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A lei do retorno


Existe um recurso utilizado na escrita de roteiros de séries e novelas, feito especialmente para garantir que o espectador continue prestando atenção à história. É tão antigo quanto o tempo, porém não é nada tão mirabolante – assim como a maioria das coisas e das pessoas, quando você as desconstrói. Apenas crie uma situação problema, deixe os personagens correndo algum grande risco, e deixe subir a palavra “Continua...” na tela. A técnica do “cliffhanger” – ou, traduzido livremente como “à beira do abismo” – é aplicada para prender o público ao futuro dos personagens na tela, prometendo uma reviravolta surpreendente. No entanto, como via de regra, subentende-se que os personagens ficarão bem. É o desenrolar da situação que se mantém como mistério, até o próximo capítulo.

Independente das adversidades, a lei do retorno deve ser mantida.

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A vida, que costuma refletir ou assimilar a arte, tem um recurso parecido. Os meios em ação podem ter vários nomes – depende da crença na qual você se agarra quando está à beira do abismo – mas a essência da técnica é a mesma. Quando coisas ruins acontecem conosco, resultantes de outra pessoa que nos traiu ou nos causou algum mal proposital, é isso que sempre nos dizem. Você já deve ter ouvido falar em ditados como “aqui se faz, aqui se paga” ou “o que o diabo dá, o diabo leva”, ou nas ironias da vida e a crença de que carma é algo mais real do que parece. Mas não passam de variações da lei do retorno: a noção de que o que fazemos de ruim, eventualmente será cobrado de nós. E a cotação é a mesma, em se tratando dos outros que agem sobre nós, sejam lá qual foram seus motivos.

Eu acredito na lei do retorno. Tanto quanto acredito em “cliffhangers”. Sempre que algo ruim acontece, acredito que exista um bom motivo por trás. Só é difícil manter-se fiel a isso o tempo todo, enquanto o mundo à sua volta desmorona. Reencontrar amor entre as ruínas não é tarefa para qualquer um. E saber como socorrer-se quando se está à beira do abismo, também envolve tanta força quanto crença. Se não acreditasse nessas coisas, já teria abandonado a minha própria história há muito tempo. E vocês – meu público – também deixariam de acompanhá-la. Mas ainda estamos todos aqui, e você já sabe porque.

Independente das adversidades, a lei do retorno deve ser mantida. Não necessariamente o retorno maléfico a quem o fez, mas, no mínimo, o nosso retorno pessoal a uma paz de espírito que esteve à beira do abismo. Porque se aqui se faz, aqui se paga, não cabe a você cobrar as contas que os outros ficam devendo ao universo. Só deixe seu saldo em dia e deixe a fila seguir seu fluxo.

Estou escrevendo isso porque estou finalmente pronto para me arriscar a acreditar que 2018 será um bom ano. É a história clichê que todos já ouviram: o mocinho passa por um momento difícil, sofre por um tempo, reflete, age impulsivamente, visita mais bares do que sua economia poderia contemplar, acorda de ressaca um dia e percebe subitamente que, mesmo percorrendo um caminho torto e aparentemente sem fim, ele retornou para casa.

Demorou um tempo considerável para que eu me sentisse normal – ou o meu equivalente a um estado normal – de novo. Mas aqui estamos. Eu voltei.

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Durante os primeiros dias da minha queda, uma amiga comentou comigo sobre como 2018 seria o ano do retorno. Ela usou uma série de fontes astrológicas e cósmicas para me explicar sobre algo que leu em algum lugar, que dizia que todas as coisas ruins da sua vida deveriam partir em 2017, para que pudessem dar lugar à coisas melhores agora. Mesmo diante de um delay desnecessário, e sem averiguar suas fontes com uma pesquisa do Google, eu decidi acreditar. Porque é isso que nos move para o próximo capítulo, no final das contas: saber que ainda há como escrever um novo roteiro de vida para nós, depois de incontáveis problemas narrativos que encontramos pelo caminho. É o que nos leva adiante, e é o que – creio eu - te motiva a ler isso. Eu estou, e sempre estive dedicado demais à minha história para permitir que ela seja perdida em um abismo qualquer.

O que realmente diferencia a vida e a arte, as crenças e recursos literários de ambas, é que enquanto cada capítulo pode encontrar seu respectivo fim, nós só temos um que conta. Por isso é importante tornar cada dia, cada página e cada história, memorável enquanto está sendo escrita. Outra diferença alarmante é que ao contrário das novelas e seriados, que podem determinar o tempo de contrato de um dos atores, um determinado personagem pode reaparecer na nossa vida a qualquer momento. E é aqui que quero deixar clara a exceção interpretativa da lei do retorno: se estiver lendo isso, saiba que não a quero de volta. Não conte com empréstimos meus quando a vida chamar a sua senha.

Independente das adversidades, a lei do retorno deve ser mantida. Exceto para aquelas mensagens de “Oi, sumido!”. O universo é bem claro quanto a ser via de mão única nesse sentido.

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