Eu estive apaixonado pela garota
errada desde os meus 14 anos, e não pulei um dia sequer desde então. Claro que
a garota mudou de nome com o passar dos anos, assim como a cidade em que
morávamos, as músicas que eu dedicava a ela e as sacadas nas quais eu passava
noites em claro. Sentado, esperando, rezando que ela estivesse pensando em mim
também... E mesmo quando não era recíproco, ou quando a esperança parecia ser
tão rarefeita quanto os ventos de uma noite de verão, e uma lágrima ou outra
acabava por escapar dos meus olhos, eu era feliz. Por simplesmente ainda
acreditar em algo, em nós, eu era feliz. É algo que nós perdemos com o passar
dos anos, entre uma pessoa errada e outra: a habilidade de continuar
acreditando que pode dar certo.
Às vezes eu
ainda me pego pensando em alguém, mas não do jeito que já cheguei a sonhar um
dia. As sátiras envolvendo andar de mãos dadas no shopping e as fantasias sobre
ter alguém com quem dividir o cobertor em uma noite fria são mais fáceis de se
imaginar, mas bem mais distantes de se alcançar. Houve um tempo em que uma
simples conversa me fazia feliz. Os tempos em que você ficava feliz em receber
uma mensagem minha, e me deixava igualmente ansioso ao imaginar no que você
poderia estar pensando... Esses tempos se foram.
É uma
segurança triste que acompanha a experiência de viver aos vinte e tantos anos,
em comparação à novidade e toda a expectativa de um primeiro amor. Já faz tempo
que não tenho primeiras vezes; só segundas intenções e decepções com terceiras
pessoas. Algo que se torna terrivelmente verídico através da minha lista de
contatos do WhatsApp, ou pela lista
de visualizações que minha última foto publicada recebeu em uma das minhas
quinze redes sociais.
O mundo se
tornou mais rápido. Mais suscetível a ter as coisas instantaneamente. E por
mais que eu gostaria de esquecer, meu coração ainda é do tempo das longas
esperas. Porque entre uma resposta e outra, entre um olhar e outro, eu me
permitia sonhar sobre você. Sobre nós. O que hoje chamam de vácuo, costumava
contemplar mais sonhos do que pode conceber a nossa vã fibra óptica.
Eu costumava
chorar por amor. Amargamente, loucamente, verdadeiramente. Mais vezes do que
gostaria de admitir, chorava por amores que nem chegaram a realmente existir.
Chorava pelas chances que nunca tive de provar que eu poderia ser o cara que
você estava esperando. Chorava pelos planos que precisei desfazer na minha
cabeça, porque no mundo real você não estava disposta a andar de mãos dadas
comigo. Este foi o mesmo período em que eu me sentia constantemente ofendido
pelas noções de que amor era um jogo, e que vencia aquele que demonstrasse o
menor interesse. Talvez seja por isso
que eu nunca tenha vencido: eu não sabia lidar com esse tipo de regras.
O tempo
passou e as canções mudaram, mas quanto mais eu penso sobre o que me leva a
escrever sobre isso, mais eu percebo que esta é a única salvação que me resta.
A única maneira de manter viva a parte de mim que realmente sofria por amor, e
passava noites sem dormir pensando naquela garota, e sonhava acordado com tudo
que poderiam viver juntos, se ela só me desse uma chance...
Às vezes eu
penso que essa parte de mim morreu. Quebrou-se de um jeito incapaz de reunir os
pedaços, esmigalhados por cada paixão incerta que surgiu ao longo do caminho. E
sobre ainda encontrar razões para acreditar, é triste pensar que a esperança
possa viver na barra de rolagem de uma lista de contatos. Se ela disse “não”, ou então não disse nada, talvez
outra diga “sim”. Eu não vivo assim,
ao contrário da crença popular que já ouvi falar ao meu respeito. E talvez seja
nesses momentos em que eu deteste esta cidade. Este não é quem eu sou. Você não
deu tempo de conhecer quem eu realmente sou.
E cá entre
nós, eu ainda queria que você tivesse me conhecido.
Eu tenho
meus defeitos. Posso ser grosseiro ou arrogante em alguns momentos, e
prepotente e egocêntrico em outros. Mas são defesas construídas pelo tempo,
resultantes de uma série de desenganos, promessas desfeitas e vácuos que deram
espaço para o acúmulo de dúvidas e medo – muito medo - de ser magoado de novo.
E talvez seja só isso que você consiga enxergar: um cara babaca que não te deu
oportunidade de realmente dar uma chance a ele, por parecer estar preocupado
demais em levar você para sair, como desculpa para levar você para a cama. Um
cara cheio de contatos, experiências infames e histórias engraçadas para contar
na mesa do bar. Um cara insensível, egoísta e frio. Um cara que definitivamente
não é o que você está procurando, embora tenha momentos em que eu parecesse
ser...
Bom, eu vou
te contar um segredo. Talvez eu seja mesmo esse cara. Talvez seja isto que anos
de declarações românticas e ataques constantes ao meu coração partido tenham
gerado. Eu não sei. Só o que sei é que alguns sonhos e algumas músicas ainda
permanecem intactas na minha cabeça. E que durante algumas noites frias de
outono – mais frias do que você pensa que eu mesmo sou – eu relembro algumas
razões para acreditar, e digo a mim mesmo que tudo ficará bem um dia desses.
E te digo
mais: durante uma conversa, ou um telefonema, ou um encontro que
compartilhamos, houve um momento em que tentei segurar a sua mão. Ou um olhar
inocente que direcionei a você, que permitiu mais interpretações do que
realmente convidava. Ou confessei algo que realmente não estava acostumado a
admitir em voz alta para qualquer um. Nós tivemos momentos assim, e são os
mesmos que continuam comigo, enquanto você há tempos está por aí. Longe de mim,
mas acompanhando meus movimentos, achando que não penso mais em você, e que
nada do que escrevo tem a ver contigo.
Se estiver
lendo isso, quero que tente se lembrar deles. Porque foram nesses momentos em que
um cara quebrado e incorrigível tentou demonstrar que estava apaixonado por
você. Mas talvez você também não seja a garota otimista e esperançosa que já
foi um dia. E talvez tenha aprendido que confiança custa caro e dói demais. E
eu não a culpo. Todos nós temos nossa bagagem, nossas histórias para contar, e
nossos motivos para sermos quem somos agora.
Quanto a
mim... Sinto saudades. Boa noite.
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