Algum tempo atrás, eu me peguei pensando e escrevendo sobre fronteiras. Algo corriqueiro em se tratando de uma cidade como Foz de Iguaçu, completa com saídas de emergência para não um, mas dois países à sua escolha, caso opte por fugir da nossa atual decadência geopolítica. E ao considerar o significado de fronteiras além das definições geográficas usuais, pensei sobre aquelas que eu ainda não me sentia capaz de atravessar. Sempre penso em Foz do Iguaçu como um centro de possibilidades mais amplo e internacional do que qualquer outro em que eu já vivi. Meu problema estava em descobrir exatamente o que fazer com elas.
A melhor – e talvez, a única – estratégia que bolei para mim foi, primeiramente, sair por aí e conhecer pelo menos o que havia ao redor da minha casa. Uma rua paralela aqui, uma avenida principal ali. Padarias ridiculamente extorsivas, academias que nunca frequentarei, um bar de arguile que misteriosamente nunca parecia ter clientes. Hotéis, hostels e sacolões de hortifrúti. Entre estabelecimentos de serviço e restaurantes estrangeiros, só de conhecer um pouco o meu próprio bairro já me ajudou a reconstituir meu senso de segurança. Algo que, por via de regra, é a primeira coisa a ser quebrada em toda mudança – seguido, invariavelmente, de copos e pratos mal embalados.
Sabendo por onde andar, restava encontrar uma finalidade para essas ruas. Alguém para marcar um encontro por aí, ou para simplesmente andarmos sem rumo avenida afora até a primeira curva que surgisse no nosso caminho. E por um tempo eu tive encontros (alguns bons, outros esquecíveis), conheci pessoas diferentes e aprendi a dar orientação para ajudar turistas a chegarem até o terminal de ônibus. Mas a sensação de que eu ainda era um deles permanecia comigo a cada parada. Mudar de um ponto A para o B é fácil, mas e quanto a pertencer a este lugar?
De vez em quando eu ainda me sinto um estrangeiro, tentando sobreviver entre os estabelecidos que nasceram aqui ou apenas chegaram antes de mim. Mas aí tem vezes em que eu me surpreendo quando me pego dando direções à estas mesmas pessoas. Como assim você mora aqui e nunca visitou o Templo Budista? Como assim você não sabe qual ônibus leva até o centro de visitantes das Cataratas? Como assim você não sabe aonde fica o terminal?!
A verdade é que estamos todos perdidos, em busca de algo ou alguém que nos oriente. Por anos eu fiz amizades que serviram de guias turísticos para me ajudarem a desbravar os admiráveis mundos novos que existiam dentro da nossa própria cidade. Fronteiras que, por algum motivo, não nos era interessante atravessar antes. E eu entendo isso agora. Algumas fronteiras simplesmente não foram feitas para serem atravessadas sozinho. Há quem diga, inclusive, que tal travessia solitária – em se tratando de relacionamentos – é impossível. Por que não, então, parar e pedir informação? Ou quem sabe, ter um pouco mais de iniciativa em se tratando do mundo além do seu próprio bairro – ou do seu próprio umbigo.
Eu fico constantemente maravilhado com as coisas e as pessoas que descubro por aí. Assim como fico feliz em compartilhar o meu mundo com aqueles que se interessem por anotar o meu endereço, e por vir conhecer um pouco mais sobre mim do que apenas o meu nome. Ou a minha fama de comentários sarcásticos infames que parece sempre me preceder. Há um mundo enorme lá fora, é verdade. Mas às vezes ele nem se compara ao universo que existe ao nosso lado, e a gente nem desconfia. Talvez em uma rua pela qual você nunca andou antes, ou talvez em alguém que você nunca cumprimentou.
Às vezes parece mais fácil esperar em uma fila para cruzar uma “aduana” do que tentar conhecer alguém novo. Ironicamente, a burocracia envolvida é a mesma.
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