Depois de uma péssima primeira experiência ao dividir
uma casa com alguém que mal conhecia, meu primo tomou uma decisão importante:
iria morar sozinho. Mesmo sem ter toda a aparelhagem doméstica necessária
ainda, ou um lugar em mente para ir. Não pensou sequer em problemas infames
como eletrônicos que só funcionam em 220v, se haveria luz do sol para secar a
roupa do seu varal interno, ou se aquela determinada área é coberta por um
plano de internet. Mesmo assim ele foi adiante, com a sorte de encontrar um apartamento
no primeiro andar, somada à sorte de ter poucos móveis para carregar escada
acima. Recém mudado, ele espera pelo melhor. Claro que haverá imprevistos - na
forma de filtros de linha espalhados pela casa para manter tudo funcionando -
mas ele está otimista. Não apenas porque ele se comprometeu a isso, mas por
esta ser a única direção a seguir: adiante.
Eu sei bem como é. Dez anos atrás, foi a minha vez.
Sair de casa aos 17 não foi minha primeira escolha. Mas com o fim do ensino médio se aproximando, parecia que algo precisava ser feito. Algo diferente. Algo totalmente contrário à minha primeira escolha, real oficial: continuar em Londrina, cursando Administração. Um projeto que teve vida curta em virtude ao único "não" que minha mãe ressoou acerca da minha vida profissional. "Não escolha um caminho fácil, procure o que te faz feliz", ela insistiu. E para quem mal havia terminado de escrever os discursos de formatura para seus colegas menos articulados, a resposta parecia óbvia: eu quero escrever. Sobre mim, sobre as coisas, sobre os momentos. E, claro, quero ganhar dinheiro com isso, porque ninguém vive de poesia. Mas depois de uma vida toda construída no mesmo entorno, dar uma pitada a mais de dificuldade ao sonho parecia coerente com a minha arrogância adolescente: vou estudar em outra cidade. Sob a lógica infame, infantil e Igor-cêntrica que sempre me moveu: há um mundo enorme lá fora, bem maior do que o meu quintal, e eu vou conquistá-lo. Quem dera eu estivesse emprestando um caráter épico à minha jornada de herói, mas não: eu era mesmo tão sem noção.
Eventualmente, isso se mostrou como uma qualidade. Ser sonhador e audacioso aos 17 me permitiu mais experiências do que eu poderia ter caso optasse por continuar morando em Londrina, cursando Administração, sem jamais descobrir o mundo de possibilidades, vivências e - convenhamos - frustrações que, juntas, compõem o Oeste do Paraná. E as estatísticas não me deixam mentir: seis anos em Cascavel, quatro anos em Foz do Iguaçu, próximo de integrar dois diplomas ao meu currículo, com um "amor da minha vida" real, oficial. Foram anos de trabalho duro, metros de extensão para deixar meus eletrodomésticos funcionando, sete mudanças de apartamentos, idas e vindas de rostos conhecidos, despedidas de outros cuja intimidade se perdeu pelo caminho, e cá estamos: escrevendo, ainda, e o melhor: pagando minhas contas com isso.
É interessante parar e perceber o quanto você foi capaz de mudar em dez anos. Especialmente quando a história para a qual você arriscou tudo que conhecia para contar finalmente te leva a um final feliz. Se eu fosse adivinhar o que seria de mim quando saí de casa, certamente erraria feio. Essa é a graça no final das contas: entender que a jornada só vale mesmo a pena pelo que acontece ao longo do caminho. Se soubéssemos o que aconteceria conosco amanhã, nem sairíamos da cama. Evitar os términos, os descaminhos, as inseguranças, os medos, as lágrimas e as músicas tristes, seria como evitar quem você precisava se tornar hoje. Tudo acontece por um motivo, mesmo que nada faça sentido agora. Por isso só resta uma direção a seguir: adiante.
Essa história, que deu origem a esse blog e a todas as outras
crônicas que passaram por ele, completa dez anos. Se sequer houve um desafio
para conferir quanto tempo eu levaria para desistir disso, agora é oficial:
desafio completo. Eu ganhei. E não mudaria nada.
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