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Os momentos definitivos


Eu nunca tive medo de passar o resto da minha vida sozinho. Mas o medo que a gente sente aos 17 reverbera bem mais fundo dez anos depois. Aos 17, eu tinha uma vida inteira pela frente. Pessoas que ainda iria conhecer, relacionamentos nos quais acabaria por me envolver, lugares que viria a conhecer, e experiências que invariavelmente juntaria, fossem elas boas ou ruins. Aos 17, a vida te promete tudo. Dez anos depois, você descobre que “tudo” é algo mais que relativo – é inalcançável. Sempre fui, e arrisco dizer que sempre serei alguém faltante. E para quem está perpetuamente à procura de algo mais, “tudo” sempre será menos que o suficiente. 

Por isso, aos 17, eu não tinha medo de passar o resto da minha vida sozinho. O que eu temia mesmo era passar o resto da minha vida com a pessoa errada. Por isso a cada nova paixão, um mundo se abria diante dos meus olhos. Um mundo de possibilidades, sonhos e felicidade – tudo tão abrangente e abstrato na mesma proporção, que eu sequer sabia o que eu faria se a garota por quem eu passava noites em claro, e dias em nervosismo só se saber que ela em breve passaria por mim na sala de aula, eventualmente percebesse que eu existia. 

A maneira mais segura de ser feliz é esconder a chave do seu coração do bolso de trás de alguém que sequer reparou em toda a sua desorientação só por vê-la sorrir. Se você precisa dela para ser feliz, e ela não é recíproca aos seus sentimentos, o resultado é a mais segura de todas as zonas de conforto. 

Isso muda com o passar de dez anos. Você não só perde o medo das pessoas erradas, como passa a se esconder atrás delas. A felicidade continua guardada no bolso de trás daquela garota que, para você, parece tão especial na sua imperfeição e falta de equilíbrio ao sequer levantar da cadeira. Mas ela não é sua. Quem pode ser sua, no entanto, está a um WhatsApp de distância da sua cama. 

Sexo hoje, amor amanhã. Essa é a diferença que dez anos fazem. E se você pensa assim agora, no auge da sua capacidade de sonhar e esperar pelo melhor, sinto em dizer que as coisas não irão melhorar. As pessoas vão te decepcionar, te derrubar, te quebrar e te diminuir. Cada promessa quebrada, cada traição descoberta, cada “não” que tomou o lugar de um “sim”, faz você chegar em casa cansado ao fim de mais um longo, exaustivo dia. Talvez você só precise mesmo de um corpo na sua cama para te fazer companhia. Para te distrair do fato de que está mesmo sozinho, e que é assim que as coisas possam ser daqui pra frente.

É assim que, “de repente”, a pessoa errada não parece mais tão ruim. O “pode ser” que toma o lugar de “é você!”. As aspas que sobrepõem as aspirações.

Felizmente eu descobri que ainda tenho medo de ficar com a pessoa errada. O que justificam os últimos dez anos de relacionamentos disfuncionais, neuroses infundadas, discussões insensatas e momentos definitivos como este. Eu não quero mais uma “pode ser” na minha cama, e não quero ser um “pode ser” na sua.

É saindo de um período infértil, um relacionamento infiel, um ano incerto e uma vida incansável, que você aprende de uma vez por todas a que veio a este mundo. Modéstia à parte, posso ser sim o amor da sua cama. Mas acho que sairíamos muito mais satisfeitos dela, se admitir que posso ser o amor da sua vida.

Vocês não fazem ideia de como me sinto bem por conseguir usar essa expressão de novo. Algo que, ironicamente, meu eu de 17 anos usava com mais liberdade do que sabia lidar. Algumas coisas mudam com o tempo, mas não quem nós realmente somos. Dez anos atrás, eu estava à procura de dizer: “é você!”. E agora eu estou de volta – só esperando você dizer que “sou eu”.

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