Pular para o conteúdo principal

Não aprendi a fazer logoff

Qual é a dificuldade em admitir que você se importa com alguém? Talvez tenha um pouco a ver com medo, ou muito mais a ver com orgulho. A questão é que se você é como eu, provavelmente preferiu ficar sozinho em casa num sábado à noite, em vez de criar coragem de perguntar a ela onde ela gostaria de ir para beber alguma coisa, e então se organizar para ir ao seu encontro.

Caso isso nunca tenha acontecido contigo, pare de ler. Estou falando de insegurança, neurose, paranóia e uma série de tentativas infames de praticar o desapego com alguém que aparentemente nunca irá deixar de fazer parte dos pensamentos que temos antes de dormir.

Agora, caso isso seja mais “você” do que você gostaria de admitir, seja bem vindo. As coisas não ficarão bem, mas você aprenderá a lidar melhor com elas. Ou não.

As redes sociais e suas incontáveis maneiras de me atualizar sobre o que você anda fazendo definitivamente contribuem para isso, mas a verdade é que eu não preciso clicar para visualizar os seus status mais recentes para me lembrar dos momentos que passamos juntos. Ou das conversas que compartilhamos de madrugada. Ou das promessas que fizemos, sobre continuar mantendo contato, sobre estar falando sério quando os sentimentos deixaram de ser casuais, e sobre realmente estar disposto a dar uma chance a seja lá o que poderia estar surgindo entre nós.

Eu não preciso ser surpreendido por fotos que me tragam de volta o seu rosto, ou me corroer por dentro através de uma letra de música que tenha sido compartilhada por você, como quem quis jogar uma rede de indiretas ao alto mar da sua rede banda larga para ver quem morderia a isca. Eu simplesmente me lembro de tudo que disse, e de todas as suas respostas, e moro no eco que passou a existir entre uma coisa e outra. E por mais que você não ouça mais falar de mim, eu sei que também recebe alertas de saudade em seus dispositivos móveis.

Este é o mundo em que vivemos agora – constantemente conectados e, consequentemente, eternamente fadados a nunca realmente dizer adeus.

E entre notificações ignoradas e mensagens não visualizadas, as palavras não ditas permanecem. É claro que eu ainda me importo. É óbvio que eu sinto a sua falta. É evidente que eu fiquei sem saber o que fazer depois que você sumiu. Porque foi exatamente assim que eu me senti: desamparado. Você desapareceu, da noite pro dia, como eu jamais esperava. Aliás, como eu insisti em acreditar que não seria possível. Você, com todo o seu bom humor, sua inteligência irresistível e seus olhos castanhos, não podia se tornar rarefeita. E é claro que eu também não sou inocente nisto. Se é preciso duas pessoas para fazer um relacionamento dar certo, as mesmas duas pessoas são responsáveis quando ele falha. Ou então, quando ele se desfaz. Ou pior, quando ele nem mesmo tem a chance de existir.

Isto é um desabafo, e nada mais que isso. Inocente, atemporal e desconectado de futuras interpretações. Sem palavras complicadas, referências a filmes estrangeiros, ou com direito a letras de músicas que traduzam indiretamente tudo aquilo que eu ainda gostaria de te dizer. É para que você saiba de uma vez por todas, clara e abertamente: eu gostaria de ter descoberto se era mesmo importante para você. E que a recíproca seja concretizada também: eu nunca saberei como dizer adeus a você.

Então continue acompanhando, visualizando, curtindo, compartilhando, seguindo e fazendo uso de todas as ferramentas que nós possuímos hoje para nos mantermos juntos ainda. Assim como eu confesso que também faço. Somos a geração que não se importa em deixar o celular ligado a noite toda, esperando secretamente que a mensagem daquela pessoa especial chegue de madrugada, admitindo que sente a nossa falta. Vivemos livres de qualquer peso na consciência ou temor por vivermos logados em cinqüenta redes sociais diferentes para todo o sempre. Nem que seja só para ter certeza de que você ainda está aí, decidida a não me procurar, mas prestando atenção para ver se as próximas palavras que eu decida publicar por acaso serão sobre você.

Talvez isto seja mesmo sobre você. Talvez não. Talvez eu esteja admitindo uma dificuldade sobre viver através das redes sociais, para nos ajudar a sobreviver também. Ou talvez eu simplesmente estivesse afim de atualizar o meu próprio status: nostálgico, porém incorrigível.

Quando estiver pronta, uma hora dessas, me conte como é continuar acompanhando uma história que você mesma optou por não fazer mais parte. Mas não hoje. Hoje estou offline.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os 5 estágios do Roacutan

            Olá. Meu nome é Igor Costa Moresca e eu não sou um alcoólatra. Muito pelo contrário, sou um apreciador, um namorador, um profissional em se tratando de bebidas. Sem preconceito, horário ou frescura com absolutamente nenhuma delas, acredito que existe sim o paraíso, e acredito que o harém particular que está reservado para mim certamente tem open bar. Já tive bebidas de todas as cores, de várias idades, de muitos amores, assim como todas as ressacas que eram possíveis de se tirar delas. Mas todo esse amor, essa dedicação e essas dores de cabeça há muito deixaram de fazer parte do meu dia a dia, tudo por uma causa maior. Até mesmo maior do que churrascos de aniversário, camarotes com bebida liberada e brindes à meia noite depois de um dia difícil. Maior do que o meu gosto pelos drinques, coquetéis e chopes, eu optei por mergulhar de cabeça numa tentativa de aprimorar a mim mesmo, em vês de continuar me afogando na mesmisse da minha mela...

A girafa e o chacal

Melhor do que os ensinamentos propostos por pensadores contemporâneos são as metáforas que eles usam para garantir que o que querem dizer seja mesmo absorvido. Não é à toa que, ao conceituar a importância da empatia dentro dos processos de comunicação não violenta, Marshall Rosenberg destacou as figuras da girafa e do chacal . Somos animais com tendências ambivalentes – logo, nada mais coerente do que sermos tratados como tal.  De acordo com Marshall, as girafas possuem o maior coração entre todos os mamíferos terrestre. O tamanho faz jus à sua força, superior 43 vezes a de um ser humano, necessária para bombear sangue por toda a extensão do seu pescoço até a cabeça. Como se sua visão privilegiada do horizonte não fosse evidente o suficiente, o animal é duplamente abençoado pela figura de linguagem: seu olhar é tão profundo quanto seus sentimentos.  Enquanto isso, o chacal opera primordialmente pelos impulsos violentos, julgando constantemente cada aspecto do ambiente ...

Wile E.: o gênio, o mito, o coiote

Aí todo mundo no Facebook mudou o avatar para a imagem de algum desenho e eu não consegui achar mais ninguém, mas depois de um tempo eu resolvi brincar também. O clima de celebração do dia das crianças invadiu as redes sociais de tal maneira que todos nós acabamos tendo vários flashbacks com os desenhos de nossos colegas, dos programas que costumávamos assistir anos atrás quando éramos crianças e decorar o nome dos 150 pokemons era nosso único dever. E para ficar mais interativo, cada um mudou a imagem para um desenho com qual mais se identifica, e quando a minha vez chegou, não tive dúvidas para escolher nenhum outro senão meu ídolo de ontem, de hoje, e de sempre: o senhor Wile E. Coiote. Criado em 1948 como mais um integrante da família Looney Tunes, Wile foi imortalizado pelo apelido e pela fama de fracassado em sua meta de vida: pegar o Papa Léguas. Através de seu suposto intelecto superior e um acesso ilimitado ao arsenal de arapucas fornecidas pela companhia ACME, Wile tento...