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Os arrependimentos certos

Entre doses de uísque, um amigo me disse algo marcante.

- Igor, se você se arrependeu de algo nessa vida, você simplesmente não viveu.

E eu fiquei com isso na cabeça por alguns dias. Porque se há algo que eu coleciono nessa vida, além de comentários sarcásticos e ironias do destino, são arrependimentos. Independente da sua natureza; se nasceram de algo que optei por fazer sem pensar direito, ou algo que escolhi não fazer por pensar demais. Seja como for, eu os carrego comigo. Assim como o meu amigo carregou no dia seguinte, após as doses de uísque.

***

A vida é um grande, caótico ciclo de tentativa e erro. Por muito tempo eu acreditei que havia algo além disso nos guiando. Fosse o destino, ou as teorias sobre a pessoa certa no lugar certo e na hora certa. Sempre foi demais pra mim acreditar na noção de que não há nada a não ser desordem e sorte. Como se tudo não passasse de um jogo de tetris, onde às vezes as peças se encaixam perfeitamente, às vezes não.

A vida não é um jogo, nem uma completa bagunça, nem um esquema cujo segredo nós devemos procurar. Há quem passe a vida inteira procurando respostas sem nunca perceber que estava fazendo as perguntas erradas o tempo todo.

Eu não sei se ainda acredito em destino. Ou na pessoa certa, e em um timing que colabore conosco. Por muito tempo carreguei alguns sonhos desse tipo comigo: sobre a última garota certa, o amor da sua vida, a teoria das mãos dadas no shopping, os clichês... E ainda estou aqui.

Claro, eu não sou mais o mesmo cara que escreveu esses textos. Assim como não sou o mesmo cara que chegou aqui, dois anos atrás. Nós mudamos, crescemos, erramos e aprendemos. Evoluímos, mesmo que o resultado nos decepcione, o que só acaba servindo como motivador para nos transformarmos de novo. E entre um texto e outro, uma rua sem saída e outra, uma garota e outra, eu errei. Muito. E é nisso que pensei quando meu amigo bêbado disse sua teoria sobre a vida, arrependimentos e etc.

Sim, eu estava bêbado também. Trabalhar no dia seguinte foi difícil. Mas com o tempo e os erros, eu aprendi a usar alguns macetes: manter-se hidratado, carregar Engov comigo sempre, treinar a fazer o número quatro com a perna sempre para exercitar o equilíbrio... Alguns truques eu já domino, e só foram possíveis quando me pus à prova, sem saber se daria certo ou não. Essa é a graça das bebedeiras infames, dos relacionamentos errados, e todas as outras experiências de vida que nós acumulamos com o passar dos invernos.

Dá pra acreditar que já estamos quase na primavera? Não sei como foi pra você, mas o meu inverno foi difícil...

***
                                                                                        
Eu já apostei corrida bêbado em uma cervejada, tropecei e rasguei as calças em um estacionamento. Já fui convidado a ser retirado de um pub por dois seguranças depois que invadi o palco no meio de um show. Já estraguei uma festa surpresa que organizaram para mim, dizendo que eu já sabia dela. Já abandonei a faculdade de Jornalismo, acreditando que aquele não era o curso para mim. Já disse que nunca mais falaria com meus pais, ou com minha irmã, porque eles fizeram algo que me magoou demais. E mais vezes do que eu gostaria de admitir, eu já confessei estar apaixonado por alguém, mesmo sabendo que ela não sentia o mesmo.

Eu já fiz todas essas coisas. Agora existem histórias embaraçosas sobre mim, e fraturas no meu coração que talvez nunca realmente se curem. Mas eu também aprendi com elas, chorei, e cresci. Não é porque algo não deu certo, que não teve valor. Não estou te dizendo que era algo pelo qual você precisava passar, como se estivesse escrito nas estrelas. Mas a experiência, os esforços dedicados, e a vida que passou pelas suas veias, estarão contigo para sempre. Eternamente, enquanto nós estivermos aqui.

O segredo não é evitar os arrependimentos. Isso é impossível. O melhor que nós podemos fazer, no final das contas, é acabar com os arrependimentos certos.

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