Eu
sinto muito. Permita-me antecipar o questionamento e
confirmar que sim; isto é para você, que está lendo agora e
pensando que o motivo pelo qual não nos falamos mais é porque
estávamos ocupados demais nos engasgando com as coisas que não
conseguimos dizer um ao outro. Coisas como “eu estava errado” e
“me desculpe”. Caso esteja sentindo a minha falta, e tudo o que
você precisava ouvir de mim era o consenso de que esta distância
também é culpa minha, sinta-se à vontade.
Porque
a verdade é que eu sou mesmo ridiculamente difícil – com ênfase
tanto no ridículo quanto na teimosia. E convenhamos, você há de
concordar que também é assim. Senão o que mais explicaria as fotos
deletadas, as conversas abandonadas pela metade, e o eco que passou a
preencher a presença que costumávamos ter na vida do outro? Eu
posso ser ruim, meu bem – muito ruim – mas você também não é
fácil. E talvez, quem sabe, seja melhor assim. Cada um do seu lado,
vivendo a sua vida, tentando não perder tudo o que aprendemos um com
o outro. Por mais que no fundo a gente saiba que não seríamos o que
somos hoje, nem teríamos tudo o que conquistamos, se por um breve
momento da história nós não tivéssemos vivido juntos. Eu não me
arrependo. Mas também não quero replay.
***
Eu
sempre tive o péssimo hábito de enxergar a vida como uma grande
competição. E talvez essa concepção não esteja totalmente
errada, pois o que mais justificaria os sentimentos de vitória e
perda que sempre oscilam em mim? Mas no nosso caso, enquanto
estávamos juntos, parecia que não havia nada lá fora que fosse
páreo para nós. Éramos imbatíveis, invencíveis, inigualáveis...
até deixarmos de ser. Até nos voltarmos um contra o outro, e que
vencesse o melhor. Cegos pela raiva, inconformados com a injustiça,
e alucinados pelo poder. Mas... Pelo que estávamos brigando? O que
estava em disputa? E até agora eu me pergunto: quem ganhou?
Você
era como eu; incapaz de admitir derrota. Mesmo quando não estava
exatamente claro o que significava ganhar ou perder em um
relacionamento. Em algum momento – aliás, por vários momentos –
parecia que estar certo sobre você era o que mais importava. Até
mais do que nós. Eis o meu egoísmo, a par com a sua intransigência,
lentamente trabalhando para que os momentos mais felizes do mundo que
tivemos juntos, passassem a dar um gosto amargo na boca. Eu me
importava com você. Queria dividir minha vida com você. Queria ser
seu, e que todos soubessem que você era minha. Como foi que nós
chegamos aqui? Eu não suporto mais o som da sua voz, ou a
dissimulação nos seus olhos. Cheios de prepotência, arrogância e
desdém. Agindo com superioridade, só esperando que um dia eu me
desse conta de que na verdade era eu quem estava errado. E que eu
fosse capaz um dia de amadurecer o bastante para pedir o seu perdão.
Ah,
meu bem... Prefiro cortar a minha língua fora, a profanar minhas
palavras com tal confissão. E caso todo o nosso amor vá parar nas
profundezas do inferno, que seja. Nos vemos lá.
***
Ao
menos, era assim que eu me sentia. Com meus dias acinzentados e
noites envenenadas por rancor e vaidade. Olheiras e cansaço
intermináveis, demonstrando o quanto as minhas forças para lutar
estavam chegando ao fim. Até que enfim, o impensável aconteceu. O
dia do meu juízo final finalmente chegou. Eu não aguento mais...
Você estava certa. Era isto que você queria ouvir?
Eu
não me importo mais. Não com isso. Eu quero ser feliz. Ou pelo
menos, quero tentar ser menos miserável. Talvez seja melhor admitir
derrotas, erros, falhas e desvios de percurso, do que lutar tanto
para permanecer estável ou indiferente a algo que costumava
significar tanto para mim. Eu amava você. Você ainda consegue me
ouvir? Eu amava você! E amei até agora. Até não sobrar mais nada.
Bem vinda ao fim.
O
oposto de amor não é o ódio; é a indiferença. Porque o ódio
ainda mexe conosco. Nos mostra o quanto algo ainda nos importamos, e
que mesmo nos nossos piores momentos ainda existe uma chance de
voltarmos ao jeito que éramos antes. Inocentes, gentis,
compreensivos. Felizes. Mas só enquanto eu ainda permitir que você
me mova. E, por Deus, como você me movia! Isto é, até me mover
para longe. Tão longe, por sinal, que eu não me lembro mais daquele
seu olhar. Ou do tom da sua voz. Ou dos motivos que me levaram para o
seu lado em primeiro lugar. Eu não me lembro... E eu não me
importo.
Você
venceu; seja lá o que isto signifique. Valeu a pena?
*Escrito
em 4 de setembro de 2016.
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