Quando você acorda de manhã, talvez o
seu primeiro pensamento não seja tão pessimista quanto “o mundo como eu o
conheço pode acabar hoje”. Não. A maioria das pessoas é mais otimista do que isso.
A maioria das pessoas provavelmente pensa que terá um bom dia pela frente, que
os problemas eventualmente irão se resolver, e que mesmo que tudo não fique
completamente bem ao final do dia, sempre haverá uma próxima oportunidade de
acertar as coisas. E se você for uma dessas pessoas, volte para o seu dia
feliz. Porque este não é o desabafo de alguém que ainda acredita que as coisas
ficarão bem.
Este é o
desabafo de alguém que viu o mundo acabar mais vezes do que deveria, em menos
tempo do que parecia ser possível.
Os últimos dias
não foram fáceis. Poderia dizer, inclusive, que 2017 como um todo tem sido o
ano dos planos desfeitos, das promessas mal cumpridas e da lástima e definitiva
teoria de que se algo pode dar errado, é só uma questão de tempo para isto.
2017 tem
sido, basicamente, sobre desconstrução.
***
Nós
acordamos e saímos de casa para trabalhar, à procura de objetivos para
alcançar, esperando que os problemas possam ser resolvidos e, quem sabe se
tivermos sorte, ainda reste tempo para reencontrarmos aquela pessoa especial ao
fim do dia. Alguém que esteja esperando por nós com duas taças de vinho e um
beijo para selar as vitórias e amenizar as pendências das últimas 24 horas. E eu costumava viver assim; sob uma noção
romântica de que as coisas podem dar certo, que tudo tem a sua devida hora,
lugar e, principalmente, limite. Mas não. A vida não segue o roteiro de uma
comédia romântica. Aliás, a única coisa que a vida segue é adiante. Mesmo que
ela atropele você pelo caminho.
Durante os
dias que se passaram, eu vivenciei o término de mais um relacionamento, a
turbulência de mais uma mudança, e a tristeza de mais uma perda. Pode não ter
sido nada original, mas definitivamente não foi algo fácil de absorver. Com o
passar dos dias, não há muito que possa diferir em termos de tragédia – a única
variável permanece sendo o elemento da surpresa. Você não sabe o que vai
acontecer contigo amanhã. E já que estamos nos aprofundando nos confins do
pessimismo, ainda dá tempo de algo te surpreender hoje.
Não pense
que todo este desânimo é gratuito. Não é. Desabafos possuem uma função, por
mais descontentes que eles deixem quem aceita acolhê-los. E o que eu estou
tentando fazer é algo triste, porém simples: abrir mão das minhas decepções,
publicamente, em voz alta, para que seguir adiante pareça menos complicado.
Porque a
verdade é que todo o tempo que passamos nos empenhando em tarefas diárias como
tentar planejar o dia de amanhã, ou alinhar os quadros na parede, ou lembrar de
mandar uma mensagem para ela no meio da tarde pra dizer que está com saudade,
ou dar uma passadinha na casa daquela sua tia que você não vê há sabe-se lá
quanto tempo... Tudo tem validade. A vida é uma obra constante onde as reformas
ocorrem o tempo todo.
Agora, não
estou dizendo que você não deve fazer planos. É claro que deve! E não estou
dizendo para não investir nas pessoas, nos lugares ou em si mesmo, imaginando
um futuro melhor. É claro que precisamos. É por isso que levantamos da cama
pela manhã, todos os dias. Não deixe o meu desabafo destruir toda a esperança
que ainda lhe resta. Assim como estou tentando desesperadamente manter a minha,
mesmo ainda diante dos destroços do último mês.
Pra quem é
acostumado a viver com base em metáforas, acho que atingi o limite das minhas
ao ser obrigado a aceitar que o amor chegou ao fim mais uma vez, e ao
encaixotar todos os meus pertences para tentar encaixá-los em outros cantos de
um jeito que fizesse parecer como um lar, e ao ter que me despedir de alguém
que eu visitei menos vezes do que deveria em vida, e que jamais serei capaz de
me redimir em morte.
***
Esta é a
nossa realidade: quando menos esperamos, somos confrontados com a temporalidade
das coisas. E mesmo quando pensamos que existem pessoas insubstituíveis e lugares
inesquecíveis, você percebe que não. Tudo é construído, mas nada está escrito
em pedra.
O que eu
espero daqui pra frente não é que as coisas se tornem magicamente mais fáceis.
Tampouco quero aceitar que estou me tornando alguém silenciosamente amortecido
pela desconstrução do mundo ao meu redor. Porque uma outra verdade também é
clara: da demolição de uma vida conhecida, surge a necessidade de reconstruir
uma nova.
Felizmente,
nesse caso, ser obrigado a adaptar-me à mudanças inesperadas é algo
ironicamente familiar para mim. E nada comprova isso tão bem quanto este exato
momento aqui: estou escrevendo novamente. Dramático, irredutível, egocêntrico.
O que passou, passou, e eu ainda estou aqui. Então lá vamos nós de novo.
Mãos à obra.
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