Um ano atrás, David
Bowie morreu. Uma lenda do mundo da música que eu só tive o prazer de descobrir
poucos meses antes do fatídico dia do seu falecimento. Isto porque eu estava
ocupado demais, lidando com um fatídico dia meu. Vários deles, aliás, desde a
mudança para Foz do Iguaçu. Enquanto ainda não conhecia ninguém pela cidade,
nem sabia como percorrê-la direito, fiz o que qualquer pessoa sensata faria:
comecei a criar memórias por aí, por mais singelas que fossem. Todos temos que
começar de algum lugar, não é mesmo? E no meu caso, foi com uma música.
Gostaria de dizer que foi algo mais épico,
dramático e inesquecível para ter uma aventura extraordinária para revelar
aqui, mas não. Eu só andava por aí escutando “Life On Mars?” com meus fones de ouvido ligados no volume máximo.
Porque era assim que eu me sentia por aqui – em um admirável mundo novo. Mas
sem uma noção sequer de como poderia sobreviver aqui, apesar de ter tantos
planos em mente. Os mesmos planos que, há um ano, chegaram bem perto de se
desfazerem por completo.
Algumas pessoas que conheci posteriormente
não sabem dessa parte da história, mas houve um breve período que pensei que
minha expedição em Marte terminaria mais cedo do que o esperado. E mesmo sem
conhecer nada nem ninguém, eu ainda não estava pronto para ir embora. Mas
aconteceu que eu não fui. Apesar dos pesares, eu consegui ficar. E em questão
de mais alguns dias, eu conheci pessoas que me ajudaram a continuar. E um pouco
mais adiante no caminho, eu realizei o sonho que tanto buscava por aqui. Com
menos de um semestre de bagagem, e uma atitude mais sarcástica do que o
necessário, eu passei a trabalhar como jornalista.
Enfim, Marte estava viva e bem.
***
Um ano depois, as notícias do mundo colocam
em pauta homenagens para prestarem a David Bowie. Quanto a mim, estive
contemplando mais uma vez a possibilidade de ir embora. Não por escolha, mas
por circunstância. E durante os dias que abalaram o meu mundo de novo, a mesma canção
ecoava pela minha mente. Com uma distinta diferença: sem o ponto de
interrogação.
Existe vida em Foz do Iguaçu sim, e eu não
estou pronto para deixá-la.
***
Há quem diga que David partiu deste mundo
cedo demais. Ainda havia muito para conquistar, mesmo depois de tudo que já
havia realizado. Apesar de todos os títulos, recordes e fãs que reuniu ao longo
da vida, seu potencial parecia inesgotável. Sua capacidade de tornar-se uma
lenda viva não parecia surpreender – só parecia coerente. Mas ele partiu, e o
mundo invariavelmente reassumiu seu ponto de interrogação.
Existe vida em marte, mas por quanto tempo?
Existe vida em marte, mas por quanto tempo?
É por isso que quero tentar fazer diferente
agora. Não por alguma resolução de fim de ano que prometi a mim mesmo enquanto
estava bêbado de champanhe e cerveja barata durante as primeiras horas de 2017,
mas por mim. Por tudo que fiz para chegar até aqui, e para que nada do que
ficou para trás seja em vão, porque não foi. Não é. Isto tem que valer a pena,
porque foi caro, foi cansativo e mais vezes do que deveria, eu pensei em
desistir. Mas não o fiz e aqui estamos. E não pretendo esperar o dia da minha
despedida para descobrir que estava protagonizando o show mais famoso do mundo:
a minha vida.
Pensei que não teria metas para este ano, por
mais que “não ter metas” ainda possa
ser considerado uma. Mas tenho uma missão a cumprir, por mim mesmo, durante o
tempo que ainda me resta por aqui. Posso ficar por mais alguns anos, ou posso
partir amanhã. Seja como for, este é o meu manifesto: não deixar pontos de
interrogação.
Por David, por mim e pelas pessoas que estão
comigo: o show tem que continuar.
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