Para falar a verdade, eu não gostava muito de você. Também, não
era pra menos: quando eu te conheci, você nem sabia falar ainda. Em
compensação, depois que aprendeu, nunca mais parou; e de “mamãe” e “papai”, logo
aprendeu outras frases fundamentais como “você
está errado, Igor!”, ou, “devolve o
meu brinquedo!”. Eu admito que talvez não tenha sido o melhor exemplo que
poderia para você; porque te ensinei palavrões enquanto o pai não estava olhando,
e abandonei você em frente à televisão por horas intermináveis de filmes quando
deixavam você na minha casa sob os meus cuidados, e te instruía a mentir sobre
que horas você foi dormir para que o pai não brigasse comigo;
- Você
lembra que horas foi dormir?
- Lá pelas 3
eu acho.
- É, deve
ser. Eu também não lembro. Mas se o pai perguntar, que horas você vai dizer?
-
Meia-noite!
- Não!
Meia-noite dá muito na cara. Acho que já usamos essa antes. Diga que foi dormir
lá por uma e quinze. É mais realista.
E depois de aprender a
falar, você aprendeu a andar, a correr, a ler, escrever e tudo mais. Tudo muito
rápido, muito discreto, que eu nem percebi exatamente quando foi que você já
provou ser tão madura para alguém da sua idade. Alguém que, com 13 anos, definitivamente
já me ultrapassou em termos de maturidade emocional. Porque quando nós temos um
desentendimento, você argumenta até perder o fôlego; eu mostro a língua e deixo
você falando sozinha. Whatever.
Ficou tão madura que
agora sou eu quem aprende com você. Sou eu quem pede indicações de bons livros
para ler, ou quais séries novas que você já viu vale a pena acompanhar, ou até
mesmo conselhos sobre como lidar com o pai quando ele está naqueles dias menos
simpáticos. Nós não tivemos o melhor dos começos, mas é só porque eu não te
conhecia ainda. Agora, 13 anos depois, eu posso dizer honestamente o quanto tem
sido um prazer. Porque você é incrível; é uma das provas de tudo de bom e
correto que existe nesse mundo. É o que me põe pra cima quando me sinto mal, e
é o que me põe pra baixo quando estou me achando demais também. É a pessoa que
sabe exatamente como lidar comigo; que já percebe de longe quando meu humor
permite que você chegue perto o bastante para um abraço, ou quando é melhor
passar longe e deixar isso para outro dia.
Eu não sou o melhor
exemplo que você poderia ter, e ainda bem que você não me seguiu tanto assim.
Você vai ser bem melhor do que eu; deve
ser bem melhor do que eu. Vai usar seu carinho, sua inteligência, sua simpatia,
seu bom humor e sua impressionante lista de livros que já leu ao longo da vida
para ganhar o mundo quando tiver idade o suficiente para isso. Não é pra menos
também; você começou cedo. Modéstia a parte, talvez eu não tenha ido uma
influencia tão ruim assim.
E de agora em diante o
tempo vai passar mais rápido ainda, e eu quero que você saiba que pode contar
comigo. Porque você vai crescer e amadurecer muito mais, e aprender certas
coisas sobre esse mundo que fogem dos nossos livros, filmes e músicas
favoritas. E eu quero estar do seu lado quando você se sentir perdida. Primeiro
namorado, primeira discussão, primeira tentativa de fugir da casa dos seus
pais, primeiro porre, primeiro grau do colégio... É engraçado parar pra pensar
sobre o quanto ultimamente minha vida tem girado em torno de últimas coisas,
enquanto a sua está só no começo. É inspirador, até; e se você me permitir, eu
vou te ajudar a não cometer nenhum dos erros que eu já cometi ao longo do meu
caminho. E você sabe que não foram poucos...
Agora eu vou deixar registrado aqui algumas coisas que você
provavelmente ainda não sabe sobre mim, ou então não chegou a ouvir em voz alta
(e sinta-se livre para usá-las contra mim durante brigas ou discussões, porque
somos irmãos e isso faz parte da vida): eu te amo mais do que eu consigo
descrever no meio desta bagunça de palavras mal organizadas, e me importo com
você mais do que você imagina que eu sou capaz de demonstrar. E se você me
conhecer bem também, e eu acho que conhece, sabe que não sou de falar essas
coisas assim, tão livremente. Espero que o seu dia seja feliz, assim como toda
a jornada que você ainda tem pela frente, e que nunca pare de ler, escrever,
brincar, sorrir, abraçar, falar besteiras e, principalmente, passar alguns fins
de semana na minha casa afundada no sofá na base de pizza, refrigerante e
televisão. Tem coisa melhor? (Não, não
tem. Não discuta comigo. Pare. Você está errada. Está sim! Ah, quer saber,
esquece tudo isso! *mostra a língua e
vai embora*)
Feliz aniversário, Vitória. Você é a segunda edição,
reeditada e revisada, do legado da família do nosso pai. E quando se sentir
perdida ou em dúvidas, me procure; estou aqui para te ajudar a escrever os
próximos capítulos.
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