Tem sido um
inverno
difícil. Eu sinceramente não me lembro da última vez que me senti assim.
Inquieto, incompleto, inconstante. Como se nada fosse capaz de me satisfazer. Nem
o café fresco na manhã de domingo, nem o conforto da minha cama ao fim do dia.
Para falar a verdade, o que eu ando fazendo à noite também não pode ser chamado
de “dormir”. E nem de algo mais divertido de se fazer em uma cama. Eu só fico
deitado, acordado, em alerta. Na esperança de que o barulho de mensagem nova no
celular me chamasse, avisando que alguém se lembrou de mim. E que bom seria se
fosse você. Mas não tem sido. Já faz algum tempo que não é você, e é nisso que
eu fico pensando...
Você ainda pensa em mim, ou as vezes em que tem cruzado por mim na
rua são indiferentes? Comparadas aos dias em que estávamos ansiosos para nos
encontrarmos... Lembra da primeira vez que nos vimos? Do sorriso largo que eu
inspirei em você? E do quão bobo eu parecia ser, tentando chamar a sua atenção?
Eu sinto falta de ser bobo, ao contrário da infâmia sarcástica na qual eu estou
habituado a viver. A verdade é que, quando você surgiu, o mundo parecia estar
recomeçando. E todos os lugares pelos quais passei estavam subitamente
reabertos para serem experimentados. E os momentos que eu queria que fossem
inesquecíveis, mas que desperdicei com as garotas erradas, poderiam ser
revividos com você.
Era isso que eu mais vi em nós: o recomeço. Aquela vida que
poderia ter sido e não foi, mas que agora – finalmente! – poderia ser. E eu não
sei se foi o calor do momento que te deixou esperançosa, mas ao compartilhar
contigo a promessa que fiz sobre nunca deixar o mundo vencer, você aceitou
lutar comigo. Em algum momento isso foi verdade – eu despertei algo em você,
fui diferente dos outros caras que você já havia conhecido – ou você estava só
tentando ser gentil? Isto é, até o momento em que decidiu não ser mais, e foi
embora. Sem explicação, sem grandes gestos, e sem se despedir.
A última coisa que eu tive capacidade de dizer foi para jogar fora
as flores que eu havia te dado. Talvez tenha sido fácil para você, que dizia
nunca ter ganho flores antes, logo o desapego não levaria tanto tempo assim. Mas
para mim, que nunca deu flores a ninguém antes, tem sido mais difícil do que eu
esperava. Só de pensar em dar flores à alguém de novo, eu opto por não plantar
expectativa alguma. Por ninguém. Sobre nada.
Eu me sinto quebrado. Mais do que o de costume. Menos do que eu
estava pronto para lidar. Eu me odeio por estar cercado de rostos em cada
multidão que atravesso, e não conseguir parar de procurar o seu. E me odeio
mais ainda quando eu a encontro, e percebo o quão sem reação você consegue me
deixar. Sem saber para onde ir, ou o que dizer, ou como fugir de tudo que me
assombra.
Eu me odeio por ter admitido que queria amar você. E me odeio por
reconhecer que é só isso que restou. Espero, do fundo do meu coração, que você
tenha jogado fora as flores. Se em algum momento eu signifiquei alguma coisa
para você, esse é o mínimo que poderia fazer por mim. Não deixe que o gesto
mais significativo que eu já fiz por alguém em muito, mas muito tempo, se torne
um souvenir da última vez em que acreditei que as coisas poderiam dar certo
para mim. Jogue fora do mesmo jeito que fez comigo.
O lado bom de não saber viver em meios termos, limbos ou
purgatórios, é ser esperançoso diante do vazio que resta no meu coração. Porque
eu ainda acredito em mim mesmo o bastante para sair por aí e tentar preencher
esse vazio de novo.
Acho que já passei por todas as fases possíveis. Os dias
atordoados, as noites em claro. As músicas que evitei ouvir por um tempo, e as
atualizações sobre você que afastei dos meus olhos. A raiva por ter sido
dispensado sem nunca realmente saber o motivo, e a tristeza que pesa na minha
voz toda vez que repito o seu nome para algum amigo que não agüenta mais me
ouvir falar disso. Dia desses até criei a coragem de passar por você sem fingir
estar olhando para outra direção, porque é inevitável: nós ainda nos encontraremos
por aí, por mais que eu queira me iludir do contrário. E agora que me atrevi a
arriscar o impensável – admitir por escrito o que eu ainda sinto – talvez eu
esteja pronto para dar o verdadeiro ponto final nisso.
Eu te desejo amor, mesmo que não possa ser o meu. Espero que fique
bem, porque sei o quanto você se sente insegura e confusa sobre a vida. Quero
que seja feliz, por mais tempo que os passatempos aos quais você se entrega são
capazes de te distrair. E, enfim, desejo tudo isso a mim mesmo também. Talvez
tenha sido melhor partir, aqui e agora, do que me decepcionar no futuro. E se
por acaso esse tenha sido o motivo da sua desistência, eu o aceito.
Eu sou muito mais feliz quando acredito que o amanhã será melhor.
Quem sabe, na próxima vez, a primavera dure. Obrigado por me mostrar que ainda
sou capaz de cultivar flores.
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