Eu tenho
minhas dúvidas quanto à vida que eu quero ter um dia. Não sobre o futuro que
imaginei para mim, ou sobre a incorrigível vontade de dividi-lo com quem não
pode mais ser chamada de “o amor da minha vida”. Digo isso, porque esvaziei o
título de significado depois de desperdiçá-lo nas histórias erradas. Mas não é
o que vem ao caso agora. O que me tira mesmo o sono vai além de estar à espera,
à procura ou à deriva de uma pessoa, um lugar ou uma oportunidade. Se a vida
que eu sempre quis ter se tornasse realidade amanhã, eu estaria pronto para
vivê-la?
Bom, provavelmente não sem um Engov antes.
***
É mais do que óbvia a minha insensatez perante o amor. Não porque
não sei amar, ou demonstrar, ou preservar o mundo que construiríamos juntos.
Mas por não saber enxergá-lo, ainda, diante dos meus olhos. E quando me pego
tentando convencê-la de que pode dar certo, em vez de simplesmente sufocar a
minha ansiedade e contemplar a naturalidade da nossa sintonia... Bom, é evidente
que algo está errado. Geralmente, sou eu.
Sobre planos para o futuro, é preciso atribuir planejamento a
eles. Depois de uma certa idade, testes do Buzzfeed sobre como seria o seu
apartamento ideal não são o bastante para que você se sinta maduro, ou um jovem
adulto em ascensão. Você precisa trabalhar, dia após dia, economizar, cotar,
procurar, arquitetar e inspecionar para, somente então, atualizar seu Instagram
com o novo papel de parede da sua sala de estar.
Um papel de parede que, convenhamos, será escolhido por ela, que
sempre implica com o meu gosto para decoração. Com o tempo você aprende também
que realmente “não é sobre ter todas as
pessoas do mundo pra si”. É sobre ter vontade de oferecer todas as coisas
do mundo a ela, e ser presenteado pela reciprocidade do gesto. Mesmo que a
sensação de ser atropelado por um Trem Bala permaneça por um tempo se ela for
embora.
Talvez isso não faça sentido para você, e perdoe-me se não estou
preocupado com isso. Estou de ressaca, e não só do sábado à noite. Estou de
ressaca há anos, sem me recuperar totalmente, com um zumbido constante na
cabeça me atordoando a cada novo dia que chega e passa com uma sensação de que
foi em vão. Por não ter sido contemplado com a vida que eu sempre sonhei, ou
com a pessoa com quem sempre sonhei, ainda.
Sabe aquela sensação de desconstrução do mundo ao seu redor? Quando
você acorda na sua cama pela manhã sem se lembrar de como foi parar lá, e mesmo
assim agradece por estar a salvo, apesar da dor de cabeça? Assimile isso a um
nível emocional, e seja bem vindo ao mundo infinitamente inconstante dos vinte
e poucos anos. Onde nada mais é o que parece, e não há como deixar de sentir
que você está atrasado para a vida que quer ter. Jovem demais para se preocupar
com aposentadoria, e velho demais para descuidar do número de cervejas
registradas na sua comanda. Inquieto, paranóico, e silenciosamente desesperado.
Este era eu.
Por outro lado, essa versão de mim que habitava aqui – comprometido
com a pessoa errada e fazendo planos para a cor dos armários de uma cozinha
planejada – nunca realmente pareceu verossímil para mim. Não era exatamente um
estado de felicidade, mas de quem estava disposto a chegar lá a todo custo.
Clichês e decepções à parte, nunca irei me contentar com a noção de que a
felicidade é algo que simplesmente chega até você. E com base nas conquistas
que tive ao longo desses vinte e poucos anos, quando eu decidi ir atrás do que
acreditava fazer parte da vida que queria ter, ainda parece uma crença mais
razoável. Ainda faz sentido. Ainda faz com que eu me sinta melhor sobre mim e o
mundo ao meu redor.
Talvez seja por isso que eu esteja tentando convencê-la de que
vale a pena. Falando como alguém que recentemente descobriu que ainda está
louco por amor, mesmo depois de todos esses anos, você deveria dar uma chance.
Não se preocupe com o título de “amor da minha vida”, porque eu o desgastei ao
longo do caminho. Você merece um nome melhor, e eu serei seu autor. Eu prometo.
Ainda esperançoso. Ainda à procura. Ainda de ressaca. Este sim, sou eu.
À caminho.
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