Eu queria ser mais humilde. Entre todos os defeitos, apesar das qualidades que eles invariavelmente sustentam, ser humilde é meu ponto fraco. Em seu lugar, ecoam os absurdos que eu digo sem pensar, as atrocidades que escrevo apenas pelo impacto literário, e as decepções que parecem não se curar. Tudo isso poderia ser evitado, remendado ou no mínimo editado, se eu fosse mais cauteloso com o mundo ao meu redor. Mas eu não sou – ele, muito menos – e cá estamos. Ambos inegavelmente esgotados.
Por isso eu vou dar um tempo das manutenções de alguns dos meus mostruários digitais. Só os que parecem servir apenas para manter vivas as competições imaginárias nas quais eu me meto. E como se não fosse o bastante, saio com a sensação de que perdi, todas as vezes.
Certa vez escrevi sobre meu medo de ser burro. Ao contrário de medos mais verossímeis em sua irracionalidade, como traumas de infância ou desilusões amorosas, minha fobia sobre ser insuficiente para um mercado de trabalho está, por sua vez, diretamente associada à minha ansiosa e constante necessidade de competir com tudo e com todos paralelos a ele.
Em vez de empregar meu tempo para algo útil como... bom, definir de uma vez por todas o que eu quero ser quando crescer – emocionalmente a essa altura, visto que comprovamos o quão gordo já estou. Por isso vou superar as expectativas das minhas neuroses, dando um tempo da vida digital e, ao mesmo tempo, acho que irei aquietá-las ao mesmo tempo com isso.
Claro que não abrirei mão de tudo. Se não puder desabafar comigo mesmo por aqui, ou tirar inspiração dos memes mais comentados do dia, graças ao Twitter, não sei o que restaria para me dar forças para sair da cama pela manhã e continuar a luta – ora contra mim mesmo, ora contra o mundo.
Eu fiz uma promessa a mim mesmo, sobre não deixar que o mundo vencesse. Em algum lugar da minha bagunça, ainda há romantismo a ser salvo. Talvez ele só esteja sortido em meio às barras de rolagem infinitas nas quais me prendo, que me distraem enquanto a vida passa ou outra pessoa tenta ter uma conversa comigo.
Poderia listar as distrações que se acumulam na minha cabeça ao longo do dia, entre memes e mediocridades, mas não vale a pena. Einstein foi preciso ao dizer o quão insano é repetir os mesmos padrões e esperar que resultados diferentes surtam deles eventualmente. Enquanto eu não souber exatamente o que fazer, não parece haver nenhum mal em investir no corte dos estímulos supérfluos.
Voltando aos clichês já consolidados por Einstein, um aluno brilhante apesar dos entreveros iniciais com a álgebra, eu sei que há algo a ser refinado nesse caos intransigente que chamo de intelecto. Ele só precisa ser realinhado, como uma bússola ou uma equipe de trabalho fatigada, para voltar a produzir rumo à direção certa.
Quem realmente se importar comigo, a ponto de visitar esse pequeno espaço sem avisos de “POST NOVO” em stories, e de se lembrar do meu aniversário sem notificações azuladas, são pessoas às quais eu definitivamente preciso me atentar mais. Elas só não vem antes de mim, evidentemente, que preciso de assistência urgente para acordar desse coma pessimista.
Há mais coisas entre o céu e a Terra, Igor, do que pode carregar vosso infame smartphone. Como ser aprovado em um concurso público, apresentar um TCC e pendurar mais um diploma na parede. Pra começar...
Igor adoro seus textos. Acompanho há anos e anos. De tempos em tempos entro aqui espontaneamente pra ver o que há de novo ou reler algum texto que gosto. Sempre quando passo um tempo sem visitar fico com medo de você ter excluido o site, porque hoje em dia são raras as pessoas que dão continuidade em blogs, já que também são poucas as que se interessam. Mas por favor continue, realmente adoro tudo que você escreve! Abraço!
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