Eu não sei porque ainda me
assusto. Sei exatamente como as coisas funcionam. Uma primeira conversa, um
primeiro encontro... Um primeiro beijo. É o ciclo natural de qualquer história
prestes a se desenrolar. A história de um cara ligeiramente paranoico e uma
moça distinta e esperançosa que se unem na esperança de que, mesmo quando tudo
já parecia perdido, algo poderia dar certo entre eles. Para eles. Por amor. Não
é nada original. Mas ainda me assusta.
***
Eu não ando
dormindo bem ultimamente. E por mais que eu gostaria de negar, mentir
infelizmente não faz parte da minha personalidade. Principalmente em se
tratando de mentir para mim mesmo. Eu não durmo porque passo noites em claro
pensando nela. Houve um tempo em que eu costumava escrever me direcionando
especialmente a você. Mas você não lerá isso. Não. Você foi embora. Aliás; ela
foi embora. E desde então os dias nunca mais foram os mesmos. E as noites, agora,
só servem para colocar ainda mais em evidência o vazio que ela deixou. Eu
esperava que a escuridão ajudasse a torná-lo menos visível. Mas era à noite o
momento em que nos reuníamos, depois de mais um dia longo e exaustivo, e nos
apoiávamos novamente nos braços um do outro. Sussurrando levemente que tudo
ficaria bem. Repetindo amorosamente o quanto sentimos a nossa falta.
Era de se
esperar que os dias passassem mais lentamente, enquanto eu relembro nossos
momentos juntos. Mas não. Eu sinto a sua falta dia após dia, semana após
semana. E escuto sua voz chamando o meu nome meio a conversas intercaladas em
corredores tumultuados. Uma atmosfera poluída e densa, cuja qual não concebe
mais a sua participação. Você não está mais aqui. Pra falar a verdade, eu nem
sei onde você está. Porque eu não a conheci.
Você é só um
sonho. Mais um que eu abandonei pelo caminho. E sabe o que é mais engraçado? Eu
também não sei para onde estou indo. Já faz tempo isso. Não é a toa que me
prendo tanto aos lugares por onde passei e às experiências que acumulei. Uma
vida inteira que poderia ter sido e não foi, reprisada eternamente no
retrovisor de um veículo acelerado e sem rumo. É assim que eu vivo. Se puder
chamar isso de vida. E eu não deveria me surpreender se me dissessem que
atropelei algumas coisas e pessoas pela estrada afora. Com a minha ansiedade e
meu desespero dominando o volante. Dirigindo desenfreados por aí, sem saber
parar.
Quem sabe
você passou por mim, e eu não soube dar o tempo necessário para reconhecê-la.
Ou então; não soube esperar para que você mesma me enxergasse. É um drama
inegável, que só aumenta com o passar das minhas descrenças. Mas eu nunca
resisti a você. Quantas manhãs já passei, pensando enlouquecido em vê-la? E o
tempo investido em construir um conto de fadas inatingível em minha mente, só
para nós dois, quando ninguém estava prestando atenção? São coisas que guardo
comigo há anos, só esperando pelo momento certo para torná-los realidade. O
momento certo, a hora certa... A mulher certa...
Você?
***
Eu não quero
viver sozinho. Tenho medo e sinto frio. E a verdade é bem menos literária e
épica do que eu faço parecer quando me coloco a escrever sobre o que sinto. Na
esperança de que as palavras desabafadas façam com que eu me sinta mais à
vontade para continuar seguindo em frente. Resultado de promessas desfeitas,
mentiras encobertas, olhares dissimulados e desencontros infames que eu tive
que superar pelo meu próprio bem. Pra continuar sobrevivendo como o homem
quebrado, dono de um coração partido, que é quem eu sou. Alguém que nunca
tentei esconder, nem jamais poderei negar.
Eu só queria
alguém para amar. Pra cuidar. Pra fazer companhia. Levar o café da manhã na
cama em domingos preguiçosos, e inventar uma janta à luz de velas para dar
ânimo ao crepúsculo de uma quarta-feira qualquer. Alguém que tivesse orgulho em
dizer que está comigo, e que sorrisse despreocupada quando ouvisse dizer o
quanto eu estava feliz por tê-la em meus braços.
E você teve
tudo isso, meu amor. Não se lembra? Você disse que estava feliz! ...ou estava
só sendo gentil?
E se você
voltasse, ah, meu bem. Tudo poderia ser diferente. Poderia ser do jeito que
você quisesse. Poderia ser maior e melhor do que tudo que eu já imaginei, se
você nos desse mais uma chance. Minhas mãos tremem só de pensar em tê-la em
meus braços novamente. O mundo deixaria de ser tão assustador, tão drástico,
tão perdido. Com você eu estaria em casa, enfim. Lar doce lar, do jeito que
construímos antes. Como se nunca tivéssemos dito adeus.
***
Antes que você me procure, saiba que
eu estou bem. Tudo isso é um exagero, claro. Mas são sentimentos que nascem em
nós quando estamos perdidamente apaixonados por alguém. Principalmente quando
alguém não sente a mesma coisa por nós. Parece loucura, mas não é nada que
ninguém já não tenha pensado nem sofrido antes por amor. É. Amor. Aquela
palavra de quatro letras com um significado imenso, que pode ser a razão pela
qual você levanta da cama de manhã, ou a inspiração para os seus sonhos à
noite. Digam o que quiserem, mas ninguém irá me convencer de que todos nós
estamos por aí à procura de alguém para amar. E isso aqui - este pequeno
desabafo disforme e enlouquecido – é só uma amostra do que se passa na mente de
quem sofre por um amor que nunca terá. Ou um amor que nunca teve, mas que não
passou reto por você sem deixar um mundo de saudades para trás. Muito se fala
sobre o amor hoje em dia – sobre como é fundamental, maravilhoso, lírico – mas pouco
se fala sobre o que acontece quando ele não é reconhecido, ou recíproco, ou
ignorado. E eu acho que em dias como hoje, nada mais justo do que dedicar
algumas palavras para quem já passou noites em claro, com a luz do celular
iluminando as suas lágrimas, esperando por uma resposta para a mensagem enviada
de “Boa noite” que nunca chegou.
Para quem
está sofrendo por amor, ou já sofreu e decidiu que nunca mais iria passar por
isso, esse texto é para você. Continue vivendo, sonhando e amando como se nunca
tivéssemos dito adeus.
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