insubstituíveis, lugares
inesquecíveis e coisas raras. Você precisa passar pela chuva para ver o
arco-íris. Você precisa passar pelo ruim para saber sentir o que é bom. E às
vezes na vida, você precisa deixar a merda atingir o ventilador e acabar com
tudo ao seu redor, para descobrir o que realmente é importante nesta vida, e o
que você realmente precisa nela. É assim que prioridades mudam, as companhias
vazias se perdem, os cenários se tornam mais seletos, e a gente percebe que por
mais que ainda reflita a mesma cara no espelho, nós definitivamente não somos
mais como antes. A gente se destrói para se recompor, porque é isso que a vida
exige de nós. Talvez uma pessoa que sai de casa sem ter um plano B guardado no
bolso tenha mais chances de se perder do que alguém que dá dois passos para
trás antes de tentar seguir em frente de novo. E foi aí que eu finalmente
comecei a entender o porquê da surra que 2014 estava me dando.
Só que tudo isso começa com o medo que a
gente tem de quem a gente é, e da vida que a gente tem. Das limitações que nos
cercam, e de que nem sempre todas as possibilidades do mundo estarão ao nosso
alcance. Que nós só temos dois braços que são pequenos demais para abraçar o
mundo, mas que são perfeitamente aconchegantes para acolher outra pessoa que
nos aceite. O medo atrofia a vida, impede o crescimento, e pode até anular um
coração quando este não está disposto a sentir um pouco de frio antes da
primavera. Porque uma hora dessas a merda vai atingir o ventilador, e vai fazer
parecer que a vida não tem mais jeito. E aí você pode escolher entre sentar
no meio-fio e chorar, ou aceitar que as coisas talvez não estejam do jeito
que você queria, mas que nada te impede de tentar algo
diferente.
Aí você me pergunta se eu quero tentar.
Talvez eu não tenha a resposta que você esperava ouvir, mas o que eu te digo é
isso: sim, eu quero. Talvez eu não seja o cara que você quer, mas eu quero
tentar provar que posso ser o que você precisa. Tudo o que você precisa fazer é
jogar o seu medo fora e segurar a minha mão. Se a vida nos falhar, e der merda
por todos os lados, eu te ajudo a limpar. Eu não tenho muito o que chamar de
vida, mas o pouco que eu vi me permite dizer que nada do que aconteceu foi o
fim do mundo. E talvez as coisas fiquem um pouco mais fáceis se a gente tentar
seguir em frente juntos.
Eu também tenho medo de tentar, mas talvez a
gente consiga.
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