E lá vamos nós de novo.
Eu ainda me lembro do tempo em que não havia nada pior para mim, do que a perspectiva de um recomeço. Talvez fosse só a preguiça de precisar encontrar novas circunstâncias às quais eu deveria me adaptar, mas não acho que era só isso. Claro que havia medo também – a inevitável herança que o fim de um ciclo sempre deixa para o próximo. Então até aqui já temos preguiça, readaptação, medo... Todos são argumentos muito válidos para justificar a aversão a qualquer coisa nova que se torne disponível para mim. Ou então, qualquer coisa nova que eu pense em ir atrás por conta própria. Sem nunca parar pra contemplar a simples noção de que talvez, quem sabe, eu goste mesmo é de ser um ser faltante, mas por escolha própria.
A psicologia define o ser humano como uma instância inacabada, incompleta, em uma desesperada procura por sossegar o desamparo silencioso que rege a sua vida. Mas se a incompletude ficar por minha conta, em vez do universo, bom... Isso explica porque eu ando dormindo melhor. É uma sensação estranhamente reconfortante; saber que eu sou responsável pelos meus próprios desajustes. E saber que ainda é melhor querer algo que não tenho, do que ter algo que eu não quero.
Se isso não é maturidade, então eu não sei o que é.
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Talvez não seja nem questão de preferir a falta, mas de costume. É como dizem aqueles textos, que cada autor tem seu jeito de dizer, sobre como “a gente se acostuma, mas não devia”. E depois que consegue algo, ou encontra alguém, ou descobre um jeito novo de viver, ficamos perdidos. Sem saber como lidar, porque nossa prática sempre se baseou no eco das nossas vontades. E não me diga que não entende o que estou tentando dizer.
Aquele desejo aparentemente incessante, uma vez satisfeito, passa então a ser igualmente entediante em proporção. Não é o sistema mais prático de todos, mas é o instinto que nos foi dado. O que nos é permitido agora é aprender a lidar com ele, sem ser engolido pela falta ou sufocado pelo conteúdo.
Preguiça, readaptação, medo e tédio. Os quatro cavaleiros do apocalipse nosso de cada dia.
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