(Dedicado especialmente aos noivos, Greka e
Henrique, que tiveram a cerimônia mais perfeita que eu já tive o prazer de
assistir, e a honra de participar. Fica aqui a minha singela homenagem, com
toda a sátira e ironia possíveis, para não perder o costume.)
Esta é a história de um
casamento que tinha tudo para dar errado. O evento estava marcado para uma
tarde absurdamente quente de sábado. A maioria dos convidados era de fora da
cidade, e não sabiam exatamente onde ficava a igreja. O vestido da noiva foi
encomendado do exterior, com risco de acabar sendo extraviado. O noivo quase
perdeu as alianças antes da cerimônia começar. A família do noivo parecia calma
e organizada; a família da noiva era doida. O tapete da entrada da igreja
estava amarrotado ao ponto de facilitar para que alguém caísse. A noiva se
atrasou para chegar. E como se tudo isso não fosse o bastante para acabar em
desastre, eu era um dos padrinhos.
Andar por aquele corredor extenso que ia da
porta da igreja até o altar parecia uma jornada inacabável, e imaginei que
fosse assim que os noivos estivessem se sentindo. Mas apesar de tudo, do calor,
do atraso, do tapete amarrotado e de eu quase sentar no banco errado, aconteceu
o inimaginável: a cerimônia foi perfeita. Desde a entrada da noiva até a troca
das alianças, tudo correu melhor do que o imaginado. E enquanto eu estava
sentado ali no primeiro banco, tudo o que eu pude pensar foi na conversa que
tive com a minha tia, a mãe da noiva, algumas horas antes da cerimônia:
- Como você está se sentindo, tia?
- Estranha. Está tudo muito redondo, muito
certo, muito...
- Fácil?
- Isso!
- É porque nós estamos acostumados com as
coisas darem errado.
- Exatamente, Igor. Mas hoje, não. Hoje está
tudo nos conformes. Tudo no horário.
E o sentimento que a minha tia teve foi o
mesmo que o meu tio, e suspeito que o mesmo que os noivos tiveram. E, claro, é
o mesmo que eu carrego comigo quase todos os dias quando saio de casa de manhã:
as coisas não vão dar certo. Algo vai dar
errado. Não adianta fazer planos... Isto é, até aquela tarde de sábado que
nem estava tão quente assim, em uma igreja que todos os convidados encontraram
sem problemas, e que a noiva não passou muito do seu horário para chegar,
completamente linda em seu vestido importado que chegou conforme o esperado. O
noivo estava com as alianças prontas, e as famílias estavam a postos para
compartilhar de todo o amor e fidelidade que foram jurados pelo casal. Foi uma
sensação totalmente estrangeira para mim: ser testemunha de um romance que na
verdade teve tudo para dar certo, e realmente deu.
O que naturalmente me fez pensar em mim, e
no meu coração tragicamente acostumado com planos desfeitos, imprevistos
derradeiros e acidentes de percurso. Mas se aquela cerimônia provou algo além
do amor que os noivos sentem um pelo outro, foi para me inspirar a voltar a
acreditar que as coisas podem sim dar certo. Que a vida pode ser fácil. Que
planos podem correr conforme o previsto. E que aquela longa jornada que os
noivos fizeram até o fim do corredor do altar é mesmo longa e difícil, mas que
vale a pena ser trilhada. Eu só não estava no fim do meu corredor ainda, mas
isto não significa que eu não deva me permitir fazer planos também.
O casamento foi impecável, os votos foram
sinceros e o amor foi compartilhado. E quando os noivos refizeram o percurso
daquele corredor em direção a uma vida nova a dois, eu não pude deixar de
sentir toda a esperança do mundo renascer em mim. As coisas podem dar certo
sim. Cerimônias perfeitas existem, bem como o amor pode durar, e compromissos
podem ser levados a sério. Eu também não pude deixar de sentir que estava perto
de começar a minha própria jornada rumo ao fim do corredor.
Tudo o que eu preciso agora é de alguém que
esteja disposta a dizer, “Eu aceito”.
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