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O amor não vem do Tinder


O amor não vem do Tinder. Não é algo que irá surgir em uma primeira conversa com alguém novo. Ou na primeira vez em que vocês criarem coragem o suficiente para se encontrarem. Ou quando você arrisca segurar a mão dela em um momento descontraído. Ou durante aquele beijo, o primeiro beijo, que te enche de sonhos e promessas. Não. O amor não vem disso.
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O amor não vem do cineminha. Não irá aparecer magicamente na sintonia de vocês ao escolherem o mesmo filme. Ou em concordarem que um pega a pipoca e o refrigerante, enquanto o outro tenta encontrar os ingressos no bolso. Também não é naquele primeiro momento após as luzes se apagarem, quando ela encosta a cabeça no seu ombro. E você a abraça, querendo dizer que ela pode se sentir confortável ali, porque você irá apoiá-la. O amor não surge na cena de sexo explícito, ou de conflito frustrante, e muito menos do final feliz. O amor não acompanha os créditos que sobem na tela quando as luzes se acendem de novo.
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O amor não é posto à mesa em um jantar romântico. Não acompanha o cardápio que você preparou cuidadosamente, pensando nos temperos que ela gosta e no vinho que vocês provaram quando se conheceram naquele bistrô no centro da cidade. O amor não está nos talheres alinhados, no mise en place, no decantador, nos pratos fundos ou nas taças rasas. O amor também não vem com a sobremesa, ou com os cumprimentos ao chef, ou com aquela provocação boba sobre o quanto ela está ficando mal acostumada, e você terá que continuar se superando se quiser agradar. O amor, definitivamente, não está na cozinha bagunçada e na louça suja que fica para trás.
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O amor não vem à tona quando você conhece os pais dela. Não se torna visível só porque o pai dela não vai com a sua cara, mas você tenta causar uma boa impressão por ela. Por vocês. O sentimento não é descoberto quando você prova a comida da mãe dela, e é pego desprevenido quando a sogra pergunta quais são as suas intenções com a filha dela enquanto você engole, e quase engasga com o risoto. O amor não é posto à prova quando o irmão mais velho dela te encara do outro lado da mesa, porque sabe o que você está fazendo com a irmãzinha dele. O amor não vem até vocês quando você promete que estarão lá de novo no próximo domingo.
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O amor não vem do sexo. Entre roupas jogadas aos cantos, suspiradas profundas, suor escorrendo, gemidos baixinhos, lençóis repuxados, pernas embaralhadas, beijos com mordidas no lábio inferior, sacanagens ao pé do ouvido, pressão, fricção, tesão, emoção, tapas, puxadas de cabelo, pegada, mordidas, arranhões e explosões... O amor não está entre o seu corpo e o dela. Ou no fogo que surge enquanto estão juntos. Ou no silêncio que paira quando se separam, esgotados, mas já pensando na próxima vez.
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O amor não vem nas notificações do seu celular, na forma de um “bom dia” ou “boa noite”. O amor não cabe no seu espaço de armazenamento, nem no seu cartão de memória, nem no seu HD externo. O amor também não está na nuvem ou no drive. O amor não está na sua linha do tempo, no seu feed de notícias, nos seus stories mais recentes, na sua atualização de status, ou guardado na sua galeria de imagens. O amor também não pode ser enviado, zipado, compactado, decupado, transferido ou compartilhado. O amor não está disponível para Android ou iOS.
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O amor vem de você. De quem você é. E mais ainda, da pessoa que você ainda procura ser. O amor vem da educação que os seus pais te deram, e do quanto você a passa adiante. O amor vem da sua preocupação com aquele velho amigo com quem você não fala há algum tempo. O amor vem dos gestos que você pratica sem pensar no que pode ganhar em troca. O amor vem do quanto a sua mãe fez por você, colocando a si mesma em segundo lugar, para fazer você sorrir. O amor vem do que o seu pai consegue te dar, quando dizer “eu te amo” não é o forte dele. O amor vem da sua irmã pedindo ajuda com o dever de casa, porque quer passar tempo com você. O amor vem da sua capacidade de abrir os olhos e enxergá-lo ao seu redor, nas pequenas vitórias do dia a dia. O amor vem do seu caráter. Do quanto você tem noção de quem é, do que é capaz, de tudo que já passou para chegar até aqui, e do que está fazendo para alcançar aonde mais deseja chegar. O amor está aí. Ela não o levou embora. Ele não roubou de ti a capacidade de acreditar em outra pessoa. O amor só depende de você, e só existe contigo. 

E se você finalmente descobrir isso, talvez possa ter algo em comum com alguém que também sabe de onde o amor vem. E, juntos, quem sabe, possam descobrir para onde ele vai.

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