Um dragão intergaláctico com três cabeças, capaz de voar e soltar raios lazer pelas bocas, lutando contra um lagarto radioativo pré-histórico gigante, costumava significar diversão garantida pra mim. Mas durante a sessão de Godzilla 2, eu não pude deixar de me sentir entediado – apesar das explosões e da extinção iminente da raça humana. Por mais absurdo que pareça, em meio à proposta do longa, tudo parecia muito... Fictício.
Não porque existem animais e seres de outro mundo, de proporções imensas, hibernando por aí – e não, não vamos nem aderir a um “ou será que tem?” aqui. Talvez eu estivesse mais ocupado pensando em outros tipos de ameaça: os monstros que habitam entre nós.
Às vezes, eles invadem o trânsito, batem no seu carro e fogem ao som de risadas frenéticas. Vez por outra, disfarçam-se de amigos para roubar suas ideias e passa-las como deles. Ainda, há aqueles implantados em nossa própria família, cuja única razão para existir envolve reforçar o quão insuficiente você é. É uma espécie distinta e, infelizmente, longe de estar em extinção.
Um dos motivos pelos quais eu costumava ser tão fascinado pelos filmes de monstros – estrelando gorilas colossais, dinossauros geneticamente modificados e, claro, lagartos radioativos – era pela grande distração criada por eles. Por mais problemática que a vida ao meu redor parecesse, tudo poderia ser colocado em pausa – por cerca de 90 minutos – enquanto um mundo ficcional é submetido a um rastro de destruição. Tirando completamente o foco das minhas percepções de que o meu mundo às vezes parece estar à beira do colapso.
Mas monstros, no estilo dos protagonistas dos meus filmes favoritos, não existem. O que existem, no entanto, são pessoas monstruosas. Sorrateiras, maquiavélicas e perigosas, à espreita num mundo cujas regras parecem não importar para elas. Amigos impostores, parentes indiferentes, motoristas irresponsáveis. É isso que me assusta.
Claro, não sejamos hipócritas a ponto de nos escondermos no absolutismo Sartreano de que “o inferno são os outros”. São sim, sem dúvida, mas nem sempre. Se os filmes emprestam algo da vida em sua pré-produção, e sua exibição invariavelmente reflete algo sobre nós, o público, então as verdades vão além dos outros. Monstros são, por natureza, criados por outros monstros. E você, assim como eu, já destruiu o mundo de outra pessoa, num piscar de olhos.
Enfim, é nisso que dá baixar filmes piratas com baixa qualidade. Vão-se os efeitos visuais de alta resolução, ficam as indagações filosóficas.
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