Ela era um
amuleto. Levou alguns dias para que eu finalmente entendesse isso, mas faz
sentido agora. Estamos recém sobrevivendo à primeira semana de 2018, e mesmo
sabendo que fazer qualquer tipo de declaração agora não é aconselhável, é algo
que eu preciso fazer. Não pelos outros, e definitivamente não para ela. Por
mim. O calendário não para só porque você não está com coragem de levantar da
cama. E felizmente para mim, essa coragem não desapareceu. Tampouco, a vontade
de escrever a vida afora. Mas se vamos levar 2018 adiante, essas palavras
precisam sair. E é algo que esteve em minha mente durante não só os últimos
primeiros dias desse ano, mas há muito tempo: eu vou ficar bem.
***
Uma das minhas professoras do curso de Jornalismo – talvez a mais
brava de todas – sempre tentou frisar para nós a importância das palavras que
usamos. São armas que podem ser usadas a favor ou contra nós; depende de como
você as escolhe. E talvez por isso mesmo ela fosse tão brava: alguns alunos
simplesmente não sabiam como trabalhar com a matéria prima da profissão que
escolheram. Em vez disso, optam por abrir mão de conjugações, pontuações e
acentuações, para que suas mensagens se tornem cada vez mais instantâneas. Mas
o que é certo, bem feito e digno de um verdadeiro autor, não pode ser feito às
pressas. Exige trabalho, disciplina e paciência. Habilidades que, confesso,
sempre estiveram um pouco fora do meu alcance. Não sou um completo discípulo
das mensagens instantâneas, mas também não sou o mestre soberano do meu
silêncio. Falo muito sem pensar, e escrevo mais ainda sem revisar. Não são feitos
dos quais me orgulho, mas vale refletir sobre quantos erros de ortografia
existiram em qualquer magnum opus
antes dessa chegar ao clamor público.
Em um exemplo paralelo, uma conversa com uma colega de trabalho
dia desses também chamou minha atenção. Um papo leve, sobre viagens para o
exterior e como, digamos, conhecer Dubai na verdade não é algo tão inalcançável
assim. A palavra chave aqui é “planejamento”
– e, por que não?, determinação o suficiente para navegar pelos sites de
compras de passagens aéreas até encontrar uma promoção feita sob medida para o
seu orçamento. Minha amiga disse que tiraram muito sarro dela depois que suas
fotos na Espanha surgiram nas redes sociais. Brincavam com ela, chamando-a de
rica e ostentadora. Pouco sabiam que ela havia planejado a viagem um ano antes,
sob circunstâncias totalmente diferentes das que realmente permearam seu
mochilão pela Europa.
Por que estou te contando isso? Porque são lembranças que me
vieram à mente recentemente. Histórias curiosas que antecederam a história mais
intensa que escrevi – com ela – até um ponto final ser determinado – por ela. E
como é da minha natureza ser questionador ao ponto da obsessão, não vou negar
que o ponto final pareceu mais uma interrogação para mim. Uma que me deixou
suficientemente instigado a descobrir o que estaria por trás dela. Mas quando
ela disse adeus, apenas com palavras, eu as tomei para mim e decidi que
deveriam ser o bastante.
Pode ficar com o seu ponto final, os últimos primeiros dias de
2018 e tudo que veio antes deles também. Eu estou bem.
***
O tempo que levou para que eu finalmente me sentisse confortável o
bastante para escrever, foi proporcional ao que levei para repetir nossa música
até que ela deixasse de ser nossa. Nesse meio tempo, estive focado em uma das
minhas palavras favoritas: resiliência. A capacidade de lidar com situações
adversas sem entrar em um completo surto psicológico. A habilidade de
solucionar problemas e seguir adiante. Uma característica que, caso você siga a
minha história há algum tempo, sabe que não é novidade para mim.
E foi graças à resiliência – e, convenhamos, à minha professora
brava também – que eu acordei pensando sobre o que exatamente viria a ser um
amuleto. Pelo que dizem, trata-se de um objeto capaz de trazer sorte ou
proteção, envolvido em uma superstição que afasta más energias e potenciais
desgraças. E foi aí que eu entendi: é exatamente o que ela representou. Ainda
com base em matéria de amor, mas sobre prevenção. As lembranças dos nossos dias
juntos agora fazem parte da minha história, até o fim dos meus dias. E são elas
que irão me proteger de qualquer outro amor rápido, intenso e avassalador,
recheado de interrogações que só virão à tona quando for tarde demais. Quando
já estiver dizendo por aí que ama demais.
A essa altura eu já deveria saber que amor não é algo que surge da
noite pro dia. Nem por Tinder ou por encontros acidentais em livrarias que
levam a cafezinhos que levam à troca de telefones. Já tivemos essa conversa um
milhão de vezes antes. O amor vem de você primeiro, e só depois te leva para
onde acredita que irá ser feliz. E foi aí que a história da minha amiga me veio
à mente, e toda a sua espera e planejamento para finalmente conseguir chegar ao
destino que ela traçou para si. Não posso ser injusto ao ponto de dizer que foi
uma completa bagunça, porque não foi. Eu planejei sim, mas não dei tempo
suficiente para que os planos pudessem respirar. E só existe um resultado para
viagens alucinantes instantâneas e desorganizadas: você se perde. Ou então,
perde alguém.
A primeira boa notícia é que eu amo a mim mesmo e a minha história
exatamente do jeito que são: inconsequentes às vezes, mas sempre dispostos a
aprender com os erros para escrever o próximo capítulo. Os últimos primeiros
dias de 2018 foram estranhos, e talvez tudo isso seja apenas mais uma maneira
apressada de atribuir significado a algo para facilitar o fôlego que será necessário
pela estrada adiante.
A segunda boa notícia é que a previsão do tempo é de sol. Feliz
ano novo!
Guri você abandonou os quadrinhos. Que maravilha. Adoro seu texto.
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