Não é que eu deteste o modo como o mundo contemporâneo incorporou as opções online/offline ao modo como nós levamos as nossas vidas. Muito pelo contrário, vez por outras passo mais dias online no vácuo do que offline do lado de fora de casa, longe do alcance de qualquer Wi-Fi. Aliás, às vezes é difícil saber até o que fazer com as mãos quando não possuem um celular conectado com o resto do mundo. Mas existem certos aspectos que ainda não consigo adaptar completamente – o que, por consequência, pode tornar a minha visão de mundo incompatível com os vários aplicativos que temos ao nosso dispor hoje. E dia desses me peguei pensando sobre tempos mais simples, quando conhecer e desconhecer pessoas costumava ser mais audacioso do que suar frio de ansiedade após tentar puxar conversa em um bate-papo virtual, e imaginar as mil e uma maneiras que a pessoa do outro lado poderia reagir. Quase todas, geralmente, beirando aos traumas do nosso ego ferido em outras janelas de conversação, fadadas ao eco de uma simples palavrinha maldita:
Desta vez eu me surpreendi com algo sobre o qual realmente não deveria reclamar. Já que no final das contas, quando pesquiso meu próprio nome no Google – e não aconselho você a fazer o mesmo com o seu, caso queira continuar dormindo tranquilo à noite – os primeiros resultados são, não necessariamente nesta ordem, os links para meus perfis criados no Facebook, no Instagram, no Twitter (que há muito tempo é usado apenas para fins voyeuristas do que para publicações autênticas) até, enfim, ao perfil que lidera as publicações desse blog. Seria deveras hipócrita da minha parte utilizar as ferramentas da internet para criticar, bom, a própria Internet. Mas isso não é uma crítica; é uma confissão. Quando foi que eu permiti que estas ferramentas se transformassem em correntes? E se você ainda não entendeu o que eu quero dizer, talvez um diálogo que tive algum tempo atrás (e que você provavelmente também já teve), ajude:
- Você está bravo comigo ou coisa parecida?!
- Não! Por que?!
- Nunca mais falou comigo.
- Mas você também nunca mais mandou nada.
- Mas fui eu quem te chamou para conversar por último!
Se você já teve, ou está envolvido neste exato momento em algum tipo de cabo-de-guerra imaginário com alguém com quem você não conversa há muito tempo, nem em um milhão de anos considera a hipótese de arriscar suar frio para escrever um “oi” para ela e apostar todo o seu amor próprio ao clicar em “enviar”... Bom, eu te entendo. Mas quando eu paro pra pensar nas alternativas, ainda vale aquela antiga verdade universal sobre sermos irremediavelmente atraídos por aquilo que não podemos ter. É o motivo pelo qual sentimos vontade – para não dizer “necessidade” – de desabafar com alguém quando nossos relacionamentos parecem padecer e deteriorar a cada novo vácuo no qual caímos. Porque alguém esqueceu de nos responder, ou simplesmente não pôde nos responder naquele momento em particular. As mensagens instantâneas nos ensinaram a esperar por respostas instantâneas, seja em qualquer visor que esteja ao alcance das nossas mãos, até toda a vida que continua se atualizando ao redor dele.
Eu não sei. Talvez seja tudo uma questão de limites. De paciência, compreensão e outras virtudes que nunca consideramos de fato quando o nosso humor se torna diretamente proporcional à velocidade e o conteúdo da sua resposta para o meu “oi”. Mas a Internet está aí e não irá embora tão cedo. Aliás, provavelmente seremos nós quem iremos partir bem antes da Internet. Deixando de lembrança para ela uma série de perfis e fotos publicadas com nossas imagens e nossos “mimimis” nas legendas, daqui para a eternidade. Mas hoje tudo o que eu gostaria é que o meu ego, minha auto-estima e minha auto-confiança voltassem a depender só de mim mesmo, em vez de roteadores e cabos de fibra óptica.
Mas só para constar: todos nós temos nossas fraquezas. E é claro que existem algumas pessoas que ando ignorando de propósito. Se existe algo que a tecnologia nunca irá extinguir de vez, é o nosso orgulho. Mais do que isto: existem plugins para ele agora.
(Escrito em 24/11/2015)
“Visualizado”
***
Desta vez eu me surpreendi com algo sobre o qual realmente não deveria reclamar. Já que no final das contas, quando pesquiso meu próprio nome no Google – e não aconselho você a fazer o mesmo com o seu, caso queira continuar dormindo tranquilo à noite – os primeiros resultados são, não necessariamente nesta ordem, os links para meus perfis criados no Facebook, no Instagram, no Twitter (que há muito tempo é usado apenas para fins voyeuristas do que para publicações autênticas) até, enfim, ao perfil que lidera as publicações desse blog. Seria deveras hipócrita da minha parte utilizar as ferramentas da internet para criticar, bom, a própria Internet. Mas isso não é uma crítica; é uma confissão. Quando foi que eu permiti que estas ferramentas se transformassem em correntes? E se você ainda não entendeu o que eu quero dizer, talvez um diálogo que tive algum tempo atrás (e que você provavelmente também já teve), ajude:
- Você está bravo comigo ou coisa parecida?!
- Não! Por que?!
- Nunca mais falou comigo.
- Mas você também nunca mais mandou nada.
- Mas fui eu quem te chamou para conversar por último!
Se você já teve, ou está envolvido neste exato momento em algum tipo de cabo-de-guerra imaginário com alguém com quem você não conversa há muito tempo, nem em um milhão de anos considera a hipótese de arriscar suar frio para escrever um “oi” para ela e apostar todo o seu amor próprio ao clicar em “enviar”... Bom, eu te entendo. Mas quando eu paro pra pensar nas alternativas, ainda vale aquela antiga verdade universal sobre sermos irremediavelmente atraídos por aquilo que não podemos ter. É o motivo pelo qual sentimos vontade – para não dizer “necessidade” – de desabafar com alguém quando nossos relacionamentos parecem padecer e deteriorar a cada novo vácuo no qual caímos. Porque alguém esqueceu de nos responder, ou simplesmente não pôde nos responder naquele momento em particular. As mensagens instantâneas nos ensinaram a esperar por respostas instantâneas, seja em qualquer visor que esteja ao alcance das nossas mãos, até toda a vida que continua se atualizando ao redor dele.
Eu não sei. Talvez seja tudo uma questão de limites. De paciência, compreensão e outras virtudes que nunca consideramos de fato quando o nosso humor se torna diretamente proporcional à velocidade e o conteúdo da sua resposta para o meu “oi”. Mas a Internet está aí e não irá embora tão cedo. Aliás, provavelmente seremos nós quem iremos partir bem antes da Internet. Deixando de lembrança para ela uma série de perfis e fotos publicadas com nossas imagens e nossos “mimimis” nas legendas, daqui para a eternidade. Mas hoje tudo o que eu gostaria é que o meu ego, minha auto-estima e minha auto-confiança voltassem a depender só de mim mesmo, em vez de roteadores e cabos de fibra óptica.
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Mas só para constar: todos nós temos nossas fraquezas. E é claro que existem algumas pessoas que ando ignorando de propósito. Se existe algo que a tecnologia nunca irá extinguir de vez, é o nosso orgulho. Mais do que isto: existem plugins para ele agora.
(Escrito em 24/11/2015)
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