Eu odeio começos. E sim, é com esta atitude que eu estou adentrando o ano de 2015. Mas calma, não é puro exagero, impaciência ou desesperança da minha parte. Eu vou explicar, e para isso eu vou ter que partir do começo. Infelizmente.
Eu passei o ano de 2014 inteiro escrevendo
sobre como tudo acaba, ironicamente sem nunca parar para pensar sobre o que o
fim das coisas realmente significa. Sobre como o fim da faculdade
automaticamente acarretaria em uma nova rotina a ser construída; uma vida
pós-aulas todas as noites, provas todos os bimestres e idas ao bar sempre que a
sede fosse grande e a vontade de estudar sobre higienismo fosse pequena. E
sobre como esta nova rotina, por sua vez, contemplava todas as possibilidades
do mundo que estivessem ao meu alcance. E, em contrapartida, nenhuma delas
também, visto que já estamos em Janeiro e eu preciso confessar que não, eu
ainda não tenho um plano. E é isto o que me mantém acordado à noite, e inquieto
durante o dia, e impaciente quanto aos começos que me cercam. O começo de uma
carreira profissional, ou quem sabe de uma pós-graduação, ou até mesmo de um
mestrado ou um intercâmbio para clarear as ideias. Eu não sei o que fazer, ok?!
Eu. Não. Sei.
Eu apreciei a graça de receber uma mensagem
de ano novo me desejando algo simples: um caminho para ser trilhado, e que eu
pudesse tirar reflexões dele para continuar seguindo em frente. Simples em
teoria, porque o único caminho que eu consigo trilhar ultimamente é o das
minhas corridas diárias pelas avenidas da cidade, em busca de mais reflexões e
menos quilos. E para falar a verdade tem sido bastante esclarecedor, exceto
quando os carros ou os outros corredores não me obrigam a interromper o ritmo
para dar a preferência. E é claro que eu vejo isso como uma metáfora de vida
escancarada só para me sacanear enquanto eu tento fugir das minhas
inseguranças: não adianta correr, Igor, porque algo sempre vai aparecer para te
lembrar que não basta partir em disparada somente em rumo ao pôr-do-sol. Você
precisa de um caminho que vá além dele.
Muitos começos nas minhas mãos ainda me
deixam cabisbaixo pelos fins que colecionei ao longo de 2014. Muitas
conquistas, muito aprendizado, muitas lembranças e risadas sim, mas tudo entre
despedidas e desapegos. Talvez 2015 deva ser um ano de transição; de mudanças
reais, ao contrário das promessas bêbadas que considerei verbalizar durante a
queima de fogos no ano novo, mas que felizmente acabei guardando para mim
porque sabia que não estavam partindo de mim, mas de um número excessivo de
taças de espumante. Eu também ainda não sei dar um sentido para isso, até
porque ainda estamos nos fatídicos primeiros dias. Dias de acomodação
pós-festas, de idas e vindas nas estradas, de parentes e férias coletivas, e de
rabiscos mentais sobre o que fazer com esse 2015 que mal chegou, mas que já
considero demais.
Eu acredito que os primeiros dias de qualquer
coisa são cruciais. São o que nos definem. São o que dão o tom para os projetos
que tentamos colocar em prática, as experiências para as quais nos abrimos, e
os relacionamentos para os quais decidimos dar uma chance. Mas entenda que eu
considero os primeiros dias como momentos definitivos porque, no final das
contas, são eles quem ficam marcados na memória. O primeiro dia naquele
emprego. A primeira vez entrando naquela sala de aula. A primeira noite naquele
apartamento. A primeira mensagem que eu recebi de você. Talvez seja uma
sensação que nasça e morra comigo, mas eu sempre considerei o meu desgosto
pelos começos tão proporcional à ironia dos fins. Porque, por exemplo, quando
você se foi, tudo o que eu consegui pensar foi a noite em que você surgiu na
minha vida, e as conversas sem fim que compartilhamos ao longo dos primeiros
dias. Talvez eu não goste de começos pelo tamanho das possibilidades que eles
trazem. Ter todos os sonhos do mundo ao meu alcance me parece mais intimidador
de que excitante de se imaginar. Bem vindo ao resto da sua vida, Igor; o que
você vai fazer com ela? Aponte para uma direção e reme. Encontre um caminho e
corra. Tome uma decisão e aceite-a. Meu Deus. Eu não sei.
O que eu sei, por exemplo, é a falta que
você me faz. A cada vestido estampado que eu vejo na rua. Cada vez que eu
escuto aquela música. E sempre que eu encontro uma foto sua perdida entre
tantas outras no meu celular. Quando eu penso que havia deletado todas, você
reaparece para me lembrar de que o que nós compartilhamos foi mais duradouro do
que o modo de exibição dos meus arquivos, e que se eu me afundar um pouco mais
na barra de rolagem, eu ainda vou me deparar com o seu sorriso. Aquele sorriso
sincero e cheio de promessas que você me deu naqueles primeiros dias.
Eu preciso de um plano, um rumo, uma
direção. Um caminho a seguir, para dar um pouco mais de forma a essa essência
tão estranha e surreal que 2015 parece ter para mim por enquanto. E que eu
sinto que só vai aumentar depois da colação de grau, da formatura, e das
respostas dos e-mails que andei enviando por aí com o meu currículo anexado
neles. E eu acredito que vou encontrar uma saída desse labirinto, seja andando
com calma pela linha tênue que ainda percorro entre acadêmico e profissional,
ou correndo afobado em direção ao fim das avenidas da cidade em busca do
pôr-do-sol. Afinal de contas eu cheguei até aqui, não é? Eu acredito que toda
essa ansiedade seja normal, aceitável até. É uma vida que recomeça, nos
primeiros dias de um ano novo.
Eu vou achar um caminho, e eu vou ficar bem.
Esta é uma promessa da qual eu não abro mão.
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