Ontem eu comemorei 45 dias de sobriedade filosófica em Foz do Iguaçu. Resistindo às tentações de mergulhar em questionamentos sobre a vida, o amor e a cidade que fossem além das minhas distrações metafóricas - como, por exemplo, pensar sobre o quanto a péssima direção dos motoristas paraguaios nos estacionamentos de mercados aqui pode representar o desequilíbrio do dólar na bolsa de valores mundial. E talvez eu conseguiria me manter sóbrio por mais tempo, se não fosse a minha irônica sorte de redescobrir a minha fé nos lugares mais aleatórios. Ou, neste caso, nos lugares e nos horários de funcionamento certos.
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Foi em uma visita a mais um ponto turístico da cidade que eu me percebi realmente tentando ir além das minhas zonas de conforto – e as chamo de “zonas” pelo caráter bagunçado que toma conta do meu quarto ultimamente. Admirando as estátuas e os dizeres em chinês sobre prosperidade e paz, eu senti uma calma que há muito tempo não sentia, visto que passo a maior parte do meu tempo entretido por maratonas de séries americanas e surtos de ansiedade generalizada sobre o futuro. Mas depois de passar por todas as estátuas, eu avistei mais alguns dizeres escritos pelas paredes da lojinha de lembranças e dos banheiros próximos a saída. E um deles prendeu a minha atenção ainda mais do que toda a minha mini-experiência budista até então:
E logo abaixo:
De acordo com a religião budista, a impermanência é um dos conceitos essenciais para a descrição do universo e diz respeito à constante mutação de todas as coisas. É importante compreender a importância da impermanência e, acima de tudo, aceitá-la como parte natural da vida. E como todo processo, toda mudança e toda viagem, é preciso dar o primeiro passo – que, por sua vez, sempre será o mais doloroso.
Coincidentemente ou não, a impermanência é a palavra-chave que simboliza esta parte da minha jornada hoje em Foz do Iguaçu. Na travessia entre o ponto A e o B, o mundo novo e o antigo, meu passado e o meu futuro, é preciso entender o porquê de certas coisas ficarem para trás antes de realmente seguir em frente. E ao dar fim à minha visita no templo (e de descobrir o quanto são caras as lembrancinhas daquela lojinha), levei algo bem mais valioso comigo: a crença de que mudanças são inevitáveis na vida de qualquer um, mas ao aceitá-las como um presente, a viagem rumo ao Nirvana pode se tornar bem mais proveitosa.
Namo Amituofo
*Escrito em 10 de setembro de 2015.
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