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26


O que eu aprendi aos 26 anos...

Pra começar, eu fico escrevendo “16” em vez de “26”, o que já indica claramente por onde anda a minha maturidade. Também ajuda a explicar o meu crescente desapego por contatos de WhatsApp que poderiam ter sido bloqueados há muito tempo. Como meu primeiro ato a entrar em vigor neste novo mandato de vida, eu declaro a substituição de discussões recheadas de comentários sarcásticos por um bloqueio objetivo e silencioso. Não é fácil ser sarcástico, e nem todos são capazes de entender. Logo, o reservarei para ocasiões especiais e pessoas próximas. Ou ocasiões próximas com pessoas especiais. Ou a hora que eu quiser. O plano de governo ainda está em construção. Mais detalhes em um release posterior.

***

Vinte e seis anos. Cronologicamente, representam a passagem do primeiro quarto de uma vida relativamente saudável. Emocionalmente, representa a curva derradeira entre o território mais ameno dos vinte-e-poucos, e a ladeira alucinada até a linha de chegada dos 30.  Sabe quando você era jovem e se recusava a dar um dos adesivos para qualquer um dos seus amigos, porque estava guardando-os para depois? Este é o depois.

Não é o fim, como eu costumava pensar outrora. “O fim” está programado para daqui quatro anos, se eu cruzar aquela linha de chegada solteiro, acima do peso, e ganhando menos do que preciso para sobreviver e garantir meu vinho para as terças-feiras de Masterchef. Esses são os meus objetivos de vida a serem atingidos até os 30. Seria bom estar casado aos 30, e começar a descobrir outros aspectos desta vida como, por exemplo, a sensação de passear pela sessão de utensílios domésticos do mercado e discutir com a esposa sobre quantos kits de jogos americanos nós precisamos para o uso cotidiano e os jantares com amigos aos fins de semana. É clichê, é arcaico, é ridículo, e é o que eu quero.

O casamento, até onde eu sei, é algo demorado de se planejar. Deve ser para isso que o noivado serve. Subtrai-se um ano e meio do tempo restante para o impacto final, e chegamos aos 28 ½. Quanto tempo leva para elevar um relacionamento ao noivado? Meus pais levaram cinco anos; meu melhor amigo levou dois. Se dependesse de mim, eu teria casado aos 14 com a Fulana, durante nosso primeiro ano do ensino médio. Mas ela disse “não”, ficou com vários outros caras, eventualmente engravidou e, dois anos depois, casou com o pai do Enzo. Talvez tenha sido pra melhor, mas enfim...

Estamos falando de mim, sob um grau de maturidade que ainda não atingi, nem fiz por merecê-lo, mas gostaria de aspirá-lo. Um relacionamento de um ano poderia se transformar em noivado. Com o mundo globalizado, as mídias digitais, a desconstrução do Mercosul, a base aliada dividida sobre o Temer... As coisas fluem mais rápido agora. Subtraia mais um ano do tempo restante, e chegamos aos 26 ½. O que significa que, para os fins desejados, eu tenho mais seis meses para conhecer o amor da minha vida, ou aprovar a que tiver a pontuação mais alta no meu processo seletivo.

Valendo.

***

Quem dera fosse tão simples assim. Aos 26, eu aprendi que não existem coisas simples. Só relacionamentos complicados, familiares distantes, idas ao mercado entre o trabalho e a faculdade, e a impressão de segundas vias de boletos, porque a primeira não chegou a tempo pelo correio. Mas no início derradeiro dos meus vinte-e-poucos, decidi que este seria o tempo de cometer o maior número de erros possíveis, incluindo mas não limitados a ir à baladas que eu não queria ir, marcar encontros com expectativas altíssimas, me apaixonar pelas garotas erradas, confiar em pessoas que minha mãe desaprovava, e não me importar em dormir menos de oito horas por noite. E depois de anos de pesquisas em campo, tenho, enfim, alguns resultados a apresentar que me dão o direito de construir algumas definições concretas.*

*Eu queria dizer que agora tenho novas regras, mas a Dua Lipa já possui os direitos autorais sobre isso, eu acho.

Enfim, segue abaixo os meus dez mandamentos:

01. Trabalhe como se não precisasse do dinheiro. Ame como se nunca tivesse se decepcionado antes. Dance como se ninguém estivesse olhando.
02. Nunca vá a um happy hour em meio de semana. Nunca durará só uma “hour”, e o dia seguinte não será “happy”.
03. Nunca dê segundas chances para pessoas que falam mal de você para terceiros. Mantenha os prints como provas documentais para discussões futuras.
04. Nunca sugira um cinema como plano para um primeiro encontro.
05. Não faça joguinhos com seus amigos que ainda insistem em ser seus amigos após o período inicial de seis meses. Os fracos vão arrumar coisa melhor pra fazer. Os fortes merecem que você vá direto ao ponto.
06. Música favorita: “One”, do U2. Cor favorita: verde. Melhor pessoa do mundo: mamãe. Comida favorita: strogonoff. Bebida favorita: depende do objetivo (encher a cara: cerveja; contemplação: vinho; choro: uísque; passar vergonha em público: tequila).
07. Sorria mais. É de graça.
08. Não há vergonha alguma em contar moedas para pagar por algo.
09. Passe tempo com a sua família.
10. Aceite que o mundo não gira ao seu redor. Nem mesmo o seu mundo.

***

Obrigado aos que continuam comigo, por não sucumbirem ao meu pior. Eu não sou uma pessoa fácil, tampouco tenho planos de me tornar uma. É mais provável que eu só piore com o tempo, como meu pai e meu avô antes dele. As melhores pessoas do mundo geralmente são insuportáveis de se ter por perto, mas isso não torna impossível amá-las. Quanto aos que partiram, ou os que por ventura mandei embora... Bom. Segue o baile. Mas acima de tudo, há algo que eu espero e muito desse novo ciclo que se inicia...

Absolutamente nada. 2017 desconstruiu tudo que eu conhecia como certo nesta vida, e me jogou num redemoinho de horários de ônibus e fadiga muscular. O que só pode significar que, de uma vez por todas, não adianta fazer planos. Assim como não adianta deixar as coisas pra depois.

Lembre-se, Igor: este é o depois.

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