Nem tudo acaba.
Um dia eu ainda vou aprender, de uma vez por
todas, que as coisas são menos definitivas do que eu acredito que elas sejam.
Que os objetos na visão do retrovisor podem aparecer maiores e mais significantes
do que eles realmente são. E que, incrivelmente, nem tudo acaba. As coisas
só... Mudam.
E eu já tive tantas oportunidades de me
permitir aprender isso. Mas parece que quanto mais algo está diante de mim,
mais eu procuro por outra interpretação. No mínimo, este é alguém que não gosta
de ser contrariado, dado que o que está em sua frente não lhe agradou muito e
outro significado precisava ser encontrado. Ou, no máximo, este é alguém que
não sabe deixar a vida ser... Simples. Leve. Flutuante.
O ano mal passou da metade, mas a quantidade
de desfechos que eu já carrego comigo parecia ser demais para ser verdade.
Claro que nem tudo são epitáfios; muita coisa também começou. Mesmo sendo
conhecido por deixar coisas boas passarem reto por mim, outras acabaram ficando
para tomar mais uma taça de vinho comigo. Descuidos momentâneos, em que a gente
se esquece de se auto-sabotar por um instante, mas que acabam fazendo quase
toda a diferença. Só não faz toda a diferença porque não foi proposital.
Eventualmente na vida, talvez o segredo para ser feliz esteja mesmo em parar de
tentar. Na melhor das hipóteses, é melhor isto do que admitir para nós mesmos
de que estávamos insistindo em bater nas portas erradas, ou em nos apoiar nas
pessoas erradas.
O que eu quero dizer com tudo isto, afinal?
Bom, para começar, este tem sido o ano em que as minhas teorias foram se
desgastando pouco a pouco, e as minhas verdades tornaram-se cada vez mais
rarefeitas. A verdade é que eu nunca realmente soube que as coisas ficariam bem
– só parecia algo reconfortante para repetir a mim mesmo, e para dizer aos
outros quando estes também pareciam ter a sua fé se esvanecendo. E convenhamos:
você acreditou, não foi?
Bom. Eu acreditei.
Para quem me conhece, a minha velha história
já deve parecer tão cansada e repetitiva, ao ponto de não parecer mais tão
inspiradora. O garoto que se mudou para outra cidade, foi morar sozinho,
começou a trabalhar sem nenhuma experiência, e aos poucos aprendeu a salvar uma
vida: a minha.
E apesar de não estar me sentindo estável o
bastante, eu me descuidei e deixei a porta destrancada. E logo vieram outras
pessoas, derrubando coisas no chão e tirando outras do lugar, falando alto e
ocupando o meu espaço. E me mostrando cada vez mais que uma vida não vale muita
coisa a não ser que seja compartilhada. Porque se não fosse por isto, não
haveriam fotos no sofá, jantares ao redor da mesa, ou brindes na sacada.
Quando eu paro para pensar, ainda consigo me
lembrar do medo. Da insegurança, da ansiedade.. De como tudo parecia novo e
impossível, mas que seguir em frente ainda era mais do que necessário – e voltar
atrás não era uma opção. E por anos esta foi a história que eu decidi escrever
aqui, quando deixei a vida que eu conhecia para trás, para sair por aí e
descobrir exatamente até onde mais eu poderia ir – e quem eu poderia me tornar
através disso. E eu gosto de pensar que fui longe.
Por seis anos e mais de seiscentos textos
sobre mudanças, amigos, família, saudade, medo, esperança, amor e tudo mais que
me fizesse tirar um tempo para refletir e escrever sobre o quanto algo era
importante para mim, eu me mantive no meu caminho. Cada capítulo foi como uma
migalha que deixei ao longo da trilha, para que quando eu me sentisse perdido
ou cansado demais, eu tivesse algo para me lembrar da onde eu estava vindo – e para
onde eu queria ir. Encontrei muita gente por aí, e visitei mais lugares do que
imaginava ser possível, mas eu ainda acredito que há um mundo muito maior lá fora
que precisa ser explorado. E que eu preciso crescer muito mais do que eu pude
até agora. E da última vez que senti isso... Eu fui embora e comecei de novo.
Algumas coisas acabam, outras mudam. Eu sou
do segundo tipo.
Considere este o meu aviso prévio, Cascavel:
eu estou indo embora. Mas antes de ir, tem algumas coisas que eu ainda gostaria
de escrever para você...
Ainda faltam 28 dias.
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