Não é você. Às vezes eu estou errado em achar que encontrei a garota certa,
por mais que eu saiba que já deveria ter desmistificado a existência dela de
uma vez por todas. Mas eu tenho um dom de enfiar uma faca no peito para sangrar
poesia que insiste em tomar vida mais do que os meus próprios instintos de
sobrevivência, e que geralmente é que dá brecha para prosas desse tipo.
Parece que quanto mais eu
tento mudar, mais eu me rendo aos meus velhos padrões. Por exemplo, eu prometi
para mim mesmo que não escreveria mais para você. Mas quanto mais eu penso em
mim, meus erros, minhas aspirações, minhas contradições e tudo mais, meu
pensamento invariavelmente também toma a sua forma. Porque você parece ser
exatamente como eu. Desde o egocentrismo exacerbado encoberto, até as
contradições infames involuntárias. Você, que também não sabe exatamente o que
quer, mas foge do que precisa. Você, que chora antes de dormir
desejando por uma vida melhor, mas que não faz ideia do que te falta para ser
realmente feliz. Você, que invoca as minhas inseguranças e as minhas ansiedades
toda vez que a gente se encontra. Você, que gosta de fingir que não precisa de
ninguém quando está em uma multidão, mas que se encolhe na sua solidão porque é
com isso que você está mais acostumada, ao invés de deixar outra pessoa entrar
e sobreviver dentro do seu coração. E o que é mais assustador, é pensar que
talvez eu não te conheça direito. Talvez porque quando eu olho para você, o que
mais me parece claro é o reflexo da minha própria insensatez, ao contrário sua
essência única. Ou então, talvez você seja exatamente como eu a percebo – como um trágico e melodramático reflexo – porque está sendo sincera ao dizer que,
além de não saber descrever o que quer, também não sabe expressar do que é
feita.
Algum tempo atrás eu
escrevi sobre a garota certa. Ou então, sobre o mito do amor instantâneo que a
gente pensa que vai encontrar uma hora dessas por aí enquanto caminha
despreocupadamente pela rua, até trombar com alguém que em questão de olhares
vai provar que é o que estava faltando em você há anos. E eu admiti que não
existe nada disso; que não há pessoas certas, apenas empenho e compromisso para
com alguém que também esteja disposta a assumir as alegrias e os desastres de
uma vida a dois. Mas como a minha paixão eterna por contradições talvez seja o
que me move adiante por aí, acho que já posso estufar um pouco mais o peito
para dizer com propriedade quando se trata da garota errada.
Aquela que não tem nada a
ver com você. Que não entende os nomes em inglês das músicas na sua playlist. Que
insiste em ir só nos lugares mais frequentados para fazer questão de ser vista,
em vês de aproveitar a sua companhia. Que não olha nos seus olhos quando fala
com você. Que não responde as suas mensagens, a não ser quando ela precisa de
alguma coisa. Que não diz que te ama ou pior; que diz que te ama sem sentir de
verdade. Eu já encontrei algumas dessas por aí, e assim como um acidente de
carro acontecendo em câmera lenta bem diante de mim, é assim que eu percebo o
quanto eu tenho me aproximado de você. Não sei se acredito totalmente em você,
muito menos se posso confiar a você algum segredo. Mas a essa altura é seguro
dizer, felizmente ou infelizmente, que eu me importo com você. Mas ao julgar
pela inevitável rota de colisão na qual nós estamos direcionados, nós vamos
bater. E minha experiência me diz que
vai ser mais um daqueles acidentes em que a outra pessoa sai quase ilesa,
enquanto eu fico me debatendo no meio-fio.
Eu percebi que o começo
do fim estava próximo quando me peguei falando de você para os meus amigos.
Alguns estão irremediavelmente torcendo por mim, e interpretando você da mesma
forma esperançosa que eu. Outros já conseguem ver a colisão com clareza, e por
me conhecerem tão bem como conhecem, estes me amam o bastante para mandar eu
cair fora antes que eu me enfie em mais um acidente. O que me faz pensar mais
uma vez, como um pioneiro na arte dos sentimentos não correspondidos, que minha
história está sendo reescrita mais uma vez com uma nova protagonista. E me faz
ter que admitir que estou no lugar errado e na hora errada com a pessoa errada
de novo. E que simplesmente não é você.
Depois de tantas lamúrias
transcritas e trilhas sonoras desperdiçadas após terem sido associadas com as
garotas erradas, eu já deveria saber melhor. Já deveria discriminar as minhas
escolhas com mais atenção, para não acabar me sentindo sozinho ao lado da
pessoa errada no meio de uma multidão de rostos desconhecidos a quilômetros de
distância da minha casa – e, provavelmente, de uma pessoa menos errada. Mas padrões existem por um motivo, e eu também
preciso admitir que há algo nas garotas erradas que me atrai. Talvez seja a
minha paixão por contradições, ou a invariável tradição de ironias sob a qual a
minha vida parece existir, ou apenas pelo fato de que eu sempre achei você
muito bonita, muito simpática, e que ao me aproximar um pouco mais de você eu
enxerguei um pouco de mim – em um reflexo tragicômico irresistível – eu jurei
para mim mesmo que seria capaz de andar sobre a água. E mais uma vez, meus
amigos – que sempre provam saber muito mais sobre mim do que eu mesmo – acertaram
em prever que eu certamente me afogaria... De novo.
Também existe a
possibilidade que vai além do meu umbigo, de que não seja eu o cara para você,
e que seria mais fácil evitar o drama da próxima vez ao ficar quieto no meu
canto e deixar você passar por mim sem causar acidentes. Mas na falta de uma
garota menos errada, no que eu me inspiraria para escrever no dia seguinte?
Definitivamente, as minhas contradições estão indo longe demais.
Nesse caso, não é você;
sou eu mesmo.
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