Acho que a coisa mais importante a ser considerada de toda experiência é a iniciativa por trás dela. O que separa a felicidade da contemplação é a equação simples, embora fundamental, do clichê “tentativa e erro”. Não necessariamente envolvendo o movimento constrangedor de “o não eu já tenho” e seguir em busca da humilhação. Às vezes, ao chamar uma garota pra sair, ela diga “sim”. Ou, ao submeter-se a um processo seletivo, há a chance de que o próximo assalariado do Brasil seja você. Mais vezes do que eu gostaria de admitir, fui adepto ao extremo “ou não”. As coisas podem dar certo, ou não. Se podem não dar certo, não vale a pena tentar. Seja bem vinda, inércia.
Pra quem não lembra, inércia é um conceito da Física moderna, referente ao movimento – ou melhor, falta dele – sob um determinado objeto. Outro clichê facilmente adaptável para a vida íntima: “um corpo em repouso tende a continuar em repouso”. É a mesma sensação de conseguir resolver mil e um problemas em um só dia, diante da necessidade de vencer prazos de vencimento de boletos, entre outros dividendos similares, ao contrário da preguiça inerente a um domingo qualquer. Quando só de pensar na energia exigida para ir à cozinha para pegar um copo d’água parece não valer tão apena, acabando com a campanha logo em tese.
Mas como é de costume, existem sempre dois jeitos de se interpretar as coisas. Há o otimista e o pessimista. O “o não eu já tenho” e o “pode dar certo”. Assim como aquele domingo em particular, não foi um domingo qualquer. Pelo contrário: foi um domingo de muita ansiedade, burocracia e esperança. Compilados na forma de candidatos nervosos, organizados em salas distintas, cedidas por um campus universitário particular no Oeste do Estado.
Entre todas as coisas que precisei aprender para chegar àquela prova, e tudo que levarei de experiência dela, o mais irônico foi isso: em matéria de conhecimentos gerais, nem sempre o conceito que você conhece e toma por certo, é o que a vida irá exigir. Por exemplo, o conceito de inércia que a prova pedia não se tratava de uma pessoa física, mas jurídica. O que, pensando em retrospectiva, combina melhor mesmo com um concurso público.
No Direito, o princípio da inércia resume-se na iniciativa de um indivíduo em dar início a um processo judiciário. Caso não haja sua intervenção, a máquina judiciária não irá se mover. Um corpo em repouso tende a continuar em repouso – neste caso, o corpo do Estado, não o seu, nem o meu.
Eu não levei gabarito embora comigo, nem sequer o comprovante do ensalamento. Assim como as minhas noções de conhecimentos gerais, complementares e específicos, deixei para trás apenas a minha melhor tentativa. Isto é: a minha primeira tentativa. Para quem sempre associou a ideia de serviço público como um abandono de sonhos individuais, acabou que eu nunca havia chego tão perto dos meus até então. E eu vi que eram bons.
Talvez eu não seja aprovado, ou sequer classificado. Mas ninguém nunca poderá dizer que eu não me movi, mesmo sabendo que “o não” eu já tinha. Às vezes o melhor acerto é mesmo uma mudança de estado – não físico, mas de espírito.
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